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Mais difícil do que dinheiro

Publicado 16.09.2013, 11:00

Grandes economistas, sobretudo americanos, têm vindo a criticar o que chamam a opção europeia pela austeridade. Surge a situação insólita de ver prémios Nobel concordar com extremistas políticos ou blogues inflamados. É curioso ter Joseph Stiglitz e Jerónimo de Sousa do mesmo lado. Como explicar o paradoxo?

Existe um mal-entendido de palavras. Quando falam de austeridade, os opinadores populares referem os cortes que nos impedem de viver como vivíamos antes da crise. Ora isso é um irrealismo, pois a situação anterior à crise era insustentável, como podemos constatar... pela crise.

O problema é endividamento. De 2001 a 2010, Portugal gastou mais 9% do que produzia (o défice externo), atingindo em 2013 uma dívida externa bruta de 236% do PIB, uma das maiores do mundo. Este é o núcleo da dificuldade, que as conversas de café, os blogues e os comícios normalmente omitem. Só para tapar a fuga e equilibrar as contas, o aperto é forte e, dado a ilusão ter sido longa, são velhos os hábitos a mudar. Como além de estancar a sangria é preciso pagar juros e ir amortizando a dívida, o sofrimento será grande e demorado.

Como os analistas ocasionais atribuem o esbanjamento a corruptos, incompetentes e bandidos, consideram-se isentos da austeridade; ela devia existir, mas para outros. Isso é também irrealismo. Um buraco destes nunca podia ter apenas culpados individuais ou sequer sectoriais nem seria resolúvel sem sacrifício nacional. A origem da crise foi o longo clima de facilidade em que todos, mais ou menos, participámos voluntariamente. Procurar responsáveis é compreensível no meio da fúria, mas todos beneficiámos e todos temos de pagar.

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A análise dos tais cientistas não cai neste erros e é mais subtil, embora omita um decisivo detalhe lateral. Uma situação de endividamento como a nossa traz sempre um terrível dilema. Se o credor exigir pagamento imediato, estrangula o devedor e perdem os dois. Seria melhor dar tempo para pôr a casa em ordem, recuperar a produção, beneficiando todos com a prosperidade. Isto é o que aconselham os professores famosos, insurgindo-se contra o FMI e a política europeia que criaram a miséria grega e portuguesa. Acusam o programa de ajustamento de gerar a recessão na União, que impede a remissão dos créditos. Esta opinião é sólida e verdadeira, mas ignora o aspecto político, que complica muito a linearidade do impecável raciocínio financeiro.

De facto, a receita de benevolência que recomendam é seguida há muito na Europa. Pode mesmo dizer-se que foi ela que nos meteu no sarilho. Porque o sinal de alarme financeiro não soou em 2011, ou sequer em 2008. Portugal foi o primeiro país do euro a violar o Pacto de Estabilidade, logo em 2001, e a Grécia já o violava muito antes de entrar. Era patente que a dívida estava numa trajectória insustentável. Mas a União Europeia decidiu dar tempo para os devedores porem a casa em ordem, recuperarem a produção, ganhando todos com a prosperidade. Essa benevolência foi pretexto para mais esbanjamento, fingindo e criar emprego e gerar produção. Conhecemos muito bem por cá esta fantasia.

Isto leva-nos ao verdadeiro núcleo da dificuldade. A actual recessão não vem sobretudo da globalização, da corrupção ou da incompetência política. O problema europeu não é essencialmente fiscal, financeiro ou sequer económico. É de confiança. Os países com excedente não acreditam nos deficitários, que há muito abusam. Exigem provas de seriedade antes de os aliviarem. Pelo seu lado, os endividados irritam-se com a falta de solidariedade e desconfiam da unidade europeia. Todos têm razão. A cura da terrível doença da suspeita é muito pior do que memorandos ou reformas do Estado. E a fúria popular agrava tudo.

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A troika interveio quando se esgotou a paciência dos credores e a reputação dos devedores. Impôs forte aperto só para equilibrar as contas e tapar a fuga que, ao fim de três anos e muitos esforços, o Governo não conseguiu. E ninguém acredita que consiga. O que falta é muito mais raro e precioso do que dinheiro. É credibilidade.

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