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Intervenção de Carlos da Silva Costa no Grande Encontro Banca do Futuro

Por Publicações25.09.2018 15:51
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Intervenção de Carlos da Silva Costa no Grande Encontro Banca do Futuro
Por   |  25.09.2018 15:51
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Bom dia,

É para mim um grande prazer participar neste encontro dedicado à Banca do Futuro.

O fenómeno da digitalização nas economias e nas sociedades está a alterar, de forma irreversível, os comportamentos e as expetativas dos agentes económicos em vários contextos. O sistema financeiro não é exceção.

Tendo presentes a permanente evolução tecnológica, a mutação dos sistemas de pagamentos e a discussão sobre o futuro do dinheiro, importa discutir o que será o futuro da banca para se identificarem antecipadamente potenciais riscos e atuar sobre os mesmos no sentido de os superar ou mitigar.

Procurarei, assim, nesta minha intervenção, identificar alguns dos desafios com que nos confrontamos.

Os desafios que se colocam na era digital

Em face do desenvolvimento tecnológico exponencial, começo por deixar uma pergunta a todos na audiência: como anteveem a atividade bancária daqui a 10 anos, a 5 ou mesmo a 2 anos?

A crise financeira de 2007 e desenvolvimentos subsequentes puseram em causa os níveis elevados de confiança e de reputação de que beneficiava o setor bancário. Há mesmo quem advogue que as marcas bancárias sofrem hoje de uma crise existencial, num contexto em que cada vez mais as marcas capazes de criar empatia com os consumidores são os grandes ícones tecnológicos. (ii)

Atualmente, e para termos um ponto de comparação, a valorização da Apple no mercado acionista quase ultrapassa a valorização dos 48 maiores bancos europeus,(iii)ao mesmo tempo que empresas FinTech atraem rondas de investimento de dimensão cada vez maior, com valorizações que começam a ultrapassar os milhares de milhões de euros. (iv)

Neste contexto há algumas questões que requerem reflexão:

  • (i) Estarão os bancos condenados a uma redução progressiva da sua dimensão e do seu valor acrescentado, tornando-se backoffices, ou poderão ser atores no mercado global na era digital?
  • (ii) Serão os bancos capazes de antecipar as necessidades dos consumidores?
  • (iii) E como será o ecossistema em que os diversos agentes irão interagir?

É expectável que a disponibilidade de grandes quantidades de dados (big data) e a utilização destes dados através do recurso a inteligência artificial se tornem centrais ao ecossistema digital, tanto financeiro como não financeiro, de um cliente no futuro.

Ao invés de oferecer uma perspetiva de espelho retrovisor, o ecossistema financeiro digital fornecerá ao consumidor uma visão prospetiva, um GPS da sua vida financeira no futuro.

A pressão para reduzir custos e o impulso para a simplificação criarão um novo paradigma de organização em que será comum os bancos dependerem de terceiros para infraestruturas e talentos não essenciais.

Os bancos ficarão assim cada vez mais interligados através de uma rede complexa de fornecedores e terceiros como sejam os serviços de informação sobre contas e os serviços de iniciação de pagamentos introduzidos pela nova Diretiva de Serviços de Pagamento (DSP2). (v)

Serão oferecidos aos clientes, em tempo real, produtos segmentados à medida das suas necessidades

  • quer ao nível do retalho, através da promoção de produtos de crédito ou poupança ajustados às preferências dos financiados ou dos aforradores (robo-advice),
  • quer ao nível de gestão de património (wealth management). (vi)

Ao mesmo tempo, as instituições financeiras serão capazes de melhorar a avaliação do perfil de risco dos seus clientes através de uma visão precisa e atualizada da posição financeira destes, com a utilização em larga escala de modelos de credit scoring.

