LISBOA, 27 Out (Reuters) - A associação de pequenos investidores ATM exige que o Caixabank CABK.MC pelo menos duplique o seu 'bid' pelo BPI BBPI.LS para 2,26 euros, caso contrário vai requerer que seja um auditor independente a fixar o preço justo e ameaça avançar com acções judiciais, disse o Presidente da ATM, Octávio Viana.
A Associação de Investidores e Analistas Técnicos (ATM) calcula que o BPI, na prevista venda de 2 pct do Banco de Fomento de Angola (BFA) à Unitel está a oferecer a esta telecom angolana - que tem como accionista chave a empresária angolana Isabel dos Santos - um prémio de controlo de 307,4 milhões de euros (ME).
Tal venda permitirá à Unitel, que a ATM considera ser parte-relacionada com a Santoro de Isabel dos Santos, controlar 51,9 pct do BFA, reduzindo o BPI a sua posição para 48,1 pct.
Contudo, Octávio Viana frisou que, apesar do Caixabank estar disposto a que seja dado aquele elevado prémio de controlo à Unitel - que é o mesmo que dizer a Isabel dos Santos, a segunda maior accionista do BPI - "esqueceu-se de reclamar a mesma distribuição para os restantes 48,1 pct, que o BPI vai continuar a deter no BFA".
Explicou que, se aquela parcela de 48,1 pct recebesse um prémio igual, a contrapartida do 'bid' do Caixabank teria logo de subir para 2,12 euros, considerando apenas este efeito.
"O preço de 2,26 euros é um que poderia evitar processos judiciais relacionados com a contrapartida, para que a OPA seguisse o seu curso até ao fim. Viabilizaria a OPA", disse Octávio Viana, em conferência de Imprensa.
"Tem de haver uma subida substancial da contrapartida, caso contrário corre-se o risco de se exigir a nomeação de um auditor independente".
Alertou: "se não for nomeado um auditor independente, vamos litigar e impugnar com toda a força possível, interpondo uma providência cautelar (na AG do BPI para votar a OPA)".
O 'board' do BPI considera a OPA do Caixabank oportuna e amigável, mas avalia o banco português em 1,38 euros por acção, ou seja 22 pct acima do que oferece o banco espanhol. SER MAIS
Apesar de indicar os 2,26 euros como preço mínimo aceitável, o Presidente da ATM referiu que, contabilizando aquele prémio conjuntamente com outros factores, o preço justo até seria 3,15 euros e que um auditor independente terá razões para fixar este último preço.
Isabel dos Santos, a filha do presidente de Angola que tem 18,6 pct do BPI, mantinha, no BPI, desde há muito tempo, um 'braço de ferro' com o Caixabank - maior accionista com cerca de 45 pct - e travou várias vezes as investidas do banco espanhol para controlar o banco português.
Contudo, a 21 de Setembro, a Assembleia Geral do BPI aprovou o fim do limite de 20 pct aos direitos de voto, abrindo a porta ao sucesso do 'bid' do Caixabank, com a angolana Isabel dos Santos a enterrar o 'machado de guerra' e a abster-se. mesmo dia, o Caixabank aumentou a contrapartida oferecida nesta OPA, que tinha sido lançada em 18 de Abril, para 1,134 euros por acção dos iniciais 1,113 euros, após o regulador do mercado português CMVM ter exigido que o 'bid' fosse obrigatório, dada a 'desblindagem' dos Estatutos.
A 10 de Outubro, a maior telecom angolana Unitel acordou comprar 2 pct do rentável BFA ao BPI e assumir o controlo do banco angolano, permitindo ao banco português cumprir a exigência do Banco Central Europeu (BCE) que reduza a exposição excessiva a Angola.
O Presidente da ATM disse que a Unitel e a Santoro são partes relacionadas que têm Isabel dos Santos como última beneficiária e que os outros accionistas do BPI não podem ser discriminados na operação.
"Trata-se de uma transacção entre partes conhecedoras do negócio. Estamos cingidos ao que disse o Caixabank, às contas do Caixabank. Estamos a pegar nas contas deles e a transferi-las para o prémio de oferta. O próprio Caixabank cavou a cova e está a enterrar-se", disse Octávio Viana.
LITIGAR
O Presidente da ATM lamentou a falta de transparência e informação por parte dos espanhóis do Caixabank, frisando que o banco poderá ser obrigado pelos reguladores a subir o preço.
"A solução passa pelo Caixabank ter noção que está exposto a um risco grande. O banco não tem essa noção. É uma sociedade muito fechada, vive no mundo em que era uma caixa de aforro".
Octávio Viana referiu que os reguladores estão atentos.
"Estamos preocupados com esta questão, já a discutimos com a CMVM, que está ciente e concorda que a solução tem de passar por um acordo alargado", vincou.
(Por Daniel Alvarenga; Editado por Sérgio Gonçalves)