Mar Marín.
Lisboa, 14 dez (EFE).- Portugal fecha o ano de 2018 marcado pela saúde das contas públicas e a estabilidade política facilitada pela aliança de esquerda do governo do primeiro-ministro António Costa, o grande favorito nas pesquisas para as eleições de outubro do ano que vem.
O tom monótono do cenário político foi na reta final abalado pelo chamado escândalo de Tancos, que colocou em apuros o governo pelas irregularidades na investigação de um roubo de armas em um arsenal militar ocorrido há um ano.
Enquanto a oposição e seus aliados de esquerda pediam a cabeça do ministro da Defesa, Costa transformou a crise incipiente em um gol para seus críticos e começou em outubro a maior remodelação governamental dos últimos 20 anos.
Na renovação caiu não só o questionado titular da pasta de Defesa, como os ministros da Saúde - um dos setores com mais conflitos trabalhistas -, da Economia e da Cultura.
A medida reforçou a equipe de governo diante do novo desafio eleitoral, para o qual Costa larga como favorito contra o "teto" que a esquerda e a divisão interna da direita parecem ter atingido.
O premiê - que chegou a dizer sobre sua aliança com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista que "dá para sermos amigos, mas não dá para casar" - não revelou se no futuro repetiria o acordo, chamado popularmente como "geringonça" e que o levou ao poder há três anos.
Portugal fecha o ano com crescimento superior a 2,1% e desemprego em queda, para 6,6%. Com bons números em mãos, Costa saldará contas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, antes do final de dezembro, receberá os 4,6 bilhões de euros do empréstimo que concedeu em 2011 para evitar a quebra do país: 26,3 bilhões com juros de 5,8%.
O primeiro-ministro anunciou o pagamento no mesmo dia em que desenvolveu o Orçamento do Estado para 2019 - o menos austero do mandato - com o apoio da esquerda.
A médio prazo, uma das prioridades do govrnante é avançar na transformação do país. Para isso, busca investidores estrangeiros. Nos últimos meses, foram resolvidas as divergências de Portugal com Angola, o que facilita o estímulo a projetos conjuntos.
Já a China, que tem presença em setores estratégicos - desde energia a bancos, saúde e seguros - é vista como sócia em grandes e novos investimentos. Portugal aposta, por exemplo, na nova Rota da Seda promovida por Pequim, apesar do receio de alguns de seus vizinhos europeus, como França e Alemanha.
Além disso, está nos planos transformar o porto de Sines - a 160 quilômetros ao sul de Lisboa - em uma ponte entre a Ásia e a Europa, dentro do megaprojeto chinês, que prevê um investimento global de 800 bilhões de euros em infraestruturas.
"Portugal historicamente é uma ponte entre o continente europeu, a África e o espaço ibero-americano e continuaremos sendo. Foi a nossa expressão histórica nos últimos 600 anos, e agora é tarde para mudar de vocação", disse Costa em recente entrevista à Agência Efe.
A vocação internacional do país e a busca por jovens profissionais que nele se estabeleçam pesaram na operação para Lisboa sediar o Web Summit - um dos principais fóruns tecnológicos do mundo - durante dez anos.
Esta vitrine contribuirá para fomentar o turismo, que neste ano foi um dos motores do crescimento.
Por outro lado, o ponto negativo para o governo, o conflito laboral, se mantém, porque a bonança econômica não se traduziu, segundo os sindicatos, em um reconhecimento ao sacrifício de alguns coletivos, como servidores públicos e professores.
As melhorias salariais - em janeiro o salário mínimo subirá para 600 euros, ainda um dos mais baixos da União Europeia - e a redução da pobreza e da desigualdade social também estão entre as questões pendentes do governo socialista.
Embora o momento mais amargo de Costa tenha sido, sem dúvida, os cem mortos nos incêndios de 2017, quase um ano e meio depois as áreas afetadas ainda não se recuperaram, e as pessoas afetadas por aquela tragédia esperam por Justiça.