Investigação recente mostra que simples variáveis da pegada digital têm um poder preditivo que pode igualar, ou por vezes ultrapassar, as tradicionais avaliações de credit bureaus.(vii) Tal pode representar uma oportunidade para aumentar a inclusão financeira nos países em desenvolvimento, bem como expandir significativamente a base de clientes. O investimento de empresas como a Google na Índia através da expansão do Google Pay é um exemplo disso. (viii)

Por outro lado, o maior uso de informação pessoal, incluindo a potencial venda de dados agregados anonimizados, ao permitir a discriminação perfeita dos consumidores, poderá colocar em causa a privacidade dos consumidores, confrontando a sociedade com diversas questões relacionadas com a literacia financeiro-tecnológica, a cibersegurança e outras questões mais vastas de cariz filosófico. Está a sociedade disposta a partilhar todos os pormenores da sua vida financeira sujeitando-se, em casos extremos, a potenciais manipulações?

Recentemente, casos como os que envolveram o Facebook e a Cambridge Analytica, sensibilizaram a sociedade para os riscos associados ao uso por terceiros de informação partilhada na internet. Pode este caso ser entendido como um repto a que a sociedade estabeleça um limite de tolerância?

Conseguimos imaginar-nos no futuro a recorrer a um banco através de aplicativos (apps) tão obsessivamente quanto verificamos as redes sociais, ou já o fazemos hoje? E quais as implicações disso?

Para os bancos incumbentes este cenário coloca diversos desafios, mas constitui também uma oportunidade. Diversos são já os exemplos de bancos que atualmente investem, cooperam e desenvolvem de raiz FinTechs, não as vendo como concorrentes mas sim como instituições complementares ou parceiras.

Este tipo de investimento permite a estes bancos posicionar-se estrategicamente para lidar com a expansão dos grandes gigantes digitais – comumente conhecidos como GAFAA (Google, Apple, Facebook, Amazon e Alibaba) – no domínio dos serviços financeiros.

As extensas bases de dados dos grandes gigantes digitais, aliadas a uma assinalável capacidade analítica e de processamento de dados, constituem fatores competitivos muito relevantes face aos incumbentes.

Embora os bancos tenham a seu favor o (re)conhecimento do público e a capacidade fiduciária acumulada, as suas bases de dados são limitadas geograficamente por comparação com as das empresas tecnológicas à escala global e assentam em sistemas legacy pesados, que se caracterizam pela pouca agilidade para tratar grandes quantidades de informação em tempo quase real.

O modelo de negócio bancário como o conhecemos sofrerá profundas alterações.

A conceção, o custo de produção e a margem de produtos financeiros destinados ao mass market vai requerer escala para tornar possível uma segmentação fina do mercado, diversificar o risco e diluir o custo tecnológico, ficando cada vez mais dependente da oferta dos grandes players.

Os bancos locais sem capacidade tecnológica e escala tenderão, assim, a trabalhar:

  • (i) como redes complementares de produtos financeiros num modelo de distribuição tipo de ‘marca branca’, recolhendo e aplicando os fundos de clientes;
  • (ii) e como redes de financiamento de empresas de dimensão pequena que requerem uma relação de proximidade na avaliação do risco.

À medida que grandes players totalmente digitais entram no mercado, e garantem licenças para operar em livre prestação de serviços, começa-se a questionar até quando será necessária uma tão vasta rede de balcões como aquela que ainda caracteriza os sistemas bancários de vários países Europeus:

  • (i) Serão os tracionais balcões totalmente abolidos, ou terão os bancos de reinventar a experiência do cliente?
  • (ii) Irão os bancos procurar inspiração em cafés, lojas da Apple ou outros para redesenhar o conceito dos balcões por forma a tornar mais agradável a experiência de ir ao banco?
  • (iii) Até onde poderão os bancos ir sem perder a confiança e credibilidade que são essenciais na relação com o cliente?

Do ponto de vista de risco, ainda não existem estudos empíricos suficientes para aferir quais as implicações da digitalização do sector bancário.

Há quem aponte para a existência de menor volatilidade, mas também para um aumento do risco sistémico devido ao maior uso de inteligência artificial,(ix) enquanto outros sustentam que o uso das tecnologias tenderá a provocar uma resposta mais rápida e generalizada a indicadores de mercado, resultando numa maior volatilidade e prociclicalidade(x).

