Descrição
O ING Groep (AS:INGA) é uma das maiores instituições financeiras a operar na Europa. Apesar de o seu produto bancário ter uma proveniência predominantemente europeia (~90%), com particular concentração nos membros da organização Benelux (~50%), o banco multinacional de origem holandesa tem presença em mais de 40 países, abrangendo também o continente americano, asiático e Oceânia. Dum ponto de vista de negócio, o ING exibe um modelo relativamente simples e bipartido, com o segmento de banca de retalho a representar cerca de 60% do produto bancário, enquanto o segmento wholesale banking contribui com os restantes 40%.
Racional
Os resultados relativos ao primeiro trimestre de 2018 reiteraram a posição de destaque que o ING ocupa no sector financeiro europeu. O crescimento sequencial de
empréstimos a clientes atingiu os 2,2%, apenas no primeiro trimestre, o que deverá permitir ao banco alcançar com relativa facilidade o seu objectivo anual de crescimento da carteira de crédito (3%-4%). A expansão de EUR 12,3 mil milhões, em termos absolutos, no portefólio de empréstimos reflectiu um contributo positivo de todas as unidades geográficas e de ambos os segmentos: banca de retalho (EUR +5,2 mil mi) wholesale banking (EUR +7.1 mil mi). A margem financeira fixou-se nos 1,52%, reflectindo constância face aos trimestres anteriores. Acreditamos que a elevada saúde macroeconómica do mercado holandês (33% do produto bancário), a par dum cenário – já não tão longínquo – de normalização de política monetária, criará espaço para um alargamento da margem financeira.
No que diz respeito à qualidade da carteira de crédito, o rácio NPL, já segundo as novas normas contabilísticas (IFRS 9), atingiu os 1,7% no primeiro trimestre – um dos
rácios mais baixos entre os bancos europeus comparáveis. A manutenção da recuperação económica europeia, mesmo que a um ritmo mais vagaroso, deverá permitir uma continuidade da compressão do rácio NPL.
A base de clientes tem exibido uma saudável e consistente tendência de crescimento. Tendo sido adicionados 170 mil clientes primários no primeiro trimestre de 2018, o
número total destes clientes angariados desde 2015 subiu para 2 milhões, proporcionando uma perspectiva verdadeiramente optimista quanto à possibilidade de o banco atingir a meta auto-proposta para 2020: 14 milhões de clientes primários, o que equivale a uma expansão total de 2,8 milhões durante o referido período de cinco anos. A prossecução destes objectivos deverá sustentar a obtenção de bons resultados durante o ano 2018.
O ING identifica algumas regiões geográficas como vectores de crescimento (Challengers & Growth Markets), entre as quais se destacam Austrália, Alemanha, Espanha
e Polónia. Durante o primeiro trimestre, neste segmento geográfico, a par de uma diminuição residual de postos de trabalho (-0,6%), o ING registou um crescimento homólogo de duplo dígito em três vertentes cruciais do negócio: clientes primários (+16,5%), juros líquidos (+13%) e comissões (+13,2%), carteira de crédito (+12%).
Para acompanhar a inquestionável ascensão dos serviços bancários online, o ING tem investido fortemente em inovação tecnológica. Tendo lançado várias soluções online e estabelecido parcerias com empresas fintech, a estratégia tecnológica do ING tem se revelado realmente bem-sucedida, com o banco a tornar-se uma referência europeia na área de digital banking e a expandir expressivamente o alcance da sua oferta. Os custos recorrentes associados ao investimento tecnológico têm dificultado a concretização do objectivo de eficiência para 2020, que se traduz num cost-to-income de 50-52%. Porém, à medida que este elevado investimento for diminuindo e a digitalização e automação providenciarem um efectivo benefício de corte de custos (a diminuição da força de trabalho em cerca de 7 mil colaboradores, até 2021, deverá permitir uma redução de EUR -900 mn de custos), o rácio de eficiência pretendido – um dos mais baixos entre os bancos europeus – parece-nos atingível.
Por último, mas certamente não menos importante, o actual rácio de rentabilidade dos capitais próprios (ROE) encontra-se nos 10,3% (+0,1 p.p. face a 1T2017), dentro do
intervalo almejado, 10-12%. O actual rácio de capital Core Equity Tier 1 (CET1) fully-loaded ascende a 14,3% – um dos mais elevados entre os bancos europeus não-nórdicos.
Riscos
O factor mais pressionante para o ING tem sido a sua dificuldade em aumentar o dividendo, com o actual payout ratio (53%) num nível bastante inferior ao ambicionado
pelo banco: estabilização em torno dos 70%. Embora não vejamos esta realidade como grave, a percepção do mercado a curto prazo tem sido penalizante, principalmente ao compreender que esta realidade se deverá manter em função de, primordialmente, dois factores: investimento na área de inovação digital, que coloca pressão sobre os resultados e a necessidade de reforçar o rácio de capital para acomodar as exigências do Basel IV.
As exigências da nova regulamentação bancária Basel IV, cujo prazo de implementação é 2019, diluirão o actual CET 1 para 12,3%. Perante um objectivo de 13,5%
até 2022, o ING ver-se-á forçado a aumentar o seu rácio CET1 em cerca de 30 pontos base por ano. Simultaneamente, o objectivo anual de expansão de carteira de crédito de 3-4% acresce a pressão sobre o rácio, aumentando o seu numerador (RWA).
Outro risco reside numa eventual reversão na performance positiva dos activos mais arriscados da carteira de empréstimos no segmento de wholesale banking (NPL ~1,8%): empresas russas, empresas do sector petrolífero e da indústria de transporte marítimo.
Numa perspectiva sectorial, uma possível deterioração do panorama macroeconómico representa um risco relevante, na medida em que pode produzir um impacto material na probabilidade de incumprimento nos empréstimos concedidos pelo banco, aumentando assim a necessidade de provisões e/ou até imparidades.
Apesar de ligeiramente acima da média dos congéneres, o rácio P/B do ING revela um desconto face aos restantes bancos comparáveis da Benelux. O payout ratio, principal factor pressionante, embora abaixo do sector de banca europeia, acaba por estar em linha com a mediana dos comparáveis. De forma mais relevante, o dividend yield de 5% excede substancialmente o dos concorrentes. A rentabilidade do ING, medida por ROE e ROA é igualmente superior à média do sector. Destacamos igualmente o verdadeiramente baixo rácio NPL dentro do contexto bancário europeu, acompanhado por um rácio de provisões (loan coverage ratio) também substancialmente inferior ao do sector. Todavia, reconhecemos que este último factor pode efectivamente representar um risco em caso de deterioração macroeconómica. O rácio cost-to-income expressivamente abaixo dos seus congéneres evidencia a superioridade do ING em termos de eficiência. Perante estas métricas fundamentais achamos que a desvalorização do ING face aos congéneres foi extremada.
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