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Perguntas e respostas entrevista ao Ministro das Finanças, Mário Centeno

Publicado 09.01.2017, 15:48
Atualizado 09.01.2017, 15:50
© Reuters.  Perguntas e respostas entrevista ao Ministro das Finanças, Mário Centeno
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Por Sergio Goncalves e Axel Bugge

LISBOA, 9 Jan (Reuters) - Este é o conjunto de perguntas e respostas ao ministro das Finanças Mário Centeno, que disse que o recente aumento das 'yields' da dívida soberana portuguesa ocorreu num contexto de riscos e incertezas na zona euro e baixa liquidez no mercado, mas será um movimento temporário pois os fundamentos da economia estão mais fortes.

Seguem perguntas e respostas:

REUTERS: Hoje, as yields de Portugal a 10 anos estão a cair cinco pontos base, mas estão na fasquia dos 4 pct. O que acha sobre isto? Tem a ver com factores externos à economia portuguesa ou também está relacionado com os fundamentais da economia?

MÁRIO CENTENO: "Obviamente, há duas dimensões em que a questão tem de ser abordada. A primeira, tem a ver com movimentos que são comuns a todos os países da área do euro e que têm vindo a revelar-se, não só nas últimas semanas como nos últimos meses, provocando pressão sobre os mercados e em particular, no sentido que é o que nos interessa nesta conversa, sobre a dívida portuguesa".

"Os últimos mês e meio, e as últimas semanas do ano concerteza, são semanas de pouca liquidez em que todos os desenvolvimentos tomam uma proporção bastante significativa".

"Mas, para além desses riscos comuns que se geraram na Europa, desde o referendo do Reino Unido, passando pelo próprio referendo italiano mais recentemente e a incerteza sobre a política económica norte-americana, a Europa também tem para 2017 um conjunto de incertezas políticas muito significativo, que no seu conjunto tem pressionado os mercados de dívida europeia e em particular a portuguesa. Esta é a envolvente (externa)".

"Na dimensão nacional, nós temos vindo a reforçar claramente os fundamentos da nossa economia. É inegável hoje que a situação de aceleração da economia se tem vindo a materializar. Portugal teve o maior crescimento da área do euro no terceiro trimestre, os números do quarto trimestre confirmam uma dinâmica económica bastante significativa".

"Reflecte-se também no mercado de trabalho em que o emprego continua a crescer no global claramente acima de dois pct, o emprego assalariado continua a crescer acima de três pct, o conjunto das contribuições sociais em Portugal crescem em dezembro próximo de cinco pct".

"E tudo isto é conseguido com dois indicadores muito importantes para a sustentabilidade da nossa dívida: nós vamos cumprir os objectivos que nos tínhamos proposto no défice - não só os objectivos ao longo do ano como aqueles que nós tínhamos propostos no OE em Fevereiro -; e a dívida que, pela primeira vez nos últimos cinco anos, cai em termos líquidos em 2016".

"A dívida líquida cai de 121,6 pct do PIB (em 2015) para 120,6 pct em 2016. Se corrigíssemos o facto Banif, que teve um impacto na dívida líquida em 2015 e na dívida bruta em 2016, também a dívida bruta cai em 2016".

"Tudo isto são indicadores positivos nos fundamentos. E portanto, a nossa perspectiva é a de que as tensões que se colocam na Europa, o acelerar da inflação nos últimos meses, em particular em Dezembro, que teve uma tradução quase imediata nos 'yields' da dívida pública praticamente em todos os países europeus, pesam num determinado sentido. Mas, os fundamentos da economia portuguesa são hoje mais fortes".

REUTERS: Este nível de 4 pct é comportável para a economia portuguesa? Como vê a evolução ou seja acha que ainda pode haver subida de yileds, ou pode haver aqui algum esmagamento de spreads em contra-ciclo?

MÁRIO CENTENO: "O que é interessante, em termos meramente financeiros, nesta subida de taxas é que os 'spreads' da economia portuguesa não alargaram face a Espanha ou Itália e, em alguns casos, até diminuíram".

"Nós obviamente vemos esta subida (de 'yields') como temporária associada a factores muito específicos de incerteza (externa) e de baixa liquidez de mercado".

"A saída do Procedimento de Défices Excessivos (PDE) tem uma especial relevância para a economia portuguesa e também para a situação dos mercados. Nós consideramos que há um conjunto de factores positivos associados à economia portuguesa que vão ter uma tradução positiva (favorável) na evolução das taxas de juro".

