Por Farah Salhi e Jan Strupczewski
BRUXELAS, 2 Mai (Reuters) - Os líderes da União Europeia endossaram um conjunto rígido de termos para o divórcio da Grã-Bretanha em reunião no sábado, regozijando-se num raro show de unidade na adversidade, mas conscientes de que isso pode não durar com o início das negociações.
Ao se encontrarem pela primeira vez desde que a primeira-ministra britânica, Theresa May, iniciou formalmente uma contagem regressiva de dois anos para a saída da Grã Bretanha no fim de março, os outros 27 líderes da UE levaram apenas um minuto, enquanto se sentavam para almoçar em Bruxelas, para aprovar oito páginas de directrizes negociadas pelos seus diplomatas no mês passado.
"As directrizes adoptadas por unanimidade, o mandato político firme e justo da UE27 para as negociações do Brexit está pronto", disse o presidente da reunião Donald Tusk na sua conta do Twitter. Os líderes aplaudiram, disseram autoridades, após adoptarem formalmente sem modificações o texto elaborado pelos seus assessores.
As directrizes vão forçar Michel Barnier, negociador-chefe da UE, a procurar um acordo que assegure os direitos de 3 milhões de expatriados da UE que vivem na Grã-Bretanha, assegurar que Londres pague dezenas de milhares de milhões de euros que Bruxelas acredita são devidos e evitar desestabilizar a paz ao criar uma fronteira dura entre a UE e o Reino Unido em toda a ilha da Irlanda.
"Estamos prontos", disse Barnier. "Estamos juntos."
Eles também descartaram discutir um acordo de livre comércio reivindicado por May até verem um progresso na concordância dos principais termos da saída.
"Antes de discutir o futuro, temos que resolver o nosso passado", disse Tusk em comentários ecoados pela chanceler alemã, Angela Merkel, que afirmou que "questões substantivas" devem ser decididas primeiro.
Numa marca de como o voto do Brexit no ano passado colocou em questão a unidade do próprio Reino Unido, os líderes europeus também irão oferecer ao primeiro-ministro irlandês Enda Kenny uma promessa de que caso a Irlanda do Norte, que votou contra o Brexit, queira se unir ao seu país, estará automaticamente na União Europeia.
Os líderes podem passar mais tempo em discussões, incluindo com Barnier, sobre qual o critério poderão usar para julgar se ele fez progresso suficiente para justificar um início nas negociações comerciais. Eles também podem discutir sobre como gerir a transição, após a Grã-Bretanha sair em 2019, para uma nova relação que deve demorar anos para ser finalizada.
Essa decisão sobre o que é "suficiente" é o tipo de debate que pode prejudicar as relações, enquanto os 27 procuram proteger os seus interesses nacionais. Também controverso será quais países receberão o prémio de hospedar as duas agências da UE que serão transferidas de Londres.
Com a maioria dos 27 a oferecerem uma casa para a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e muitos a quererem a Autoridade Bancária Europeia (EBA), Tusk e o presidente executivo da UE Jean-Claude Juncker irão propor critérios para fazer essas escolhas.
"Estamos extraordinariamente unidos", disse à Reuters um líder nacional que estará na mesa. "Mas é sempre fácil ficar unido sobre o que se quer antes de começar a negociar."
O primeiro-ministro belga Charles Michel alertou contra se cair numa "armadilha" onde a Grã-Bretanha divida o bloco em vantagem própria.
DIFERENÇAS
Entre as possíveis diferenças, as prioridades dos Estados pobres do leste são assegurar os direitos de residência de muitos de seus trabalhadores na Grã-Bretanha e o dinheiro britânico para o orçamento da UE; a Alemanha e outros países querem uma tranquila transição para um novo acordo de livre comércio.
A UE vê como vital que a Grã-Bretanha não seja vista a lucrar com o Brexit, para dissuadir outros de fazerem o mesmo.
Autoridades sénior em Bruxelas acreditam que o risco de um fracasso nas negociações, que poderiam ver a Grã-Bretanha simplesmente a sair num limbo legal caótico em março de 2019, diminuiu desde que May escreveu a Tusk em 29 de março reconhecendo em termos a necessidade de um compromisso.
Merkel, diante da sua própria eleição em setembro, alertou a Grã-Bretanha na semana passada contra as "ilusões" persistentes sobre o quanto de acesso pode ter aos mercados da UE. E alguns diplomatas temem que o tom das exigências da UE soe muito agressivo e possa criar uma reacção popular na Grã-Bretanha que pode tornar difícil para May chegar a um acordo.
O primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, disse: "Eles talvez não estejam mais na nossa família, mas ainda são nossos vizinhos, então devemos ter respeito um pelo outro".
(Traduzido para português por Sérgio Gonçalves)