(Texto atualizado com mais informações)
Por José de Castro
SÃO PAULO, 27 Jul (Reuters) - O dólar começou a última semana de julho em queda contra o real, espelhando movimento observado nos mercados globais de câmbio em meio a um dia de apetite por risco por expectativas de mais estímulos à economia mundial.
O dólar à vista BRBY caiu 0,94%, a 5,1583 reais na venda nesta segunda-feira. A cotação firmou baixa na parte da tarde, quando marcou mínima de 5,152 reais (-1,06%). Na máxima, alcançada pela manhã, a divisa foi a 5,225 reais (+0,35%).
Em julho, o dólar cede 5,18%, a caminho da maior queda mensal de 2020. No ano, porém, sobe 28,54%.
Na B3, o dólar futuro DOLc1 tinha queda de 1,52% às 17h06, para 5,1545 reais.
No exterior, o índice do dólar frente a uma cesta de rivais de países ricos =USD bateu uma mínima em dois anos e operava em queda de 0,7%, sob pressão do salto do euro EUR= . Moedas de risco e de perfil semelhante ao real --como dólar australiano AUD= , peso mexicano MCN= , rand sul-africano ZAR= e peso colombiano COP= -- ganhavam entre 0,5% e 1,4%.
O dólar caía contra 30 de uma lista de 33 pares.
O que tem dominado as manchetes são expectativas de mais impulso fiscal nos EUA, com projeto de pelo menos mais 1 trilhão de dólares em discussão no Congresso dos EUA. Além disso, investidores esperam que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) se mostre comprometido com juros baixos e mais suporte à economia, se necessário, ao fim de sua reunião de política monetária nesta semana.
Essas medidas, em tese, fortalecem cenários de mais liquidez, que pode fluir para mercados com rendimentos mais altos, caso dos emergentes.
Esse pano de fundo tem ofuscado, por ora, preocupações com salto de casos de Covid-19 nos EUA e em outros países.
"Para o dólar norte-americano, mais estímulos fiscais nos EUA podem dar um impulso cíclico ou causar enfraquecimento (da moeda) devido a um clima pró-risco", disseram analistas do HSBC (LON:HSBA) em nota. "Por enquanto, a última função de reação parece mais provável... Mas não acreditamos que o dólar esteja caminhando para um mercado secular de baixa e de longo prazo", ponderaram.
O Rabobank passou a ver o dólar em 5,25 reais ao fim de 2020 e em 4,90 reais ao término de 2021, citando justamente o ambiente global de dólar fraco. Antes o banco esperava taxas de 5,45 reais e 5,10 reais, respectivamente.
Thomas Gilbertoni, especialista em investimentos da Portofino, acredita que mesmo os problemas domésticos estão em boa parte precificados na taxa de câmbio, o que daria espaço para o dólar/real acompanhar com mais consistência um viés global de baixa da moeda.
"Existe a questão da política monetária. Se o mercado ingressar em apostas de corte mais agressivo nos juros, isso pode ter efeito (de alta sobre o dólar). Mas não acho que isso (apostas de reduções intensas nos juros) acontecerá", disse.
O Banco Central se reúne no começo de agosto para decidir sobre a taxa básica de juros (Selic). No mercado, a perspectiva é de novo corte de 0,25 ponto percentual, para nova mínima histórica de 2,00% ao ano.
As sucessivas reduções no juro básico da economia foram citadas por muito tempo como razão para a maior pressão sobre o dólar, uma vez que diminuíram o retorno da renda fixa doméstica e deixaram o Brasil em desvantagem em termos de "yield" quando comparado a seus pares emergentes --prejudicando o cenário para fluxos. (Edição de Isabel Versiani)