"Quando temos um salto na taxa de inflação entre oito décimas e um ponto percentual temos de entender que, se analisarmos as taxas de juro reais, esse factor tem de ser descontado. Portanto, a compreensão do que é um determinado nível da taxa de juro num regime de inflação, muda para outro regime. Não estou a dizer que tenho sinais de que a taxa de inflação vá acelerar ou que se vá manter a um nível - não elevado porque 1 a 1,5 pct de inflação não é um número elevado, mas estávamos habituados a viver com taxas de inflação muito mais próximas de zero pct. Essa pequena alteração tem influência nas taxas e elas têm de ser analisadas nesse contexto".

"Eu acho que os fundamentos da economia portuguesa aproximam-na de outrsa economias que têm taxas bastante mais baixas do que as nossas e eu acho que esse é um movimento natural".

"É muito importante que nós consigamos expandir a nossa base de investidores - algo que aliás já aconteceu em 2016 com a introdução de produtos de retalho, que tiveram uma importância no nosso financiamento em 2016".

"Mas, para ir além disso e entrar em outros investidores internacionais, nós precisamos de trabalhar muito afincadamente na melhoria dos 'ratings' da nossa economia e é o grande desafio que temos pela frente"

REUTERS: Em 2017, acha que pode haver algumas alterações de 'rating', não só melhoria de 'outlook'?

MÁRIO CENTENO: "Olhando para aquilo que é a análise temporal que as agências tipicamente fazem e para os números da economia portuguesa, eu estou muito esperançado e trabalharemos nesse sentido para que isso aconteça".

REUTERS: Ou seja melhoria de 'ratings' e não só de 'outlooks'?

MÁRIO CENTENO: "Sim, exactamente. Porque é o ponto crucial obviamente para que o nosso financiamento melhore em termos de taxas. A estabilidade política, as condições financeiras e económicas portuguesas são condizentes com esse tipo de avaliação (favorável das agências)".

REUTERS: Havia rumores no mercado sobre um Bond sindicado esta semana ou por aí?

MÁRIO CENTENO: "Nós estamos a preparar obviamente o nosso plano de financiamento que passa precisamente por uma colocação de dívida nessas condições".

REUTERS: A breve trecho?

MÁRIO CENTENO: "Sim, exactamente. Isso será informado como é habitual pelo IGCP".

REUTERS: Há dúvidas sobre se há instrumentos de dívida portuguesa suficientes para as operações de compra do BCE ou se estamos a chegar à chave ou ao limite permitido pelo BCE. Isto é uma restrição activa que se vai por ou nem por isso?

MÁRIO CENTENO: "É evidente que olhando para as regras que existem hoje e que conduzem a política monetária do BCE, Portugal, não só Portugal mas também Portugal, está sujeito a limites que, mais tarde ou mais cedo, vão ser atingidos".

"É evidente que o BCE, tal como as outras instituições europeias, têm um papel muito importante na condução da política económica a nível europeu. Essa condução da política económica interage com as decisões nacionais".

"Nós estamos a fazer a nossa parte, cumprindo todos os objectivos que nos propusemos chegar, trabalhando juntamente com as instituições europeias, em particular com a DGcomp em muitas áreas que são de enorme relevância para a economia portuguesa, em particular no sector financeiro".

"Estamos obviamente esperançados, e achamos que é assim que vai acontecer, que todas as instituições europeias vão cumprir as suas funções e vão olhar para aquilo que são as necessidades de medidas de política económica que a área do euro necessitar e tomar as decisões correctas".

"É preciso que a economia da área do euro no seu conjunto cresça. Como uma pequena economia aberta, Portugal obviamente beneficiará desse crescimento. Os sinais do ponto de vista de estímulos de política orçamental agregados na área do euro que foram dados na última comunicação da Comissão (Europeia) vão fazer o seu caminho. Portugal sabe exactamente as limitações que tem nessa área e vai continuar a cumpri-las escrupulosamente".

"Mas, necessitamos obviamente de um contexto económico, e beneficiariamos dele, mais favorável, também apoiado em medidas de política económica que possam vir daí".

"As limitações da política monetária são muito bem conhecidas, mas não há nenhuma política orçamental que possa subsistir sem o acompanhamento da política monetária".

REUTERS: Neste momento, o 'cash buffer' do Tesouro está à volta de quanto? E quanto tempo cobre as necessidades?

MÁRIO CENTENO: "Ele está optimizado para cobrir seis meses de colocações de dívida, em média é esta a velocidade de cruzeiro que é o tecto de definição do 'cash buffer'".

