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O ano estratégico em revista

Publicado 23.12.2022, 19:24
Atualizado 09.07.2023, 11:32

As preocupações com uma recessão no Ano Novo estão a pesar sobre a perspetiva de crescimento, prosperidade e tranquilidade.

Destaco o tema da inteligência artificial (IA). Os modelos de IA atingiram um ponto em que já são capazes de produzir peças de texto, imagens e mesmo vídeos notavelmente convincentes, com pouco esforço. Passaram apenas nove meses desde que o OpenAI desencadeou a explosão da IA com o lançamento do DALL-E 2, um modelo de aprendizagem profunda que pode produzir imagens a partir de instruções de texto. Seguiu-se um avanço do Google e da Meta: IA que pode produzir vídeos a partir de texto. E passaram apenas algumas semanas desde que o OpenAI lançou o ChatGPT, o mais recente modelo de linguagem de grandes dimensões para incendiar a Internet com a sua surpreendente eloquência e coerência.

O ritmo da inovação este ano tem sido notável - e por vezes avassalador.

Vamos à revisão do ano.

Primeiro trimestre 2022: Regresso da volatilidade

Embora 2021 tenha sido marcado por um período de calma após as oscilações da pandemia, 2022 começou com um novo surto de volatilidade do mercado. O S&P 500 (índice composto por quinhentas das maiores empresas cotadas nas bolsas de NYSE ou NASDAQ), marcou o seu pior mês desde o início da pandemia em 2020.

A meio do mês, a Microsoft (NASDAQ:MSFT) surpreendeu o mercado ao anunciar o negócio de $68,7 mil milhões para o desenvolvedor de jogos Activision Blizzard, um movimento que iria expandir a sua biblioteca de jogos.

A mudança criou ondas, porque Warren Buffett's Berkshire Hathaway (NYSE:BRKa) revelou ser um comprador de ações da Activision Blizzard.

Também no início do ano, a Meta (NASDAQ:META) revelou pela primeira vez as finanças do Reality Labs, mais concretamente um prejuízo de 10,2 mil milhões de dólares.

A Meta, globalmente, fez $118 mil milhões em receitas e quase $47 mil milhões em lucros operacionais no ano passado.

Podia dar-se ao luxo de queimar um pouco de dinheiro para trazer o futuro. O ícone empresarial das redes sociais está a terminar o seu primeiro ano completo como uma empresa no metaverso, mas na defensiva, reduzindo o número de efetivos, reinando nos custos e deixando alguns acionistas a questionarem se vale a pena fazer a sua grande aposta futurista.

Logo a seguir, a Rússia iniciou a sua guerra contra a vizinha Ucrânia no final de fevereiro, que acabaria por enviar os preços do petróleo e da gasolina para máximos plurianuais, juntamente com produtos alimentares como os cereais. A guerra exacerbou os receios sobre a inflação e lançou um abalo extra de volatilidade nos mercados acionistas. A UE e a Casa Branca anunciaram também uma proibição das importações de petróleo russo e gás natural liquefeito.

O primeiro trimestre de 2022 estilhaçou a ilusão exuberante, com o investimento em startups a cair 13 % de ano para ano.

Segundo trimestre: Sell-off

O bilionário Elon Musk concordou em comprar o gigante das redes sociais Twitter, por 44 mil milhões de dólares, embora fossem necessários meses de disputas legais até que o negócio fosse finalizado.

Nas notícias, Emmanuel Macron foi reeleito Presidente de França.

Um engenheiro da Google (NASDAQ:GOOGL) afirma que o modelo de inteligência artificial da LaMDA da Google é senciente. Foi a afirmação ouvida «à volta do mundo» - ou, pelo menos, «à volta da indústria tecnológica».

LaMDA, abreviatura de Language Model for Dialogue Applications, é uma das ferramentas de construção de chatbot do Google, alimentado por grandes modelos linguísticos que imitam a linguagem humana usando a sua formação em enormes quantidades de dados. Peritos de cientistas informáticos a especialistas em ética da IA decretaram a alegação de Lemoine, tal como o próprio Google, e alguns até apelaram à reforma do teste de Turing. Das discussões públicas, surgiu uma questão ainda maior: Que tipo de danos da vida real poderiam advir de pessoas que atribuem sentimentos a ferramentas tecnológicas que são simplesmente boas nos padrões de aprendizagem?

Em junho, outro tema dominante do mês foi o aperto da política monetária, uma vez que os bancos centrais de todo o mundo tomaram medidas para combater a inflação desenfreada.

Terceiro trimestre: Recessão?

O PIB dos EUA contraiu 0,9 % no segundo trimestre, posicionando a economia número 1 do mundo numa chamada «recessão técnica».

A inflação global continuou a intensificar-se, alimentando as ofertas dos bancos centrais para contrariar o crescimento dos preços.

No entanto, a desaceleração (parcial) só se verificou em dezembro.

O Banco Central Europeu (BCE) enfrentou questões semelhantes, particularmente, devido ao impacto da crise energética que se avizinhava na economia alemã, a maior da zona euro. A resposta do BCE foi aumentar os custos do empréstimo, pondo fim a uma experiência de nove anos com taxas de juro oficiais negativas.

No Reino Unido, foi mais um escândalo ético para Boris Johnson, que se demitiu do cargo de primeiro-ministro, devido a uma controvérsia envolvendo a nomeação de um político acusado de má conduta sexual.

O aperto das condições da política monetária pôs pressão adicional sobre o mercado tipicamente volátil da moeda criptográfica, que viu vários intervenientes da indústria serem encaminhados por investidores desesperados que procuravam fazer levantamentos. No entanto, a Bitcoin ainda conseguiu recuperar acima dos 22.000 dólares na esperança de que o Fed se afastasse dos aumentos agressivos das taxas.