O aumento do risco operacional associado à cada vez maior dependência de terceiros é também referido, podendo este assumir um carácter sistémico na medida em que diversas entidades podem estar dependentes de um mesmo fornecedor ou infraestrutura. (xi)

Contudo, o risco mais premente é o de ciberataques, tema de importância à escala global, atualmente maioritariamente associado a sistemas de pagamentos.(xii)

Além disso, a extensão da cobertura geográfica promovida pela digitalização e a interação entre os diferentes players vai colocar novos desafios no que toca à salvaguarda da estabilidade financeira que importará acautelar.

A nova arquitetura do sistema financeiro e os novos modelos de negócio obrigam a uma resposta multidisciplinar dos bancos centrais e reguladores, exigem novas abordagens, recursos e competências e colaboração entre países, de forma a maximizar as oportunidades e a minimizar os riscos para a sociedade.

É muito importante que as autoridades competentes não interrompam a dinâmica em curso, mas a enquadrem e assegurem, nomeadamente:

  • (i) a neutralidade da regulação,
  • (ii) o tratamento justo e equilibrado entre incumbentes e novos participantes, bem como entre jurisdições,
  • (iii) a identificação de novos riscos e desafios colocados e a adoção de iniciativas regulatórias e de supervisão adequadas,
  • (iv) e uma atuação coordenada entre reguladores e supervisores.

Estes desafios são ainda mais prementes num contexto de rápido desenvolvimento de inteligência artificial. (xiii)

Por outro lado, a prática de supervisão deverá dotar-se de novas ferramentas, por exemplo associadas ao uso de inteligência artificial, para acelerar a deteção e intervenção (vulgo SupTech) (xiv) num contexto de permanente expansão da utilização de inovação tecnológica aplicada à regulação e compliance bancária (denominada de RegTech).

Gostaria, ainda, de dedicar algum tempo ao tema das criptomoedas e à moeda digital de banco central.

Muito se tem dito sobre o surgimento das criptomoedas e as promessas que as mesmas comportam, contudo a realidade tem mostrado a existência de vários riscos que importa ter presentes. (xv)

O mais promissor das criptomoedas parecer ser a aplicação da tecnologia subjacente (distributed ledger technology) noutras aplicações, como a simplificação de processos administrativos na liquidação de transações financeiras. (xvi)

Já a criação de uma moeda digital de banco central constitui uma inovação cujas implicações só agora começam a ser objeto de avaliação, nomeadamente do ponto de vista da transmissão da política monetária. (xvii) E muito embora o Banco Central Europeu não planeie a emissão de uma moeda do tipo digital,(xviii) esta discussão começa já a ter lugar em outras geografias não tão afastadas de nós como a Suécia. (xix)

Conclusão

Concluiria com algumas notas finais.

Como resultou de forma muito clara da sessão de hoje, os desafios colocados à banca pelo digital são muitos, variados, relevantes e colocam-se já hoje e não num futuro distante. Para tal, é necessário que os bancos ajam mais e reajam menos, reinventando o seu modelo de negócio.

Contudo, para os bancos europeus, e muito particularmente para a banca portuguesa, o digital não é o único grande desafio imediato. Para além de temas que têm sido amplamente debatidos e que hoje não vou abordar – como sejam a gestão dos ativos não produtivos em balanço e o cumprimento de requisitos regulatórios muito mais exigentes (designadamente em sede de MREL) – também o desaparecimento da fragmentação no mercado financeiro europeu comporta um conjunto de desafios que não podemos ignorar.

O debate europeu atual centra-se na maior harmonização de regras através da remoção de opções e discricionariedade nacional que ainda subsiste, bem como no recurso a Regulamentos Comunitários de aplicação direta em vez de Diretivas que requerem transposição nacional.

Tal harmonização é vista como necessária à integração financeira transfronteiriça, potenciadora de maior partilha de risco no espaço europeu. A concomitante aceleração de movimentos de concentração bancária transfronteiriça será neste contexto uma realidade a prazo.

Esse processo de concentração será tão mais rápido quanto menos preparados estiverem os bancos para concorrer no espaço europeu.

Ao nível nacional, importará avaliar quais as necessidades de investimento e onde apostar para concorrer num mercado em que a delimitação da fronteira nacional é cada vez menos relevante, tendo como pano de fundo a discussão sobre a localização dos centros de decisão.

Muito obrigado a todos.

Intervenção de Carlos da Silva Costa no Grande Encontro Banca do Futuro
 
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