"É exactamente isso que acontece. A situação de liquidez neste momento é bastante significativa também por efeitos de que já temos em 'caixa' o montante de capitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A situação de depósitos é muito substancial, é muito positiva, neste momento. Por isso, é que é importante olhar para a dívida líquida porque está já arrecadado o montante de capitalização máximo - porque não sabemos quanto vamos usar desse montante - da CGD, o que nos deixa numa situação confortável face a essa possível pressão. O Estado conseguiu, na sua situação de tesouraria, antecipar essa situação. Portanto, não estamos dependentes dos mercados, neste momento, para essa operação. E essa almofada, que obviamente custa dinheiro ao Estado, tem um papel muito relevante na gestão da dívida pública e do financiamento".

"Enquanto não houver uma classificação mais positiva do ponto de vista do 'ratings' da economia portuguesa, (essa almofada) tem de ser mantida e tem de ser gerida em termos financeiros para acomodar o seu custo".

REUTERS: Quanto à venda do Novo Banco, qual é a sua expectativa agora;

MÁRIO CENTENO: "Nós estamos num momento bastante importante do processo negocial. Todos os agentes políticos e económicos devem manter uma calma bastante visível sobre esse processo".

"Há, neste momento, uma fase de negociação preferencial com um dos investidores potenciais. A situação de venda do Novo banco evoluiu bastante ao longo dos últimos meses, mas, dada a relevância que mantém para o sistema financeiro português, todas as cautelas são poucas".

"Nós consideramos que, daquilo que o Banco de Portugal revelou sobre as propostas, é preciso trabalhar essas propostas. Essas propostas, do nosso ponto de vista, não podem incluir ajudas de Estado a investidores privados".

"É importante entender como é que essas propostas podem ser melhoradas e a partir daí construir cenários que, do nosso ponto de vista, têm sempre que passar pela estabilidade da instituição bancária - que tem muita importância para o país, pela capacidade dessa instituição bancária dar crédito às PMEs, que é aliás um papel charneira que tem na economia".

"Serão sempre bem-vindos investidores externos. Foi sempre a posição do Governo português, mas as condições em que esses investidores chegam tem de cumprir aqui um conjunto de requisitos que preservem, por um lado, as contas públicas e, por outro, o equilíbrio do sistema financeiro em Portugal".

REUTERS: Então, a sua expectativa é alta?

MÁRIO CENTENO: "A minha expectativa sobre a venda mantém-se: essa é a vontade em termos de reintrodução do Novo Banco na esfera financeira em Portugal. Vamos obviamente trabalhar nesse sentido. Não podemos correr riscos com a estabilidade financeira porque todos sabemos a importância que o sector financeiro tem numa economia moderna como a nossa e não podemos ficar reféns de soluções e vamos explorá-las todas as que tivermos à nossa mão, sendo que neste momento o foco é claramente o processo de venda".

REUTERS: Só para precisar. O processo de venda continua com negociações aprofundadas com a Lone Star. Confirma que os outros dois, os a seguir elencados, são a Apollo/Centerbridge e a chinesa Minsheng?

MÁRIO CENTENO: "Esses três potenciais investidores têm vindo inclusive a fazer bastante investimento no conhecimento e nas suas propostas do banco. Eles, de facto, não estão postos de lado. O processo evoluiu desta forma porque dos 'memorandos' de entendimento que tinham sido assinados pelo Banco de Portugal com a Lone Star tinham prazos que tinham de ser respeitados".

"Neste momento, o aprofundamento da proposta da Lone star ocorre nesse contexto. Há também um 'memorando' de entendimento assinado com um dos outros investidores. É um investidor, que não tendo feito uma para o conjunto do banco, se propunha adquirir uma parte do banco - a Minsheng. Essa proposta continu em aberto, na medida do conhecimento que temos. E a informação que temos também é que o consórcio entre a Centerbridge e a Apollo também continua a análise da situação do banco no sentido de poder assinar um memorando de entendimento e, com isso, alterar, melhorar, fazer uma nova proposta".

"Tudo isso são desenvolvimentos que, como é evidente, têm de correr num período relativamente curto de tempo, mas é precisamente a existência desse esforço que, neste momento, tem de ser respeitado e tem que, no contexto negocial, ser explorado o mais possível".

REUTERS: Há um prazo?

MÁRIO CENTENO: "Prazos definitivos não existem, existia este de 4 de Janeiro face ao Memorandum de Entendimento assinado com entre a Lone Star e o Banco de Portugal.

