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Por Sergio Goncalves
LISBOA, 7 Abr (Reuters) - O novo terminal de contentores do porto de Sines não teve nenhum 'bid' devido à pandemia COVID-19, apesar do concurso ter atraído a atenção política de Washington e Pequim, segundo o presidente da Administração dos portos de Sines e Algarve.
Portugal lançou o concurso internacional em Outubro de 2019 para a construção e exploração do terminal do porto de águas profundas, o mais próximo da Europa continental ao Canal do Panamá. O prazo de licitação foi fixado para 6 de Abril, após um adiamento face ao prazo inicial de final de 2020.
"Naturalmente, temos consciência que este contexto de pandemia não é o melhor para um concurso desta natureza, há todo um conjunto de situações que não favorecem o momento", disse à Reuters o presidente da administração dos Portos de Sines e Algarve, José Luís Cacho, para explicar a ausência de propostas.
Cacho disse que 52 entidades - entre operadores, financeiras e escritórios de advogados - manifestaram interesse e tiveram acesso aos documentos do concurso. O porto de Sines tinha promovido o concurso "aos principais operadores da China, Estados Unidos, América do Sul", vários países europeus e Israel, disse Cacho.
Duas fontes com conhecimento do processo que não quiseram ser identificadas disseram que a pandemia deixou claro que as regras do concurso precisam ser melhoradas para aumentar a rentabilidade do projecto e reduzir o risco para os investidores privados no longo prazo.
Cacho reconheceu que "algumas condições poderiam ser melhoradas em termos de competitividade" do modelo, mas não deu mais detalhes.
Disse que há interesse internacional no porto de Sines e "poderá haver necessidade de abrir um novo concurso, com regras melhoradas, mas essa é uma decisão do governo".
"Temos que falar com o governo para decidir isso. Uma coisa é certa: se não foi hoje, será amanhã", disse.
A PSA de Singapura, que opera o único terminal de contentores existente no porto, está em processo de aumentar a sua capacidade.
A expansão planeada será crucial também para aumentar a capacidade do porto para receber navios maiores e mais cargas de GNL do exterior - chave para aumentar os negócios de 'trans-shipment'.
Ele disse que os custos directos do porto de Sines são competitivos e o tempo de operação das embarcações é eficiente, permitindo que a movimentação de contentores tenha crescido 13,5% em 2020 para 1,6 milhões de TEU - "um dos portos que mais cresceu em Europa".
EUA CONTRA CHINA
O concurso, que previa que o vencedor investisse 642 milhões de euros nos próximos três anos para construir o terminal, tem estado sob os holofotes políticos dos governos dos EUA e da China.
Washington expressou preocupação com o facto de Portugal ser um dos maiores receptores europeus de investimento oriundo da China nos últimos anos, uma vez que as empresas chinesas têm grandes participações no sector de energia, bancos, seguros e saúde. final de 2018, Pequim e Lisboa assinaram um memorando de entendimento e cooperação na nova 'rota da Seda' chinesa - que promove a expansão das ligações terrestres e marítimas entre a Ásia, a África e a Europa.
De acordo com o jornal português Publico, gigantes chineses como a estatal Cosco e o Shanghai International Port Group manifestaram interesse inicial em expandir o porto.
Em Fevereiro de 2020, o então secretário de Energia dos EUA, Dan Brouillette, visitou o porto com dezenas de executivos de empresas americanas e expressou grande interesse devido à sua posição estratégica para as exportações de gás natural liquefeito (GNL) para a Europa. que já tem um terminal de GNL, poderia ser expandido para um hub maior capaz de receber transbordos de GNL, com regaseificação e instalações de armazenamento subterrâneo e ligações por pipeline ao resto da Europa, disse Brouillette na altura. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)