A comunidade cripto não ficou imune à Invasão da Rússia na Ucrânia, com início a 22 de Fevereiro, refletindo-se em volatilidade dos preços, milhões de dólares em doações e pedidos de sanção à Rússia.
O primeiro sinal mais evidente de uma invasão Russa na Ucrânia ocorreu a 21 de Fevereiro deste ano com o reconhecimento da independência das províncias pro-russas Luhnask e Donetsk, o que acabaria por justificar uma invasão armada do espaço Ucraniano. Este escalar das tensões provocou uma volatilidade significativa nos mercados financeiros (de criptomoedas e tradicionais).
A volatilidade foi transversal a todos os mercados, accionista, de matérias primas, e de criptoativos. Contudo, o sentido do movimento parece ter divergido quando olhamos para a Bitcoin em particular.
Capitalização do mercado de criptoativos
Num espaço de 11 dias, a Capitalização Total do Mercado de criptomoedas verificou oscilações que chegaram a ultrapassar os 14%. Contudo, depois de assegurar um limite mínimo nos 1.555 biliões de dólares, ascendeu até aos 1.92 biliões. Seguiu-se, desde Março um movimento descendente superior a 11%.
Gráfico do par Bitcoin/USD.
Olhando isoladamente para a Bitcoin, no dia da invasão, a iniciou um movimento ascendente a partir dos 37.000 dólares até rondar os 44.500. Uma valorização de 19% que se destacou dos mercados tradicionais pela positiva.
Dados avançados pela coinmetrics, uma empresa de análise de dados na Blockchain, sugerem uma dissociação entre o desempenho da Bitcoin e dos mercados tradicionais, nomeadamente das empresas de tecnologia.
A correlação ente o valor da Bitcoin e os índices tradicionais (como o S&P500 ou o NASDAQ) atingiu o seu máximo a 22 de Fevereiro, quando atinjiu os 0,546. Desde então, tem vindo a descer até aos 0,461. Na prática, isto significa que a variação no preço da Bitcoin tem menos impacto na variação de preços dos mercados acionistas (e vice-versa).
Ainda sobre o tema, Ben Caselin – Head of Research & Strategy na AAX – disse ao NewsBTC que, nos últimos dias, com o advento da guerra na Ucrânia, a BTC tendeu a comportar-se como um safe haven. Ou seja, um ativo que protege o capital dos investidores da volatilidade dos mercados.
Caselin acrescenta ainda que:
“Criptoativos suportados por uma rede aberta possibilitam uma comunidade global de cidadãos capazes de se conectarem entre si, mobilizarem recursos, e canalizar apoio para causas.”
Ben Caselin
Contudo, segundo a página Decrypt, apesar da tendência ser evidente, pode ser cedo para tirar conclusões.
Mais de 63 milhões de dólares em criptomoedas doados à causa Ucraniana
À data desta publicação, o valor de doações em criptomoedas (Bitcoin, Ethereum, USDT, Dogecoin, Tron e Polkadot), à Ucrânia, ultrapassava os 63 milhões de dólares.
Os responsáveis pela gestão desses ativos distinguem-se entre:
- Instituições Governamentais,
- ONGs,
- e DAO’s.
Doações a Instituições Governamentais
As instituições governamentais foram as que mais criptoativos arrecadaram, um total de 38,5 milhões de dólares, segundo avança a empresa de segurança em blockchain SlowMist.
No dia 26 de Fevereiro a conta oficial do Twitter do Governo da Ucrânia publicou o seguinte: “Juntem-se ao povo da Ucrânia. Agora aceitando doações de criptomoedas em Bitcoin, Ethereum e USDT.”, juntamente com os endereços das carteiras da rede Bitcoin e Ethereum.
Sob suspeita de se tratar de um esquema, estes endereços foram verificados pelo próprio Vitalik Buterin, co-fundador da Ethereum, que atestou a autenticidade dos mesmos.
Doações a ONG’s e DAO’s
As organizações não-governamentais (ONG) arrecadaram um total de 24,8 milhões de dólares, distribuídos pela Come back Alive (14,6 milhões), UkrainDAO (6,4 milhões), Unchain (2,1 milhões), AidForUkrain (1,4 milhões).
As DAO (Decentralized Autonomous Organizations) são organizações inovadoras pela forma como são geridas. Sem uma autoridade central, a tomada de decisão é delegada à comunidade que a compõe, pretendendo-se segura e auditável. A primeira DAO, chamada The DAO, surgiu na rede da Ethereum em 2016.
O que torna estas DAO de apoio à Ucrânia peculiares é o facto de contarem com o apoio de entidades que não são exclusivas da comunidade de criptomoedas ou nem a esta estavam ligadas até ao momento do conflito.
A UkrainDAO foi fundada por Nadya Tolokonnikova, uma activista russa membro da grupo Pussy Riot. Também a AidForUkrain conta com a Fundação Solana, a Everstake e o governo da Ucrânia como fundadores.
Inclusive empresas estão a colaborar através de doações em criptoativos. Uma delas é a rede social por assinatura OnlyFans, que recentemente aderiu aos NFTs, e agora doou 500 ETH (1,35 milhões ao valor atual) para a UkraniaDAO.
Relação do governo ucraniano com os criptoativos
Os criptoativos não são uma descoberta recente para as autoridades ucranianas que a 17 de Fevereiro deste ano legalizou a Bitcoin e criptomoedas no país. Até à data os serviços de criptoativos operavam num vazio legal e podem agora vir a ser regulados financeiro do país.
Após o início do conflito, a Ucrânia chegou a emitir um pedido oficial para que exchanges como a Coinbase (NASDAQ:COIN), Binance, Huobi, KuCoin, Bybit, Gate.io, Whitebit, e Kuna para suspenderem o suporte para o Rublo, incluindo negociação e levantamentos na moeda oficial russa.
Yulia Parkhomenko, membro do Ministério para a Transformação Digital da Ucrânia, adiantou ainda que foi solicitado que esses serviços suspendessem as transações por utilizadores russos para carteiras descentralizadas, alegando que é importante não só pressionar os politicos russos e bielorrussos, como também evitar que os cidadãos contornem as sanções. Contudo, e até à data, não há indícios de que essas exchanges adiram ao pedido.