Os prazos são dilatados no sentido em que existe uma autorização para o banco de transição até Agosto de 2017, mas obviamente temos que operar rapidamente. Essa é a urgência que também todas as questões que se levantam com o banco põem".

REUTERS: Caso não se consiga a venda, a nacionalização é uma hipótese que pode vir para cima da mesa?

MÁRIO CENTENO: "Não tem que ser a extinção, antes pelo contrário, isso está basicamente fora de causa. O 'ranking' de prioridades face ao Novo Banco é muito claro: temos de zelar pela estabilidade do sistema financeiro, e um banco que tem vindo a crescer em termos de depósitos, que tem um papel sustentado e sustentável de apoio ao tecido empresarial tal como o Novo Banco mantém hoje e ao longo de todos estes meses".

"É uma instituição que por estes indicadores revela a sua relevância para a economia portuguesa e para o sistema financeiro. Essa é uma primeira prioridade. A segunda prioridade é que esta estabilidade seja conseguida com o processo de venda do banco que não coloque ónus nas contas públicas ao tratar-se de um investidor privado".

"E neste sentido, como dizia há pouco, nenhuma porta pode ficar fechada porque para conseguir combinar critérios ou objectivos que às vezes parecem contraditórios nós temos que alargar o conjunto de possibilidades de actuação e portanto, claramente, admitir que perante um cenário que não se consubstancie numa venda, possa haver outras alternativas que permitam atingir o primeiro dos critérios que é a estabilidade do sector financeiro".

"Evidente que qualquer solução nesse campo tem de ser trabalhada com as autoridades europeias, quer de supervisão quer de concorrência, e nacionais também, mas essa é a forma como o Governo tem actuado em todas as matérias que se prendem com o sector financeiro".

"O enorme sucesso que foi o acordo com a Comissão Europeia em torno da Caixa Geral de depósitos é bem exemplo daquilo que é a determinação que temos e que manteremos de, em conjunto com as autoridades europeias, e num contexto de enorme colaboração, cooperação e transparência com essas autoridades, resolver os problemas do sistema financeiro".

REUTERS: Ao olhar para o 'outlook' da Europa há muitos analistas que têm algum medo, com as eleições na Alemanha e França por exemplo. Como é que vê estes riscos para a zona euro e para Portugal?

MÁRIO CENTENO: "Nunca farei comentários sobre processos que se passam noutras jurisdições políticas e isso não é só para dizer que também acho que eles não devem fazer o mesmo para Portugal".

"É só uma questão de entender o seguinte. Nós vivemos de facto na Europa um período complexo do ponto de vista político, sem me querer tornar analista político, há fenómenos que têm surgido na Europa ultimamente que, pelo menos de uma forma aparente, colocam em causa boa parte da construção europeia que temos feito ao longo das últimas décadas".

"Na minha opinião, isso surge muitas vezes porque as posições políticas assumem um formato de inexistência de alternativas e em democracia a inexistência de alternativas é um procedimento que não é muito compatível com o processo eleitoral em geral".

"Portanto, os eleitorados confrontados com evoluções que nem sempre são muito favoráveis do ponto de vista económico, em particular do ponto de vista redistributivo, tomam opções que aparentemente são contra processos de evolução institucional que a Europa vinha experimentando".

"Há um indicador que eu costumo dar e que é muito simples de seguir, e também muito claro na influência no sentido de voto que é, quando comparamos a evolução do rendimento médio com o rendimento mediano".

"Sempre que o rendimento médio durante um período suficientemente longo de tempo mais que o rendimento mediano, o votante mediano que é quem em última análise decide o sentido de umas eleições tende a ter um comportamento contra os processos em curso".

"Porque não os entende, porque não é beneficiado por eles, porque encontra nessa evolução algo que não o beneficia. Portanto, resultando num determinado tipo de sentimento que se cristaliza em determinado tipo de fenómenos políticos".

"Diria que as eleições na Holanda, em França, na Alemanha e eventualmente em Itália que vão ocorrer nos próximos meses vão, como em todos os outros países onde tem havido eleições, confrontar este tipo de tensões e evoluções".

"O que temos de apresentar aos nossos eleitores e nestes países também é um menu de alternativas para não os deixar sem esse tipo de escolhas e estas alternativas devem partir do centro da construção da Europa e não das franjas e das margens".

"É a isso que temos de apelar. É que consigamos dentro daquilo que é a construção da Europa, que é sempre lenta e muito debatida do ponto de vista político, possa casar com uma evolução económica que, não sendo extraordinariamente positiva, também não tem nesta fase características de crise".

