Por Daniel Alvarenga
LISBOA, 6 Fev (Reuters) - A emergência das fintech, que trabalham na encruzilhada entre tecnologia e finanças, no contexto da introdução do novo quadro regulatório europeu DSP2-Directiva de Serviços de Pagamento, ameaça até 40 pct do produto bancário dos bancos, que têm de avançar rapidamente com uma profunda transformação, segundo o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
"O ano de 2018 é em muitos sentidos um ano de muitas transformações, com directivas e regulamentos cujo alcance promete revolucionar o sector financeiro", disse Carlos Costa, no 'banking summit' em Lisboa.
"O DSP2 é a âncora do debate. Muitos têm referido que é o maior desafio à banca de retalho desde a invenção das ATM (multibanco), porque vai colocar em risco 25 a 40 pct do produto líquido bancário".
O produto bancário é uma das principais medidas de receita do sector financeiro, agregando o que encaixam em margem financeira e comissões.
Carlos Costa explicou que a nova directiva contribui para a criação do mercado único para serviços de pagamentos, promove a concorrência e incentiva a inovação.
Acrescentou que a futura abertura a prestadores de serviços abre espaço à entrada de novos concorrentes que detêm vantagens na tecnologia e se especializam em nichos de mercado.
Outra dimensão da concorrência são gigantes com substanciais bases de dados de informação como a Google (NASDAQ:GOOGL), Facebook, Apple (NASDAQ:AAPL).
"Para os incumbentes, trata-se de um desafio mas também de uma oportunidade", frisou Carlos Costa.
O Governador distingue entre fintech, entidades que desenvolvem tecnologia e techfin, tecnológicas já consolidadas que passam a prestar serviços financeiros.
"Estas empresas não devem ser vistas apenas como concorrentes dos prestadores tradicionais", afirmou o Governador do Banco de Portugal, acrescentando: "para prestar serviços financeiros é preciso ter músculo em termos de capital".
Referiu que esta transformação pode ajudar os incumbentes ao restabelecer e restaurar os níveis de confiança postos em causa pela crise financeira.
"Como é que os incumbentes encaram estas novas realidades? De forma associativa ou de cooperação, ou de forma confrontacional? Cabe a cada instituição escolher a melhor estratégia", afirmou Carlos Costa.
A emergência das fintech vai transformar a oferta, permitindo extrair mais informação de bases de dados do que os bancos dispõe.
"Desse modo, permite uma melhor adequação da oferta das instituições financeiras as necessidades dos seus clientes", vincou.
O Governador do Banco de Portugal sublinhou que o sector financeiro terá de ajustar os produtos de crédito, do lado do investimento, conceder propostas de investimento e gestão de património tirando partido de capacidade de trabalhar com mais produtos e mercados.
"Ao mesmo tempo vão permitir a maior adequação de risco de produto ao risco do cliente, altera a oferta e altera a avaliação de risco", frisou.
"Vai permitir afinar e segmentar a avaliação de risco dos clientes. Vamos começar a questionar até quando será necessária tão vasta rede de balcões como a que caracteriza ainda muitos países europeus, incluindo o nosso".
Frisou que a nova vaga vai aumentar a pressão sobre os reguladores, supervisores e prestadores de serviços para limitar e no limite anular o risco incluindo, por exemplo, de ataques informáticos
"Há dois cenários: de inércia, em que os bancos não respondem a desafios e vão estar confrontados com compressão de margem e acabarão por se tornar em meras plataformas de captação de depósitos e de colocação de produtos. Este é o cenário indesejável".
"O segundo é um em que os bancos internalizam as novas tecnologias, o que implica grandes investimentos naturalmente, através de aquisição ou do desenvolvimento de fintechs".
"Neste cenário os bancos tiram partido da confiança e notoriedade histórica dos seus clientes () para garantir () funções cada vez mais focadas nas necessidades dos consumidores, ao mesmo tempo que reduzem vários custos de financiamento".
Referiu ainda que estes cenários não são mutuamente exclusivos e que poderemos acabar com um ponto intermédio.
"Não é barrando a entrada a novos actores que se resolve o problema. É enquadrando todos com o mesmo quadro regulatório e de supervisão". (Editado por Sérgio Gonçalves)