Por Sergio Goncalves
LISBOA, 26 Out (Reuters) - O BPI BBPI.LS não participará num eventual veículo para o malparado em Portugal porque não precisa, e não seria aceitável uma solução que passasse por arcar com custos para resolver os problemas de outros bancos, disse o CEO do BPI, Fernando Ulrich.
Em 20 de Outubro, o primeiro-ministro disse que o Governo deverá em breve definir uma medida sistémica para lidar com o elevado crédito malparado dos bancos portugueses, querendo resolver os problemas da banca até ao final do ano. Costa disse que "o grupo de trabalho que o Governo tem mantido com o Banco de Portugal sobre os Non Performing Loans (NPL) está a correr bem", vincando: "portanto, acho que brevemente teremos um quadro sistémico que permita encontrar uma solução".
Mas, em conferência de imprensa, o Chief Executive Officer (CEO) do BPI, disse: "não faço rigorosamente ideia do que se passa. Não tenho a menor ideia, se é que se passa alguma coisa. Connosco, ninguém falou, provavelmente ninguém falou porque nós não precisamos".
"Se, para resolver problemas de malparado dos bancos que estão mal, os bancos que estão bem vão ter de suportar custos, isso nunca me passou pela cabeça, nem numa noite de pesadelos", afirmou Fernando Ulrich.
"Não consigo sequer conceber que isso possa ser possível, ou possa passar pela cabeça de alguém. Já basta o que temos de pagar para o Fundo de Resolução", acrescentou.
Alertou: "porque senão, a dada altura, temos uma situação em que os bancos maus vão dar cabo dos bancos bons. Não acredito que isso seja possível".
Fernando Ulrich referiu que este assunto não foi discutido na Associação Portuguesa de Bancos (APB).
IMPARIDADES CAEM BPI
O BPI, que é o alvo de um 'bid' do espanhol Caixabank CABK.MC , divulgou uma subida homóloga do lucro acima do previsto de 21,2 pct para 182,9 milhões de euros (ME) nos nove meses de 2016, com as imparidades para malparado a caírem a pique.
As provisões e imparidades para crédito desceram a pique 53,3 pct para 53 ME entre Janeiro e Setembro de 2016, tendo o rácio de crédito em risco diminuiu de 4,8 pct para 4,6 pct.
Fernando Ulrich, quanto às imparidades, referiu que, "depois do pico alcançado em 2012 e 2013, o banco tem vindo a ter uma melhoria significativa, frisando: "percorremos um longo camimnho para chegar aqui".
"O banco tem um dos melhores rácios de crédito em risco da Península Ibérica, mas isto é assim há vários anos", disse o CEO do BPI, recordando que alguns dos seus concorrentes ainda têm um longo trabalho a fazer neste campo.
IMPARIDADES ALTAS SISTEMA
Segundo dados do BP, em Agosto de 2016, o crédito vencido em Portugal ascendia a 18.031 milhões de euros (ME) ou 9,2 pct dos 196.782 ME de empréstimos a empresas e particulares, com 12.960 ME de crédito vencido das empresas ou 16,5 pct do crédito que lhes foi concedido, enquanto o crédito vencido de particulares se fixou em 5.071 ME ou 4,3 pct.
O crédito vencido tem vindo a subir sistematicamente desde os 8.700 ME ou 3,4 pct registados em 2010, antes de Portugal pedir o resgate e da 'troika' de credores ter monitorizado a situação financeira de Portugal.
Contudo, os analistas têm realçado que, usando o critério mais exigente do crédito em risco, o verdadeiro malparado de Portugal é muito superior ao que resulta do simples crédito vencido.
De facto, numa nota estatística recente, o BP disse que, no segundo trimestre de 2016, o rácio de crédito em risco tinha aumentado 0,4 pontos percentuais (pp), face ao trimestre anterior, para 12,7 pct do total do crédito a empresas e particulares.
Esta subida deveu-se essencialmente à subida do crédito em risco das empresas, que em Junho se situou em 21 pct do crédito total que lhes foi concedido, enquanto o crédito ao consumo vencido se fixou em 14,7 pct e o crédito à habitação vencido em 6,1 pct.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Shrikesh Laxmidas)