"Não estamos obviamente num tempo que se possa descrever como tal. Permita que essas opções existam e sejam debatidas. Quando nos acantonamos demasiado em frases como 'não alternativa', tipicamente aquilo que é a construção que estamos a fazer não é entendida pelos eleitores".

REUTERS: Um resultado de tudo isso é que a política de austeridade fiscal na Europa vai desaparecer?

MÁRIO CENTENO: "Nós temos, na Europa como um todo, bons indicadores fiscais. Estamos a chegar a um momento em que é necessário apresentar às populações alguns benefícios dessa política".

"Se não o fizermos vamos ter aquilo que referi há pouco que é um crescimento médio que, mesmo não sendo muito grande, porque não é muito grande, se calhar pior ainda porque não é muito grande, acaba por não beneficiar a metade baixa da distribuição de rendimento, o tal rendimento mediano, e isso causa tensões".

"Sem estarmos a querer neste momento discutir as virtudes ou não virtudes de um determinado processo pelo qual a Europa passou. Isso já não há nada a fazer. É importante que tenhamos neste momento a capacidade de perceber que esse esforço possa agora ter um benefício social e económico que possa agora chegar às populações".

"As pressões demográficas internas e externas não permitem fazer da Europa um mundo fechado. A Europa hoje é uma área geográfica, social e económica muito vasta, que tem fronteiras com regiões bastante complexas e o espaço europeu não pode viver fechado nas suas próprias políticas internas. Isso vai ter que acontecer inevitavelmente".

"Não é sequer por em causa o processo que passou, em termos de austeridade, é simplesmente identificar que é necessário, aliás a declaração da Comissão Europeia de Dezembro, com todas as hesitações políticas que sempre tem, porque no fundo é um resumo de muitas tendências e muitas sensibilidades, tornou claro".

"É necessário através do investimento, através de uma política que seja sustentada e sustentável em termos sociais, trazer às populações europeias uma perspectiva de crescimento que seja compatível com as suas ambições".

REUTERS: Tem mais informação orçamental sobre 2016. Já se consegue apontar para um número mais fino de 'target'. O défice de 2,4 pct do PIB está entendido como alcançável. Mas poderá ficar abaixo dos 2,4 pct em 2016?

MÁRIO CENTENO: "Percebo a curiosidade mas deixe-me passar a mensagem que quero passar sobre isso. Portugal vai sair do procedimento por défices excessivos, isso consegue-se com uma redução do défice muito significativa em 2016, colocando-o tautologicamente abaixo dos 3 pct, muito significativamente abaixo de 3 pct e com uma probabilidade muito elevada abaixo de 2,4 pct".

"Cumprimos essa meta que nos tínhamos proposto no início do ano que era retirar o país do procedimento por défices excessivos. Note que foi um ano difícil. O Ministério das Finanças teve de lidar com dois orçamentos que foram aprovados, validados pela Comissão Europeia".

"Um ano em que tivemos um processo de sanções que foi evitado pela determinação firme com que o Ministério em Bruxelas fez valer os pontos económicos, financeiros e obviamente políticos de Portugal nesse processo".

"E de suspensão de fundos que também foi cancelado pelas mesmíssimas razões. Eram processos que avaliavam o passado recente da economia e das finanças públicas portuguesas mas que interagiram inevitavelmente do ponto de vista político com a realidade de 2016. Foi a determinação do Governo nessa dimensão que fez com que esses processos fossem evitados e cancelados".

"Os números que temos desde os meados do ano em termos fiscais são de uma aceleração das receitas fiscais. Já há pouco falei do crescimento das contribuições sociais que estão acima de 5 pct. As receitas do IVA, em termos brutos, estão acima de 3 pct nos últimos meses em média. O IRS em termos brutos também está a evoluir, porque o mercado de trabalho está a gerar emprego e os salários a aumentarem".

"Portanto, do lado das receitas, o ano que começou de forma tíbia porque a economia não estava a crescer no início do ano o que desejávamos, recuperaram. A despesa foi durante todo o ano, de forma muito consistente e coerente, contida transversalmente".

"Não foi apenas a questão de despesas com pessoal, cuja gestão foi muito rigorosa ao longo do ano, que faz com que no sector do Estado as remunerações certas e permanentes estejam a crescer abaixo do esperado dada a reposição salarial, mas foi também nas aquisições de bens e serviços que estão a cair, como numa gestão do esforço de investimento que está muito ligada ao Portugal 2020, que por inerência do atraso em que encontrámos esse programa, também em 2016, as despesas de investimento não estão a crescer ao nível em que estavam no orçamento".

