* Empresária angolana constituída arguida em Angola
* Isabel dos Santos tem negado acusações
* PGR Portugal e homólogo Angola reunem-se amanhã em Lisboa
(Acrescenta informação, background)
Por Sergio Goncalves e Catarina Demony
LISBOA, 22 Jan (Reuters) - A multi-milionária angolana Isabel dos Santos iniciou a venda dos seus 42,5% no banco português Eurobic, enquanto a Procuradoria Geral da República (PGR) angolana a constituiu arguida por desvio de fundos da petrolífera angolana Sonangol.
Isabel dos Santos é a maior accionista do Eurobic.
"A operação de alienação da sua participação foi já iniciada, a qual, face à existência de interessados, tem assegurada a sua concretização a muito breve prazo", disse o Eurobic em comunicado.
Adiantou que "uma vez que tal decisão de saída é definitiva e irá concretizar-se o mais brevemente possível, a accionista renunciou desde já e em definitivo ao exercício dos seus direitos de voto".
Os administradores não executivos que exercem funções na estrutura de gestão do universo de Isabel dos Santos apresentaram a renúncia aos seus cargos no EuroBic "com efeitos imediatos".
"De todas estas decisões foi dado conhecimento prévio ao Banco de Portugal", afirmou o Eurobic.
Em Angola, a PGR constitui Isabel dos Santos - filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos - arguida por suspeitas de má gestão e desvio de fundos no decurso da sua passagem pela petrolífera estatal Sonangol.
O Expresso disse que outras pessoas foram constituídas arguidas também, como Mário Leite da Silva, presidente do Conselho de Administração do Banco Fomento Angola (BFA) e Paula Oliveira, administradora não-executiva da NOS NOS.LS .
Até ao momento, não foi possível obter um comentário de fonte oficial de Isabel dos Santos, nem de qualquer dos outros arguidos.
Uma porta-voz da PGR de Portugal disse à Reuters que se encontra agendada para esta quinta-feira, às 15 horas, na PGR em Lisboa, uma reunião de trabalho entre a Procuradora-Geral da República portuguesa Lucília Gago e o seu homólogo angolano, Hélder Pitta Grós, sem revelar os temas que vão abordar.
A filha do ex-presidente de Angola foi chairwoman da Sonangol entre junho de 2016 e novembro de 2017.
Na segunda feira, as autoridades portuguesas disseram que começaram a investigar reportagens sobre a multi-milionária angolana.
Nesse dia, o Banco de Portugal (BdP) pediu ao Eurobic que o informe se cumpriu os deveres de prevenção de 'lavagem de dinheiro' em transferências de uma conta bancária da estatal angolana Sonangol para uma 'offshore' no Dubai, revelada no Luanda Leaks.
O Expresso disse no domingo que, de maio a novembro de 2017, no último terço do seu mandato à frente da Sonangol, Isabel dos Santos fez com que a 'oil' angolana transferisse pelo menos 115 milhões de dólares de fundos públicos para o Dubai.
Este jornal, que integra o International Consortium of Investigative Journalists que está a investigar o Luanda Leaks, disse que parte desse dinheiro foi transferido através da conta da Sonangol no Eurobic em Lisboa para a offshore Matter Business Solutions no Dubai, controlada por pessoas com ligações profissionais à filha do ex-presidente de Angola.
O Eurobic confirmou que aqueles pagamentos ordenados pela Sonangol "respeitaram os procedimentos legais e regulamentares" quanto ao branqueamento de capitais.
Na altura, em comunicado, Isabel dos Santos disse que as alegações que estão a ser feitas contra si "são completamente infundadas" e é "um ataque político orquestrado e bem coordenado, numa tentativa de a neutralizar".
Em Dezembro um tribunal de Luanda arrestou as contas e participações em empresas angolanas, do seu marido, o congolês Sindika Dokolo, e do gestor português Mário Leite da Silva, alegando que os três lesaram o Estado em mais de 1.000 milhões de dólares.
Isabel dos Santos e Sindika Dokolo têm negado.
A empresária angolana, em entrevista recente à Reuters, qualificou esta acção judicial para congelar os seus vastos activos como uma "caça às bruxas", que foi planeada para enfraquecer a influência do seu pai e distrair dos actuais falhanços económicos. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony)