Neste artigo falo sobre os 4 Ps do Investimento.
São 4 indicadores que comparam o preço das ações das empresas cotadas em Bolsa com o seu real valor face a: 1) Vendas; 2) Lucros; 3) Valor Contabilístico; e 4) Fluxos de Caixa. Para calcular estes indicadores consideram-se, normalmente, os últimos 12 meses de operações (o ano fiscal). Mas também podem ser calculados, por exemplo, ao trimestre.
Mas antes de avançarmos para os 4 Ps, importante dizer também o que é a Capitalização Bolsista, pois este termo é usado ao longo do texto. Capitalização Bolsista refere-se ao valor total de mercado das ações em circulação de uma empresa. Dito de outra forma, é o valor que os investidores consideram que a empresa vale em mercado. E calcula-se multiplicando o preço de uma ação individual pelo número total de ações em circulação num dado momento. Comecemos então a falar dos 4 Ps.
1) P/S: Price to Sales (Preço face às Vendas)
É um rácio que compara o preço das ações com as vendas da empresa. Pode ser calculado dividindo a Capitalização Bolsista da Empresa pelas suas Vendas ou o preço de uma ação pelas vendas por ação (Sales per Share).
Um valor reduzido de P/S pode significar que a empresa está SUB-valorizada pelos investidores; um valor alto de P/S pode significar que a empresa está SOBRE-valorizada. Uma das desvantagens de usar apenas este indicador é que ele considera apenas as vendas brutas, e não os ganhos líquidos. Ou seja, não considera se dessas vendas foi conseguido algum lucro líquido ou se boa parte desse dinheiro foi para impostos, taxas, depreciações, amortizações, etc.
2) P/E: Price to Earnings (Preço face aos Lucros)
Já o P/E mede o preço de uma empresa face aos seus lucros. Diz-se que, em teoria, o P/E indica o número de anos necessários ao investidor para recuperar o investimento se os lucros se mantiverem constantes nos anos seguintes. Ou seja, se conseguirmos uma empresa com um P/E de 1, significa que no ano seguinte já recuperamos a totalidade do teu investimento. Não é impossível, mas… é raro encontrar situações destas! Este múltiplo dos lucros pode ser calculado dividindo a Capitalização Bolsista da Empresa pelos seus Lucros ou o preço de uma ação pelos lucros por ação (Earnings per Share).
Um valor reduzido de P/E pode significar que a empresa está SUB-valorizada pelos investidores; um valor alto de P/E pode significar que a empresa está SOBRE-valorizada.
Contudo, numa empresa que não apresente lucros ou uma empresa que apresente prejuízos, é impossível calcular o P/E (aqui é importante lembrar a matemática elementar: se dividirmos um número por zero…bem, não se pode dividir). Quando uma empresa apresenta um elevado múltiplo P/E quer dizer que os investidores esperam um elevado crescimento dos seus lucros nos próximos anos e, por isso, estão dispostos a pagar um preço mais elevado por esse crescimento. Normalmente, as chamadas Empresas de Elevado Crescimento (Growth Stocks) apresentam P/E elevados, muitas vezes acima de 20 ou 30. Paga-se pelo crescimento da empresa – o problema bate à porta quando a empresa trava a fundo e deixa de crescer 20% ao ano; aí as cotações (preço das ações) costumam vir abaixo e o P/E também.
Este indicador também é usado para avaliar o próprio mercado. Isto é, perceber se o mercado está ‘sobre-aquecido’ (caro) ou se está ‘arrefecido’ (barato). Ouve-se muitas vezes que o índice S&P500 (que reúne algumas das 500 maiores empresas dos EUA) está a cotar com um P/E de 23 e por isso o mercado está aquecido; ou que o índice está a cotar a um P/E de 12 e por isso está barato. Claro que há mais indicadores a ter em conta para avaliar o próprio mercado, mas este é um deles.
3) P/B: Price to Book Value (Preço face ao Valor Contabilístico)
Mede o preço de uma empresa face ao seu valor contabilístico (o valor do ‘livro de ativos’ da empresa).
Também é conhecido como Net Asset Value (NAV) ou valor líquido dos ativos, por subtrair os ativos intangíveis (como patentes, valor da marca, etc.) e os passivos (liabilities) aos ativos totais. Este múltiplo do valor contabilístico pode ser calculado dividindo a Capitalização Bolsista da Empresa pelos seus Ativos ou o preço da ação pelo valor contabilístico por ação (Book Value per Share). Lembrar que se subtrai os passivos aos ativos para se obter o valor contabilístico (Book Value = Assets – Liabilities; Valor Contabilistico = Ativos – Passivos).
Esta métrica foi popularizada no século passado porque, em teoria, se comprarmos uma empresa e liquidarmos todos os seus ativos e pagarmos todas as suas dividas, ficamos com o restante (o valor contabilístico) para nós. Ou seja, se o valor dos ativos de uma empresa é de 100 milhões de euros, os passivos de 60 milhões de euros, então o valor contabilístico é de 40 milhões, e ficaríamos com esse valor se liquidássemos completamente a empresa. Um valor reduzido de P/B pode significar que a empresa está SUB-valorizada pelos investidores; um valor alto de P/B pode significar que a empresa está SOBRE-valorizada. No passado P/B inferior a 1 era considerado excelente, mas como muitos dos ativos das empresas começaram a ser intangíveis (por exemplo as empresas tecnológicas detêm centenas ou milhares de patentes e o valor das suas marcas é difícil de medir), esta métrica começou a ser menos preponderante na procura de bons investimentos. Uma das limitações deste indicador é que se torna mais complexo calcular o valor contabilístico quando uma empresa adquire outra para os seus balanços ou recompra ações próprias.
4) P/FCF: Price to Free Cash Flow (Preço face aos Fluxos de Caixa)
Mede o preço de uma empresa face aos fluxos de caixa (o mesmo que dizer fluxos de dinheiro).
Esta medida – o FCF – subtrai as Despesas com o Crescimento da empresa (o chamado CAPEX, do inglês CAPital EXpenditures) aos Fluxos de Caixa Operacionais (Operating Cash Flow) da empresa. Por exemplo, se os Fluxos de Caixa Operacionais de uma empresa são de 100 milhões de euros e a empresa apresenta Despesas com o Crescimento de 60 milhões de euros, isso quer dizer que gera Fluxos de Caixa (FCF) na ordem dos 40 milhões de euros.
O FCF representa o valor que pode ser usado pela empresa para pagar dividendos aos acionistas, recomprar ações próprias, pagar aos credores, entre outras coisas. É por isso que é tão importante verificar este valor quando estamos a analisar empresas que pagam dividendos: é importante perceber se elas têm capacidade de pagar os seus compromissos aos acionistas ou se nos vão falhar à primeira dificuldade (como acontece com algumas empresas em tempos de crise, que cortam os dividendos).
Este múltiplo de geração de fluxos de dinheiro pode ser calculado dividindo a Capitalização Bolsista da Empresa pelos fluxos de caixa (FCF) ou o preço da ação pelos fluxos de caixa por ação (Free Cash Flow per Share).
Normalmente, um valor reduzido de P/FCF pode significar que a empresa está SUB-valorizada pelos investidores; um valor alto de P/FCF pode significar que a empresa está SOBRE-valorizada. A grande diferença entre o P/FCF e o P/E é que o P/E é uma norma contabilística, enquanto que o P/FCF é uma medida de lucratividade da empresa, excluindo despesas não-monetárias e incluindo antes despesas com a compra de equipamento e outros ativos que permitam à empresa crescer. É por isso que alguns investidores acabam por preferir usar o P/FCF em detrimento do P/E.
Como se viu, considera-se que uma empresa está SUB-valorizada quando estes múltiplos (os 4 Ps) se apresentam com valores reduzidos. No entanto, devemos sempre comparar estes indicadores entre empresas do mesmo setor. As vendas, os lucros, o valor dos ativos, e a geração de fluxos de caixa são mais semelhantes entre empresas da mesma indústria do que entre empresas de indústrias diferentes. E por isso não faz sentido comparar os lucros de uma empresa tecnológica com os lucros de uma empresa do setor automóvel. Ou comparar os fluxos de caixa livre (FCF) de uma empresa farmacêutica com os de um banco. É preciso fazer sempre comparações entre empresas do mesmo setor.
Ainda, é importante que se faça uma comparação temporal. O preço sobre as vendas, lucros, etc. deve ser comparado com a média histórica da própria empresa. Só assim percebemos se estás a pagar um preço demasiado alto ou reduzido por uma empresa. Se a empresa XPTO apresenta um P/E médio de 20 nos últimos 30 anos e num dado momento passa a cotar com um P/E de 13, então pode ser bom sinal.
Estes são os 4 Ps de investimento importantes para investir. Devemos usá-los nas nossas avaliações de empresas para encontrarmos verdadeiras oportunidades de investimento. Para encontra saldos (empresas que estejam a cotar abaixo do seu valor intrínseco).