"O conjunto das despesas está de facto a crescer muito abaixo do que estava orçamentado e isso foi a resposta que o Estado teve que dar a uma evolução fiscal que começou o ano abaixo do esperado e também a um aumento extraordinário, que não se vai repetir em 2017, dos reembolsos".

"Porque um conjunto de medidas que transitaram de 2015, se relembrarem da discussão que tivemos com a Comissão Europeia no contexto do orçamento de 2016 sobre medidas temporárias que tinham impacto no Orçamento de 2015, muitas dessas medidas tinham precisamente a ver com esta postecipação de reembolsos que o anterior Governo promoveu e que significa que em 2016 vamos ter 900 milhões de euros a mais de reembolsos fiscais".

"Isto até acaba por ser bom para a economia porque é dinheiro que é devolvido aos contribuintes, sejam eles famílias sejam eles empresas. São 900 milhões de euros em IVA, IRS e IRC que obviamente causam uma dificuldade adicional na gestão orçamental. Tudo isso foi ultrapassado e o Estado chega ao fim do ano com um número bastante positivo".

"Essa é a mensagem mais importante também para os leilões e para os sindicatos de dívida que aí vêm. A dívida está a cair. O país vai sair do PDE- Procedimento por Défices Excessivos, são assim as mensagens que temos para apresentar. Já agora em relação ao investimento que tem sido o nosso calcanhar de Aquiles".

"É um número muito micro provavelmente mas é um número muito relevante, dada a fama até como as estatísticas tratam o investimento, que é o consumo de cimento que veio a recuperar ao longo do ano e tem o primeiro valor positivo em termos homólogos de muitos meses agora no final do ano".

"O consumo de cimento aumentou mas os outros investimentos produtos - máquinas e material de transporte - está em crescimento muito forte. Algum dele desde o princípio do ano atingiu valores muito elevados nos últimos meses. A venda de veículos pesados aumentou 54 pct em termos homólogos em Dezembro. No conjunto do ano aumentou praticamente um número entre 25 e 30 pct, o mesmo para os veículos comerciais ligeiros".

"No final do ano crescem 22 pct e 15 pct no conjunto do ano. Quando olhamos para as importações de máquinas vemos também uma aceleração significativa de modo que no terceiro trimestre o investimento empresarial cresce 7,7 pct".

"Este número obviamente para que seja sustentado tem que continuar nos próximos trimestres. A informação que temos do quarto trimestre corrobora esta evolução. Também aí há uma mudança de trajectória que observamos como muito positiva e consideramos que vamos também aí no bom caminho".

REUTERS: Então os 1,5 pct de crescimento do PIB em 2017 é conservador?

MÁRIO CENTENO: "Neste momento, o efeito de 'carry over' do crescimento do final do ano dá-nos praticamente entre 60 e dois terços desse crescimento já. É uma percentagem muito significativa de crescimento por efeitos de 'carry over'. O 'carry over' de 2015 para 2016 é muito pequenino, à volta de 0,3. Agora estamos a falar de um 'carry over' que se aproxima quase de um ponto percentual".

"Portanto, isso dá-nos uma consistência no cenário macro bastante grande e coloca em termos homólogos o quarto trimestre praticamente o que tínhamos objectivado para o conjunto de 2016, ou seja 1,8 pct, algo muito próximo já de uma taxa de crescimento significativa. Fomos o país que mais cresceu na área do euro no terceiro trimestre".

"Em termos homólogos isso vai se materializar trimestres nos próximos trimestres que também nos vai colocar no topo do crescimento na área do euro. Essa dinâmica é muito importante para a economia portuguesa, aliás sustentada em números de confiança quer dos consumidores quer dos empresários que vêm em crescendo".

"Temos de alavancar nessa confiança e nesse comportamento da nossa economia que não esmoreceu no quarto trimestre, nalgumas dimensões antes pelo contrário. Vamos com certeza enfrentar todos os receios e riscos que qualquer economia tem em 2017 numa posição muito diferente da que iniciámos em 2016".

"Estamos confiantes que aceleração da economia vai continuar, é isso que aponta a nossa projecção, não vamos rever os números enquanto não for esperado que tal aconteça. No final de Março teremos informação importantíssima para nós do PDE- Procedimento por Défices Excessivos".

(Por Sérgio Gonçalves e Axel Bugge; Editado por Daniel Alvarenga)

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