(Texto atualizado com mais informações)
Por José de Castro
SÃO PAULO, 28 Ago (Reuters) - O dólar despencou quase 3% ante o real nesta sexta-feira, com expressivo movimento de zeragem de posições no mercado doméstico diante de novo rali em ativos de risco no exterior e de um tombo global do dólar, com investidores apostando em manutenção de estímulos monetários nos mundo por mais tempo.
O dólar à vista BRBY caiu 2,93%, a 5,4156 reais na venda. É a maior desvalorização diária desde 2 de junho (-3,23%). O patamar é o mais baixo desde 13 de agosto (5,3675 reais).
Na semana, o dólar caiu 3,41%. Em agosto, a moeda avança 3,78%, enquanto em 2020 sobe 34,95%.
Na B3, o dólar futuro DOLc1 caía 2,97%, a 5,4050 reais, às 17h08.
"O exterior foi um driver forte dos mercados (domésticos) hoje. O dólar está caindo no mundo e Wall Street renovando recordes. Isso está provocando um ajuste em ativos que estavam para trás, como os do Brasil", disse Roberto Serra, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos.
O mercado vinha elevando posições contrárias ao real diante do aumento do risco político doméstico, da queda da Selic a mínimas recordes e da contração econômica, combo que piorou a relação risco/retorno de investimentos na renda fixa brasileira. Esse contexto desestimulou entrada de capital no país e ajudou a pressionar o dólar para cima.
Mas nesta semana alguns bancos estrangeiros divulgaram relatórios recomendando compra de real, citando, entre os motivos, a percepção de posições "sobrecarregadas" em venda de reais.
O Bank of America (NYSE:BAC) citou, por exemplo, que, pelos dados da B3, investidores domésticos elevaram suas posições contrárias ao real quase a patamares pré-reforma da Previdência --aprovada em outubro de 2019.
Nesta sexta, o dólar caía contra todos os seus principais pares nesta sessão --com a queda mais forte sendo justamente contra o real--, em meio à avaliação do mercado de que a mudança de abordagem pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) em relação à sua política monetária pode significar longo período de baixas taxas de juros --o que deprime a atratividade do dólar como ativo para investimento.
O dólar cedia 1,7% ante o peso mexicano MXN= , 1,5% contra a moeda da Nova Zelândia e 1,1% frente ao iene. O índice do dólar em relação a uma cesta de divisas =USD caía 0,74%.
Para a próxima semana, além do noticiário fiscal, o Bradesco (SA:BBDC4) chama atenção para os números do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, a serem divulgados na terça-feira.
"O PIB deve ter recuado 8,9% no último trimestre, configurando a segunda queda consecutiva. O dado deve refletir a retração do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo, refletindo as medidas de distanciamento social e o elevado nível de incertezas do período", disse o banco em nota. (Edição de Maria Pia Palermo)