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O que aprendemos com Warren Buffett e a Berkshire em 2021

Publicado 06.05.2021, 10:53
Atualizado 09.07.2023, 11:32

A Conferência Anual da Berkshire Hathaway ocorreu no primeiro sábado de maio.

Neste evento, que é já considerado o palco dos Investidores em Valor, aprendemos sempre imenso com Warren Buffett e Charlie Munger. Ambos com mais de 90 anos, são autênticas lendas do investimento e têm sempre imensas lições a partilhar connosco.

De erros e aprendizagens com a compra e venda de ações em 2020, passando por bitcoins a SPACs, trago-te neste artigo um manancial de lições dos maiores investidores do mundo.

Foram mais de 4 horas de excelente conteúdo passado por estes super-investidores!

Tivemos na mesa:

· Warren Buffett

· Charlie Munger

· AJit Jain

· Greg Abel

Quatro homens de negócios extraordinários e com enorme sucesso em investimento.

São décadas de investimento partilhadas generosamente connosco!

Organizei a informação em 8 pontos, para facilitar a tua leitura.

·  O que é a Conferência Anual da Berkshire Hathaway

·  Uma aula de História

·  Recompra de ações: bom ou mau?

·  Investimentos sustentáveis, alterações climáticas e diversidade empresarial

·  Sucessão de trono

·  Impostos e Inflação

·  Compra e venda de ações (é nesta parte que se aprende mais e não vais querer perder)

·  Aprendizagem contínua

1. Introdução: o que é a Conferência Anual da Berkshire Hathaway?

A Berkshire Hathaway é uma das maiores empresas do mundo, valendo atualmente mais de 500 biliões de dólares em Bolsa. Detém negócios em vários setores, que vão da energia aos seguros, passando pela produção bens e serviços de utilidade pública, restauração, imobiliário, distribuição, entre outros. Detém ainda um portefólio diversificado de participações noutros negócios cotados em bolsa.

Já a Conferência Anual da Berkshire Hathaway é o evento mais aguardado pelos grandes investidores todos os anos, pois é uma oportunidade de aprender com os melhores do mundo: Warren Buffett e Charlie Munger. Costuma reunir perto de 18.000 investidores que vêm dos quatro cantos do mundo para ouvir estes dois super-investidores. Nos últimos dois anos foi diferente: sem multidões reunidas e com a transmissão do evento a ter de acontecer exclusivamente via online.

2. Uma aula de História…

Warren começou o dia por nos presentear com uma lição de História económica superimportante para quem queira investir em ações no longo prazo: nenhuma empresa dura para sempre e é impossível saber qual vai ser líder daqui a 30 anos.

Mostrou-nos as 20 maiores empresas do mundo, medidas pela sua capitalização bolsita. Destas, 13 são americanas (Apple (NASDAQ:AAPL), Microsoft (NASDAQ:MSFT), Amazon (NASDAQ:AMZN), Alphabet (NASDAQ:GOOGL), Facebook (NASDAQ:FB), Tesla (NASDAQ:TSLA), Berkshire Hathaway (NYSE:BRKa), VISA (NS:VISA), JP Morgan (NYSE:JPM), Johnson & Johnson (NYSE:JNJ), Walmart (NYSE:WMT), Mastercard (NYSE:MA), United Health (OTC:UEEC)), 7 são de outros países.

Em primeiro lugar, o que Warren quis aqui mostrar é que os EUA continuam a ser o motor da economia do mundo, com muitas das empresas líderes globais a serem criadas em solo americano. É mais uma mensagem do “Nunca apostem contra a América” (Never bet against America), que tem vindo a reforçar nos últimos anos.

Mas mais importante do que isso, é reconhecer que as líderes de hoje poderão não ser as líderes de amanhã. Warren reforçou essa ideia de que é impossível prever como estará a situação daqui a 30 anos e quais serão as maiores empresas em 2050.

Aliás, se virmos quais eram as 20 maiores empresas há 30 anos atrás, verificamos que o cenário era bem diferente! A maioria pertencia ao Japão, pois os mercados no país atravessavam uma das maiores Bolhas de que há memória! Mesmo excluindo as empresas japonesas que estavam em bolha, vemos que o que era real em 1989 deixou de o ser 30 anos depois. Empresas como a Exxon (NYSE:XOM), General Electric (NYSE:GE), IBM (NYSE:IBM), American Tel & Tel, Philip Morris (NYSE:PM) e Merck (NYSE:MRK) já não figuram hoje no top 20!