O retardatário foi a China que continuou a manter restrições rigorosas contra a COVID-19, apesar do seu potencial impacto na economia em geral.

A indústria dos semicondutores recebe um abanão. As consequências continuaram, desde então, com grandes atores, como a Intel (NASDAQ:INTC), Micron (NASDAQ:MU) e UMC (TYO:6615) a cortar o capex, previsões de receitas, produção e contagem de recursos humanos no terceiro trimestre. Os fabricantes de chips começaram, em 2022, a voar alto em expansão recorde; agora estão a olhar para uma potencial contração.

A adoção de veículos elétricos (EV) atinge o seu potencial e um ponto de viragem. Os fabricantes de automóveis correram para construir cadeias de abastecimento de baterias, os governos alargaram os apoios fiscais de EV ao consumidor e encontraram apoio e desafios no abastecimento.

Agosto: À medida que o mês foi passando, as preocupações aumentaram em torno dos atuais confinamentos devido à COVID-19 na China e dos efeitos de arrastamento que poderiam ter nas cadeias globais de abastecimento, bem como das previsões de descida de rendimentos.

A guerra na Ucrânia viu os preços do gás europeu subir para um máximo histórico, à medida que as preocupações aumentavam com a diminuição dos fornecimentos russos.

A inflação na zona euro saltou para um novo recorde de 9,1 %.

Setembro: Wall Street teve o seu pior mês desde os primeiros dias da pandemia, uma vez que a inflação alimentou previsões de aumentos sem precedentes das taxas de juro por parte dos bancos centrais em todo o mundo.

A Presidente Christine Lagarde assinalou que vários outros aumentos ainda estavam para vir.

A inflação na zona euro manteve-se teimosamente elevada, atingindo um novo recorde de 10 % em setembro.

Os governos da Europa gastaram centenas de milhões de euros numa tentativa de proteger os consumidores e as empresas do aumento dos preços da energia.

O Grupo dos sete países mais ricos (G7) concordou em estipular um preço máximo no petróleo russo a partir do início de dezembro. As autoridades esperavam limitar uma fonte chave de receitas russas que Moscovo poderia utilizar para financiar a guerra.

Fora da zona euro, Liz Truss foi nomeada primeira-ministra do Reino Unido, depois de ganhar um concurso de liderança do Partido Conservador.

O seu mandato foi quase imediatamente envolvido em controvérsia, com a revelação do chamado "mini-orçamento" do seu governo, que incluía um pacote de subsídios energéticos e cortes de impostos não financiados.

O início tumultuoso da recente primeira-ministra Liz Truss também coincidiu com outro episódio de grande tensão na história britânica: a morte da monarca de longa data, Rainha Isabel II.

Quarto trimestre: Combate

Outubro: As ações entraram em modo de recuperação no quarto trimestre. A maioria das ações da FANG entregou relatórios trimestrais que ficaram aquém das estimativas de Wall Street. Mas a Apple (NASDAQ:AAPL) tornou-se a salvadora, entregando um relatório trimestral que renovou o sentimento do investidor nas grandes tecnologias.

A FTX, uma das maiores bolsas criptográficas, enfrentava questões sobre insolvência. A FTX mexeu-se para encontrar fundos de emergência para tapar um buraco de 8 mil milhões de dólares, mas acabou por falhar, forçando a outrora valorizada troca de criptográficos de 32 mil milhões de dólares a declarar falência.

A era dourada do crescimento da Tech salpica. O outono foi uma época dura para a indústria tecnológica: A Meta cortou 13 % do seu pessoal, o Twitter reduziu a contagem de recursos humanos em, pelo menos, metade, a Amazon (NASDAQ:AMZN) iniciou despedimentos que pretendiam cortar 10 000 empregos no total, e empresas como a Salesforce ou a Stripe despediram milhares de trabalhadores.

Muitas empresas de tecnologia têm vindo a apostar nas suas decisões para uma desaceleração do mercado, um declínio nos gastos com publicidade no meio dos receios de uma recessão e o aumento dos custos de energia e materiais.

Mas alguns peritos apontaram outra razão potencial: as empresas de tecnologia expandiram-se nos últimos anos, sem ter em conta o crescimento futuro e estavam «a correr muito mais depressa do que deveriam».

Menos de uma semana após o OpenAI ter estreado o ChatGPT, o seu CEO anunciou que o modelo de IA conversacional viral ultrapassou 1 milhão de utilizadores. Em muitos aspetos, a nova querida da Internet pegou onde o GPT-3 do OpenAI parou, mas com uma experiência de utilizador mais simplificada, melhores capacidades de inferência do núcleo e, alegadamente, um novo paradigma de interação. Até agora, a ferramenta tem sido utilizada para gerar guiões de filmes, escrever ensaios de nicho e responder a questões de codificação. Mas, como qualquer ferramenta poderosa, tem alguns perigos. O ChatGPT é apenas o mais recente de uma série de grandes ferramentas de IA lançadas este ano.

Outros temas em 2022

  • Ciberataques em Portugal
  • Evolução do Shopify
  • A publicidade Google-Facebook perdeu. Amazon, Apple e TikTok ganham.
  • Crise nas criptomoedas e colapso da FTX
  • Netflix apresenta plano mais barato e começa a vender anúncios
  • Falência do Grupo Impala (Revista Maria, TV 7 dias, VIP)
  • Multiplicaram os voos de turistas espaciais
  • Mundial de futebol no inverno, em que a Argentina saiu vencedora
  • Regresso da Web Summit presencial
  • Nascimento de imposto sobre lucros extraordinários

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