No dia seguinte ao anúncio de novos direitos aduaneiros dos Estados Unidos sobre as importações de automóveis, a Comissão Europeia declarou esta quinta-feira que está a aguardar as tarifas recíprocas de Washington, que entrarão em vigor na próxima semana, antes de decidir sobre eventuais contramedidas.
"Se necessário, daremos uma resposta firme, proporcionada, robusta, bem calibrada e atempada às medidas injustas e contraproducentes dos Estados Unidos", afirmou o porta-voz da Comissão, Olof Gill, acrescentando que não pode dizer o "momento exato" das ações da União Europeia (UE) até à entrada em vigor das tarifas americanas. As taxas impostas pela Casa Branca sobre os automóveis deverão ser aplicadas em 2 de abril.
As tarifas americanas sobre o aço e o alumínio já foram aplicadas. Para além das tarifas de 25% sobre os automóveis reveladas na quarta-feira, estão previstas tarifas recíprocas para a UE a 2 de abril. No entanto, ainda não é claro se estas tarifas irão afetar os países europeus individualmente ou a UE como um bloco.
A Comissão Europeia deverá consultar os Estados-membros sobre uma lista de produtos americanos que estão sujeitos a tarifas suspensas desde 2018, na sequência de uma disputa comercial entre a UE e a primeira administração Trump sobre as tarifas de aço e alumínio. Além disso, está a ser considerada uma segunda lista de produtos norte-americanos, numa altura em que Bruxelas pondera os próximos passos a dar nesta disputa. Estas medidas farão parte de um pacote mais vasto de tarifas de retaliação, que deverá entrar em vigor em meados de abril.
Mas um funcionário da UE disse à Euronews que Bruxelas não se contentará apenas com estas duas listas, avisando que, quando Washington anunciar as suas tarifas recíprocas na próxima semana, o bloco poderá ter de responder com outras medidas. "Ainda não anunciámos nada sobre os serviços ou sobre a ferramenta anticoerção", disse o funcionário.
Até à data, as contramedidas anunciadas sobre o aço e o alumínio apenas visaram os produtos americanos. No entanto, em 2023, os Estados Unidos registaram um excedente comercial de serviços de 109 mil milhões de euros com a UE. O alargamento das medidas de retaliação aos serviços marcaria uma escalada significativa nas atuais tensões comerciais entre Bruxelas e Washington.
O instrumento anticoerção, adotado pela UE em 2023 mas nunca utilizado, é também visto por alguns especialistas como uma "opção nuclear" na política comercial. Permitiria a Bruxelas impor medidas sobre os direitos de propriedade intelectual ou, por exemplo, restringir o licenciamento contra um país terceiro, acrescentando uma ferramenta poderosa ao arsenal do bloco em disputas comerciais globais.
O anúncio da imposição de direitos aduaneiros sobre as importações de automóveis para os EUA provocou fortes reações em toda a UE.
"É agora importante que a UE dê uma resposta decisiva aos direitos aduaneiros - tem de ficar claro que não recuaremos perante os Estados Unidos. É preciso força e autoconfiança", afirmou o ministro alemão da Economia, Robert Habeck, em comunicado: "Ao mesmo tempo, apoiaremos a Comissão Europeia na procura de uma solução com os Estados Unidos através de negociações que evitem uma espiral tarifária".
O Comissário europeu para o Comércio, Maroš Šefčovič, reuniu-se na terça-feira em Washington com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, o representante para o Comércio, Jamieson Greer, e o principal conselheiro económico da Casa Branca, Kevin Hassett. No entanto, segundo a Comissão Europeia, as conversações tiveram resultados dececionantes.
"É verdade que a missão do comissário Šefčovič a Washington DC não produziu nenhum resultado negociado", disse Gill na quinta-feira, apesar das esperanças da Comissão de progresso.
"Esta é uma notícia muito má e é um ato que obviamente não ajuda, numa situação em que é a cooperação que nos permitirá resolver o problema", comentou o ministro da Economia francês, Eric Lombard, na quinta-feira, na rádio pública francesa France Inter, sobre as tarifas dos Estados Unidos sobre os automóveis. "Estamos numa situação em que estamos a ser atacados: ou deixamos que isso aconteça, e nesse caso esta situação nunca terá fim; ou retaliamos, infelizmente, essa é a regra do jogo que foi imposta pelos americanos", acrescentou.