E o mesmo cenário deverá acontecer nos próximos 30 anos. A situação poderá alterar-se e a lista de hoje poderá já não ser a mesma no futuro. Uma grande lição para quem diz que devemos comprar e esquecer-nos completamente dos negócios que detemos (os chamados ‘Buy and Hold’).

Vamos a outra lição importante. Desta vez relacionada com o frenesim que normalmente acompanha alguma indústria nova que surge. Em 1903 parecia que o automóvel ia ser a próxima Grande Revolução. Havia centenas de produtoras a tentar a sua sorte neste novo nicho de mercado. E à medida que mais empresas entravam no setor e outras viam as fortunas a ser criadas, mais pessoas quiseram criar uma empresa de produção automóvel. Empresários e investidores entraram no frenesim e dizia-se frases como “quem não aproveitar agora não sabe onde está a riqueza”.

Até que…

O mercado colapsou!

Warren apresentou-nos uma lista de fabricantes de automóveis que faliram tão depressa quanto foram criadas! Quis-nos mostrar os fabricantes de automóveis começados pela letra M. Mas eram tantos que não cabiam num slide. Então reduziu a pesquisa para as marcas começadas em ‘Ma’.

O número total de empresas produtoras de automóveis no início do século ultrapassava as 2000! Quantas há hoje em dia? Pois…

Havia muito mais empresas de automóveis no início do séc. XX porque o futuro avizinhava-se brilhante para a indústria. Empresários e investidores entravam em força no setor porque havia promessas de enriquecimento rápido. Mas a realidade revelou-se bem diferente.

O mesmo acontece hoje em dia, com novas indústrias a serem criadas anualmente e milhares de pessoas a tentarem vingar numa nova indústria onde se veja que se faz dinheiro rápido.

Não é tão fácil quanto parece!

3. Recompra de ações: uma forma de ‘dividendo’ ou uma ‘manipulação de mercado?

Ao longo de 2020, a Berkshire Hathaway devolveu aos acionistas biliões de dólares a partir da recompra de ações. Warren tem defendido que a recompra de ações é uma forma alternativa aos dividendos de devolver o dinheiro aos acionistas.

Mas há políticos que querem impedir as grandes empresas de recomprar ações, dizendo que é uma forma de elas se evadirem aos impostos. Claro que Warren e Charlie discordam totalmente desta ideia e já no ano passado explicaram como a recompra de ações é uma forma de adicionar ainda mais valor aos negócios e aos seus acionistas.

Warren dá um exemplo extraordinário para compreender a Recompra de Ações: Imagina 4 amigos que criam um negócio. Cada um entra com 25% do capital inicial. Ao fim de uns anos, um dos amigos decide sair do negócio e coloca os seus 25% à disposição. Os outros três amigos têm opção de recomprar essa percentagem e aumentar assim a sua posição na empresa. É isso que representa a recompra de ações em Bolsa: adquirir a percentagem da empresa disponível no mercado que outros investidores não querem.

4. Investimentos sustentáveis, alterações climáticas e diversidade

Warren parece não querer avançar com as propostas por uma empresa mais focada no combate às alterações climáticas e que prime pela diversidade na hora de contratar novos colaboradores. As duas propostas para estes temas foram ambas recusadas pela maioria dos votos (lembrar que Warren é quem detém a maior fatia do negócio, com cerca de 30% de todos os votos, logo a sua decisão faz muita diferença nas decisões finais sobre propostas apresentadas).

Ainda assim, Greg Abel acrescentou alguns pontos interessantes na parte climática.

