Por Catarina Demony
LISBOA, 10 Mar (Reuters) - A indústria turística de Portugal já está sentindo o impacto do coronavírus, apesar de ainda só ter alguns casos locais, já que 60% dos hotéis da região do Algarve, no sul, relatam cancelamentos, e empregados de todo o país temem que o pior ainda esteja por vir.
Altamente dependente do turismo, Portugal atraiu mais de 16,3 milhões de visitantes estrangeiros no ano passado – mais do que os 10 milhões de 2014, quando a economia começou a se recuperar lentamente de uma crise. O setor contribuiu com 14,6% do produto interno bruto (PIB) em 2018, de acordo com os dados oficiais mais recentes.
A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) disse que seus estabelecimentos "já estão enfrentando grandes cancelamentos" de reservas, sem entrar em detalhes.
A Aheta, associação hoteleira do Algarve, disse que 60% dos 411 hotéis da região, famosa por suas praias e campos de golfe populares especialmente entre turistas britânicos, já testemunharam cancelamentos.
"O turismo é resistente a muitas coisas, mas não a vírus... uma desaceleração do turismo significa uma desaceleração grave de nosso crescimento econômico", disse a chefe da AHP, Cristina Siza Vieira, à Reuters, explicando que os meses mais rentáveis do verão são a maior preocupação, já que as reservas em geral estão diminuindo acentuadamente.
Eliderico Viegas, chefe da Aheta, disse que, se as reservas de verão não aumentarem, os hotéis não terão opção além de contratar menos funcionários durante a alta temporada. "Muitos empregos sazonais não serão necessários", disse.
Portugal relatou 41 casos confirmados de coronavírus, muito menos do que os mais de 1.200 da vizinha Espanha, mas o medo crescente do contágio durante as viagens está afugentando os veranistas.
"As pessoas estão com medo de viajar, estão com medo da contaminação nos aeroportos", afirmou Viegas.
A TAP, principal empresa aérea portuguesa, já suspendeu 3.500 voos agendados entre março e maio, e vários eventos de grande porte em todo o país foram cancelados ou adiados, inclusive a maior feira comercial de Lisboa.
No centro de Portugal, hotéis dentro e nos arredores do santuário de Fátima, um grande polo de peregrinos católicos, já tiveram uma redução de 15% nas reservas no primeiro trimestre por causa do coronavírus.
Alexandre Marto, porta-voz de um grupo de 10 hotéis da cidade de Fátima, disse que os estabelecimentos locais estão contando com o governo para ajudá-los a manter os níveis de emprego atuais.