1. A última semana mostrou descidas nas yields a 10 anos de Alemanha e EUA (novamente abaixo 0,5% e 3%, respetivamente), traduzindo (1) receios com o ciclo económico (após a divulgação da leitura preliminar de maio na área do euro para os índices PMI da IHS Markit), (2) riscos de natureza política (Itália) ou geopolítica (Donald Trump considerou não ser apropriado avançar para o encontro com o líder da Coreia do Norte que era esperado para junho), e (3) moderação das expectativas quanto à normalização da política monetária (bem visível no que que refere ao Banco Central Europeu, traduzindo os sinais de abrandamento na economia da região e a incerteza vinda de Itália).
2. Itália voltou a estar no centro das atenções. O spread nos 10 anos face à Alemanha ultrapassou os 190 pontos de base, aproximando-se dos valores observados no 1º semestre de 2017 quando decorreram as eleições presidenciais em França. Poder-se-á dizer que o efeito contágio a Portugal e Espanha foi, até ao momento, limitado (mas, mesmo assim, bem visível, por exemplo na emissão subordinada do BCP (LS:BCP) com maturidade em dez/27). De qualquer forma, para ambos os países, a yield a 10 anos encontra-se acima dos mínimos de março/abril, refletindo uma subida nos spreads face à Alemanha, aliás em linha com o aumento de spreads observados noutros mercados como o dos corporates (iTraxx Xover) ou da dívida soberana em dólares de mercados emergente (EMBI) observado nos últimos meses. Por outro lado, e tendo em conta a provável natureza sistémica dos spreads de Itália, novas subidas poderão acarretar riscos acrescidos em termos de efeito contágio para Portugal e Espanha. Das medidas que constam do programa de governo de 5 Stelle / Lega poderá resultar um impacto positivo (ainda que temporário) para o crescimento da economia do país. Mais do que a evolução dos custos de financiamento do governo de Itália, parecem estar em causa as perspetivas para a evolução da dívida pública ao longo dos próximos anos, principalmente num momento em que temos sinais moderação no ritmo de expansão da economia da área do euro e um ciclo económico já bastante longo nos EUA.
3. O calendário económico da próxima semana encontra-se bastante preenchido. Nos EUA, a nossa atenção estará na leitura de abril do deflator das despesas de consumo privado (dia 31 de maio), no relatório de emprego de maio e no valor para o mesmo mês do índice ISM para a indústria (ambos no dia 1 de junho). Todos estes dados poderão ser interessantes para a reunião dos dias 12 e 13 de junho do Comité de Política Monetária da Reserva Federal dos EUA. Na área do euro, e para além da leitura de maio para o indicador de confiança ESI da Comissão Europeia, o destaque vai para o valor preliminar para o mesmo mês do índice harmonizado de preços no consumo (dia 31 de maio). Após a fraca leitura de abril (+0,7% em termos homólogos, depois de excluir alimentação e energia), o consenso espera uma recuperação, com a taxa total a beneficiar também do efeito ao nível da componente da energia, num momento em que (como referido anteriormente), a yield das obrigações da Alemanha a 10 anos se encontra abaixo de 0,5%. Também em Portugal a semana será bastante preenchida, sendo que o INE divulga na quarta-feira as Contas Nacionais Trimestrais referentes ao 1º trimestre de 2018.
Para mais detalhes ver, por favor, o PDF em anexo.