O negócio de energia da empresa (Berkshire Hathaway Energy) comprometeu-se há alguns anos a descarbonizar as suas operações, com relatórios a estabelecer objetivos para o combate às Alterações Climáticas. A Berkshire foi, aparentemente, a primeira empresa do S&P500 a comprometer-se com o Acordo de Paris (segundo as palavras de Greg). Referiu ainda que primeiro é preciso construir as fundações/infraestruturas que permitirão descarbonizar o negócio. Ainda assim, já alcançaram os objetivos que tinham para 2025 em 2020 (objetivo: redução de 25% das emissões de carbono nos seus negócios). Embora reconhecendo que a velocidade a que a Berkshire consegue implementar mudanças é menor do que a do Governo, todas as unidades de produção a carvão serão desmanteladas até 2050.

Pequenos passos para a transição energética, mas talvez a Berkshire esteja mesmo no caminho certo.

5. Sucessão no trono

Os investidores da Berkshire Hathway estão preocupados com a sucessão de Warren e Charlie. Afinal de contas, não caminham para novos… e Warren tem agora 90 anos e Charlie 97. É natural que as pessoas comecem a preocupar-se com a sua sucessão e surjam perguntas neste campo.

Perguntaram se a ligação entre o Greg e o Ajit era tão forte quanto a de Charlie e Warren. Responderam que na verdade, não interagem numa base semanal como fazem Warren e Charlie, mas comunicam numa base trimestral e sempre que surgem questões urgentes falam imediatamente um com o outro.

Tanto Warren como Charlie entraram na defesa dos seus vice-chairmans, afirmando que vão ser altamente capazes de gerir a Berkshire no futuro. Acima de tudo, o que interessa na Berkshire é a cultura empresarial que criaram e não se é a pessoa A ou B que está na gestão. E mesmo quando Warren e Charlie partirem, Ajit e Greg farão um bom trabalho na empresa. Pois a cultura criada é fortíssima e as pessoas que entram jamais saem!

Tivemos a dica de que Greg Abel sucederá a Warren Buffett como CEO na Berkshire.

6. Impostos e inflação

Uma questão que se põe quando investimos é a quantidade de impostos que pagamos. Em Portugal, o imposto sobre a mais-valia dos nossos investimentos é normalmente de 28%. Nos EUA a situação é um pouco mais favorável, mas aqui também houve um comentário interessante de Warren Buffett.

Em tom de brincadeira, Warren disse que a Berkshire está dividida em ações da Classe A e da Classe B, mas há um terceiro tipo de ações, detidas exclusivamente pelo governo: as ações Classe AA. Claro que é um trocadilho, mas é para alertar os investidores de que o maior sócio que teremos sempre nos nossos investimentos é o Estado: ficam com os ganhos sem terem investido nas operações de financiamento da empresa ou sem deterem ativos. Não votam em nenhuma decisão, mas ficam sempre com parte dos lucros.

Ora nem mais Warren!

E quanto à inflação?

Há sinais de aumento acelerado nos preços dos produtos e serviços que consumimos diariamente. Mas não há sinais de que vá parar uma tendência com séculos!

A verdade é que ao longo de décadas o preço dos produtos tem vindo a aumentar… e as empresas têm vindo a aumentar o preço de venda desses produtos, passando-o para os consumidores… e as pessoas estão bem em pagar esses valores cada vez mais elevados.

É verdade que a inflação subiu nos últimos seis meses mais do que era esperado, principalmente devido à escassez de algumas matérias-primas, como os cereais. Mas os custos dos produtos/serviços que usamos diariamente vai continuar a subir e as pessoas aceitam pagar mais e mais.

7. Investimentos em ações e outros produtos

Houve muitas perguntas nesta categoria, por isso divido em 7 subtópicos.

7.1. Porque não seguiu o seu próprio conselho de ‘ser ganancioso quando outros estão com medo’?

Perguntaram a Warren porque é que não seguiu o seu próprio conselho em 2020 e vendeu ações das companhias aéreas em vez de reforçar a sua posição a melhores preços (lembrar que as ações de algumas companhias aéreas caíram 60% no espaço de 3 semanas em março de 2020).

Afinal de contas, Warren tinha ficado conhecido em 2009 precisamente por dizer que devemos ser gananciosos quando os outros têm medo, e ter medo quando outros estão a ter comportamentos inadequados. Por isso a pergunta impõem-se: porque não fez o que ensina? Porque vendeu a totalidade das suas posições nas companhias aéreas em 2020 em vez de as comprar, especialmente quando o valor das suas ações recuperou substancialmente no último ano?

