Por Sergio Goncalves
LISBOA, 19 Fev (Reuters) - A tecnologia de 5G da sueca Ericsson ERICb.ST , da finlandesa Nokia NOKIA.HE e da coreana Samsung 005930.KS é competitiva face à da chinesa Huawei e os países europeus não têm nenhuma razão para correrem para os braços deste vendor de alto risco, disse Robert Strayer, oficial do Departamento de Estado dos EUA.
Este vice-secretário adjunto do Departamento de Estado para a Comunicação Cibernética e Internacional e para a Política de Tecnologia de Informação, disse que é "preciso desmistificar" que a Huawei está mais avançada pois não há diferenças.
Robert Strayer está a reunir-se em Portugal com membros do Governo, deputados, com o regulador Anacom e os três maiores operadores de telecoms portugueses Altice Portugal ATCA.AS , Vodafone VOD.L e NOS NOS.LS .
Afirmou que os EUA estão a encorajar os países europeus "a pensarem com muito cuidado sobre as implicações de segurança e económicas de se apressarem para esta tecnologia" da Huawei.
Adiantou que na China "não há um judiciário independente, nem Estado de direito" e que Pequim impõem o cumprimento das ordens dos serviços de segurança e de inteligência, podendo requerer à Huawei ou outro vendor chinês que o partido comunista chinês aceda a comunicações ou até interrompa esta rede crítica.
"Não há maneira de mitigar completamente qualquer tipo de risco, excepto o uso de vendors confiáveis de países democráticos", disse Robert Strayer aos jornalistas.
"A boa notícia é que a Ericsson, a Nokia e a Samsung fornecem tecnologia 5G igual à que a Huawei está a fornecer hoje. Elas - Ericsson, Nokia e Samsung - estão a liderar o mundo no tipo de tecnologia que possuem", adiantou.
Washington quer convencer os seus aliados a banir a tecnologia da Huawei, o maior produtor mundial de equipamentos de telecomunicações, pois teme "portas dos fundos" para espionagem pela China - uma alegação negada pela Huawei e por Pequim. afirmou que o 5G está ainda numa fase inicial, estando distante de estágios avançados como os dos veículos autónomos e telemedicina, e "portanto, não há razão para ter pressa agora e tentar implementações com vendors que podem ser arriscados".
Adiantou que os vendors ocidentais como a Ericsson e a Nokia vão usar uma arquitectura aberta, com muito mais funcionalidade e muitos mais players, sendo uma grande oportunidade para as empresas dos EUA, Europa e Portugal fornecerem aplicações.
"Haverá um enorme crescimento económico para pequenas e médias empresas no futuro, em vez do modelo chinês que é um ecossistema fechado de algumas empresas muito grandes, que fecham as economias locais onde a tecnologia é implantada".
"Reconhecemos que há um número limitado de vendors atualmente e queremos mais, por isso, nos Estados Unidos, planeamos trabalhar com o nosso sector privado para começar a mudar para esse formato de arquitetura aberta".
Adiantou que empresas americanas como a Dell, Cisco (NASDAQ:CSCO), Juniper, and VMware "desejam desempenhar um papel futuro" e vê muitas empresas europeias também a envolverem-se.
Disse que, no caso da NATO, de que Portugal faz parte, os EUA "terão de reavaliar como se relacionam com redes de aliados comprometidas pela tecnologia 5G da China, do PC chinês".
"Não significa isso uma ameaça, apenas uma realidade prática de que precisamos nos proteger...não queremos ver nenhuma diminuição do nível de cooperação que temos nessas áreas, mas temos que proteger informações, algumas são classificadas, outras são apenas confidenciais".
Em Janeiro, a UE seguiu o exemplo da Grã-Bretanha, permitindo que os membros decidam qual o papel da Huawei na rede de telecomunicações 5G, resistindo à pressão de Washington para que haja uma proibição total. países da UE podem restringir ou excluir fornecedores de 5G de alto risco, como a Huawei, de partes principais das suas redes de telecomunicações, de acordo com as novas directrizes, que visam abordar os riscos de segurança cibernética para os países do bloco a nível nacional e da UE.
Na semana passada, Portugal aprovou as directrizes da sua estratégia 5G, a implementar até 2025, e lançou um grupo de trabalho para monitorar os riscos e a segurança desta rede, prometendo aplicar sempre as medidas definidas a nível da UE.
"Não está claro exatamente como (o 5G) será criado aqui em Portugal, mas parece haver o reconhecimento de que algo tem de ser feito para abordar as medidas técnicas e as preocupações não técnicas".
"A responsabilidade real é dos Governos, eles não podem terceirizar isso para as operadoras de telecomunicações, esta é uma decisão de segurança nacional", concluiu.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)