Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Abr (Reuters) - A China Three Gorges (CTG) vai deixar colapsar o 'bid' sobre a EDP-Energias de Portugal EDP.LS , se a Assembleia Geral (AG) de accionistas esta semana chumbar a proposta para remover o actual limite de votos, mas permanecerá como investidora estratégica de longo prazo, anunciou a CTG.
A 12 de Abril, a CMVM fez um ultimato à CTG, avisando que o seu 'bid' sobre a EDP (SA:ENBR3) poderá falhar já em 24 de Abril, se a AG rejeitar a proposta para remoção daquele limite de 25 pct aos direitos de voto de cada accionista, pois é uma condição para o registo da oferta por aquele regulador. regulador explicou que tal não sucederá, "excepto no caso" da CTG retirar esta condição - de acabar com o actual limite de aos direitos de voto - do seu 'bid' de 9.000 ME sobre a EDP.
Mas, numa carta enviada hoje ao vice-presidente da mesa da AG, a CTG declarou "irrevogavelmente a todos os interessados e, em especial, aos accionistas da EDP que todas as condições a que o lançamento da Oferta se encontra sujeito permanecem em vigor".
"E, especificamente, no caso de o resultado da votação não permitir a eliminação do actual limite à contagem de votos, que a CTG não renunciará a essa condição", lê-se nessa carta publicada no site da CMVM (www.cmvm.pt).
Assim, à CMVM não restará mais do que dar como extintas as Ofertas Públicas de Aquisição sobre a EDP e a EDP Renováveis (EDPR) EDPR.LS lançadas pela CTG, que é a maior accionista da EDP com 23 pct de participação.
A CTG adiantou que "respeitará as decisões adoptadas pelas autoridades e pela AG".
"Além disso, a CTG permanecerá como investidora estratégica de longo prazo da EDP e continuará a contribuir como parceira estratégica para o desenvolvimento sustentável da sociedade, independentemente do resultado final da Oferta", referiu.
A proposta que a próxima AG vote aquela alteração dos estatutos da EDP foi feita pelo fundo activista Elliott, que está contra a OPA dos chineses e apelou aos outros accionistas que também votem contra acabar com aquele limite na AG, visando por um "fim imediato" ao 'bid' da CTG.
A OPA da CTG, anunciada preliminarmente em Maio de 2018, precisa de aprovação regulatória em vários países, incluindo o Brasil, os Estados Unidos, Portugal e a União Europeia.
Recentemente, fontes disseram à Reuters que a CTG interrompeu as negociações com os reguladores da UE sobre o lance proposto.
Os analistas vêm difícil que a CTG tenha o 'OK' das autoridades norte-americanas - Cifius - para comprar os activos nos EUA, bem como da DG COMP europeia pois pode violar as regras europeias de concorrência do 'unbundling' - obrigação de separar a produção e a distribuição de electricidade do transporte.
A estatal chinesa continua a defender a bondade dos objectivos da sua Oferta, que focava "em assegurar oportunidades atractivas de crescimento e de desalavancagem".
"A CTG pretende contribuir com os seus activos operacionais de alta qualidade nos mercados ocidentias, o que permitirá à EDP reforçar ainda mais o seu potencial de crescimento e de negócios, reforçando assim o perfil da EDP como empresa portuguesa de referência".
A CTG lançou esta oferta em Maio de 2018, mas a 'utility' portuguesa esta considerou que o preço de 3,26 euros por acção é muito baixo.
A Elliott, que tem uma posição de 2,9 pct na EDP e é um dos dez maiores acionistas, propôs uma alternativa à OPA da CTG, propondo o fundo norte-americano que a EDP cristalize 7.600 ME de valor com vendas de activos, incluindo a alienação dos 51 pct que a 'utility' portuguesa tem na EDP Brasil por 2.300 ME.
Posteriormente, a 12 de Março, a EDP anunciou que planeia investir 12.000 milhões de euros (ME) até 2022 para impulsionar a aposta em renováveis sobretudo na América do Norte e Europa, prevendo encaixar mais de 6.000 ME com rotações e vendas de activos, reduzindo a exposição na Ibéria.
(Por Sérgio Gonçalves)