Warren afirma que antes do governo ter feito a sua intervenção e ajudado a indústria da aviação com $54 biliões, na Berkshire tinham de pensar primeiro em gerir o risco. E não podiam perder o dinheiro dos investidores insistindo num investimento que caminhava rapidamente para zero… não fosse a intervenção do governo federal!

As companhias aéreas enfrentaram um dos maiores desafios da história económica de entre todas as indústrias! Nunca tínhamos visto aviões parados em terra nesta escala… E dezenas de companhias aéreas teriam falido por todo o mundo se não fosse pela intervenção dos Governos.

Só nos EUA as companhias aéreas perderam mais de 35 biliões de dólares em 2020. Poderíamos ter visto um cenário bem diferente (nas ações das companhias aéreas e na indústria como um todo) se não tivesse sido pela intervenção rápida do governo. O governo ajudou as companhias aéreas e isso permitiu que muitas delas não fossem à bancarrota, mas a situação podia ter-se desenrolado de forma diferente.

Warren disse ainda que acreditava que a indústria sobreviveu ainda melhor sem a ajuda da Berkshire Hathaway, pois se tivesse mantido a posição de 10% nas companhias aéreas o governo não teria intervindo da mesma forma (é importante lembrar que se há acionistas de referência numa empresa, o Estado pode não estar tão interessado em intervir/ajudar).

7.2. Porque venderam algumas ações da Apple?

Warren admitiu que provavelmente foi um erro ter vendido uma pequena porção da empresa no final de 2020, pois a empresa tem produtos absolutamente fantásticos, essenciais para milhões de pessoas, e tem uma gestão ímpar entre as grandes empresas cotadas.

Ainda assim, a Apple representa cerca de 40% do portefólio de ações da Berkshire. E com a Berkshire e a Apple a recomprar ações próprias, na verdade a posição dos acionistas da Berkshire na Apple aumenta de cada vez que uma das empresas recompra ações próprias.

Charlie diz mesmo que a rotação de ações (turnover) tem sido maior na Berkshire ultimamente, o que não lhe agrada. Fala uma pessoa que tem uma paciência ímpar e que consegue esperar 10 anos ou mais por uma boa oportunidade de investimento!

7.3. E porque venderam ações de bancos?

Warren é conhecido pelo seu gosto por financeiras. Estão bem dentro do seu círculo de competência: um setor que ele compreende bem e que se sente confortável em investir. Por isso, é natural que lhe perguntem porque vendeu tantas ações de bancos como Wells Fargo e JP Morgan se estava tão confiante na indústria?

Aqui Warren referiu que preocupou-o ver o que poderia resultar para os Bancos toda aquela situação da crise pandémica.

A verdade é que os bancos poderiam encontrar-se em maus lençóis se as empresas devedoras falissem e não conseguissem pagar os seus créditos. Por isso mesmo a indústria bancária reservou biliões de dólares para possíveis perdas com créditos incobráveis. Isso foi uma boa estratégia da parte dos bancos e que, com a ajuda dos estímulos por parte de Governos e Bancos Centrais, resultou em menores perdas do que era esperado.

Warren referiu que os bancos americanos estão hoje muito melhores do que na outra crise! Têm níveis de solvência muito melhores, estão mais bem capitalizados, e isso fez com que aguentassem esta crise muito melhor do que outras (o mesmo não se pode dizer da banca europeia).

Talvez tenha sido um erro a Berkshire vender tantas ações da banca, mas Warren deixou um pequeno alerta para quem quis ouvir: a Banca americana pode ser um ótimo investimento, mas quando as coisas ficam feias, a situação pode petrificar alguns investidores! Ou seja, sim os bancos podem ser bons investimentos, mas é preciso compreender que quando as coisas ficam feias para os bancos… ficam mesmo feias!

7.4. As ações tecnológicas estão caras?

Com algumas empresas tecnológicas a disparar em Bolsa 100% ou mais, as perguntas impõem-se: estarão demasiado caras? Há bolha no setor?

Warren admite que não! Simplesmente não entende o negócio de muitas dessas empresas e mantém-se afastado. Afirma mesmo que muitas das empresas tecnológicas têm modelos de negócios melhores do que os da Berkshire, pois são empresas que operam com poucos ativos e geram muito capital com esse reduzido investimento.

Isto é verdade principalmente para as empresas de software, onde o investimento em fábricas, propriedades, etc. é mínimo e os ganhos são substancialmente superiores a outras empresas de outras indústrias que exijam mais capital (como as industriais, ferrovias, aviação, etc.).

Agora, com as Taxas de Juro tão baixas (lembrar que estão perto de 0% e os Bancos Centrais assim querem manter), as avaliações das empresas são diferentes. Se descontarmos o valor futuro dos fluxos de caixa para o presente, com as Taxas de Juro a zero estas empresas valem muito mais!

Nos anos 70 os economistas diziam que seria impossível as Taxas de Juro irem a zero, quanto mais entrarem em território negativo. E aqui estamos hoje, com taxas de 0.25% nos EUA e -0.5% na Europa.

Os Bilhetes do Tesouro neste momento não rendem nada e são uma perda de tempo e dinheiro. Já as empresas produzem algo que vai valer mais no futuro. Por isso, o local a estar é nas ações, não nos Bilhetes de Tesouro.

7.5. Porquê os investimentos na China?

Houve uma pergunta dirigida a Charlie Munger, que recentemente adquiriu uma posição substancial na Alibaba a partir do seu Daily Journal: será o investimento na China uma hipótese a considerar?

Tanto Charlie como Warren são da opinião que o que aconteceu na China é o evento mais extraordinário da história económica global. Um país onde um partido comunista percebeu a importância dos mercados livres. Um país que viu a vizinha Singapura a prosperar financeiramente e que quis parte desse sucesso para si. Um país que aceitou o potencial dos mercados para trazer prosperidade para os seus cidadãos… e que tem melhorado as operações em Bolsa ano após ano.

Charlie Munger quer estar exposto ao enorme crescimento económico vivido na China, e Warren não lhe fica atrás.

Warren referiu aqui que espera ver mais empresas chinesas a preencher o Top 20 das empresas mais valiosas do mundo no futuro (ver o ponto 1. acima, onde falo das maiores empresas medidas pela capitalização bolsista). Ambos parecem estar otimistas quanto ao futuro da China.

7.6. Porquê tanto dinheiro parado de lado?

Houve perguntas referentes aos mais de 140 biliões de dólares que a empresa tem parados de lado.

Na Berkshire querem estar preparados para qualquer situação que possa acontecer no mercado. É verdade que há 12 anos que não acontece um evento negativo duradouro nos mercados (como foi a Grande Recessão de 2007-2009 que fez o S&P500 cair 57% em dois anos). E isso leva algumas pessoas a crer que vai tudo ser sempre um mar de rosas na Bolsa.

Mas as condições podem mudar substancialmente de um momento para o outro e podemos ter décadas em que os índices não vão a lado nenhum. Já aconteceu de 1929 a 1954, em que o S&P500 não foi a lado nenhum durante 25 anos! Ou mesmo de 2000 a 2013… Tenho alertado para o facto de que isso pode acontecer e precisamos de estar atentos.

Na Berkshire, querem estar preparados para condições adversas duradouras e por isso mantêm dinheiro de lado, pronto a ser bem investido quando for necessário. Ainda assim, Warren admitiu que têm dinheiro de lado em cerca de 10% a mais do que gostaria.

7.7. Há uma loucura nas SPACs e criptomoedas?

Surgiram perguntas ligadas ao crescente aparecimento de SPACs, principalmente desde 2020.

Caso não saibas, uma SPAC significa Special Purpose Acquisition Company (Empresa com propósito de aquisição especial). É como um cheque em branco. O objetivo é que um investidor crie uma empresa para levantar capital para uma potencial fusão com uma empresa privada para a tornar pública no espaço de dois anos. Só em 2020 foram levantados mais de $138 biliões à procura destas oportunidades: uma indicação de que poderemos estrar a criar uma bolha!

Tanto Warren como Charlie não gostam da ideia das SPACs, pois os gestores estão obrigados a adquirir uma empresa no espaço de dois anos e isso gera uma pressão de tempo. Estes dois investidores têm a maior paciência do mundo, algo raro nos dias que correm entre a comunidade de investimento.

E SPACs que obriguem a decidir rápido não lhes agrada. Tal como Warren disse “se me apontarem uma arma à cabeça a dizer que tenho de comprar uma empresa em dois anos, eu comprarei uma; mas será uma asneira

Wall Street move-se para onde está o dinheiro… e se o dinheiro está nas SPACs, é aí que Wall Street vai aparecer. Só que a festa não dura para sempre… Ninguém sabe quando a festa vai acabar. Mas eventualmente ela vai terminar!

Mas Charlie Munger é mais crítico neste campo! Diz mesmo que os profissionais de Wall Street que usam SPACs aproveitam-se dos inocentes para lhes roubar o dinheiro. Diz que é uma forma de jogo com o dinheiro dos outros, em que os financeiros de Wall Street ganham sempre a sua comissão, independentemente do investidor nas SPACs ganhar ou não.

Charlie criticou ainda o que se tem vivido, principalmente desde 2020, com muitas novas pessoas a entrar no mercado sem perceber como se investe em ações e a fazer da Bolsa de Valores um casino autêntico. A nova onda de pessoas a entrar no mercado são apostadores, e não investidores. Para isto tem contribuído algumas corretoras que oferecem supostas “comissões zero” na negociação de ações (como a Robinhood) e que permitem o casino aumentar de dimensão… Na verdade, corretoras como a Robinhood são pagas pelos fluxos de pedidos (order flows) e não pelas comissões de negociação. Charlie é um enorme crítico desta nova realidade, afirmando que não contribuem com nada de bom para a sociedade.

Quanto à Robinhood, Warren diz que está desejoso de ler o prospeto da empresa quando ela decidir fazer a sua IPO, pois quer ver como eles vão dizer que fazem dinheiro (já que vendem a ideia de que são uma corretora com “comissões-zero”).

Para finalizar esta parte, deixar um alerta para uma realidade do mundo das Finanças: NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS!

Algumas pessoas acreditam mesmo que é possível as corretoras e bancos de investimento viverem de ar e vento… mas não é!

E quanto a bitcoins?

Charlie Munger é ainda mais severo nesta componente.

Considera que o desenvolvimento das criptomoedas é contrário ao interesse da civilização e que é um produto financeiro inventado do ar. Diz mesmo que não gosta de uma moeda que só é útil para sequestradores e para extorsões.

São duras críticas às criptomoedas no geral, principalmente à Bitcoin.

8. Aprendizagem contínua

A última pergunta da sessão referiu-se à importância da constante aprendizagem. E foi-lhes perguntado qual a maior aprendizagem em 2020.

Warren respondeu em tom de piada que a maior lição de 2020 é ter de ouvir mais vezes o Charlie Munger.

Charlie disse que se as pessoas não estão confusas com tudo o que está a acontecer, não aprenderam nada! Pois estamos em territórios nunca antes navegados e há muita incerteza no ar.

Acima de tudo, estes super-investidores têm referido que para se ser bem-sucedido em investimento tem de se ser uma autêntica máquina de aprendizagem. E eu defendo esta ideia a 100%! Temos de estar constantemente a aprender para ter sucesso na vida!

Espero que com este artigo tenhas aprendido imenso com estes super-investidores que fizeram da Berkshire Hathaway o que é hoje. A Conferência Anual da Berkshire é e será um local de imensa aprendizagem financeira. E podes contar comigo para te trazer o resumo das próximas edições!

Um forte abraço lucrativo,

Frederico

PS: uma pequena curiosidade, que não sabia em que tópico a encaixar. Ficamos a saber tanto Warren como Charlie vivem na mesma casa que compraram 62 anos antes! É este o mindset dos verdadeiramente bilionários! Sem exibições de carros de luxo, sem exibir nada de especial.

Últimos comentários

Só agora tive oportunidade de ler. muito esclarecedor. fantástico.
Obrigado Pedro! Ótimo ver que foi esclarecedor 🙂
Parabéns e obrigado pelo artigo, está excelente!
Obrigado pelo feedback Márcio 🙌
Excelente artigo! Parabéns.
Obrigado João! 🙌
Muito, muito bom!!! Parabens e obrigago!!!👍👍
Muito obrigado Jorge! O prazer é todo meu!
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