A conjuntura financeira mundial atualmente vem sendo marcada pela sem precedentes política de taxas de juros negativas adotadas pelos grandes bancos centrais. Em primeiro lugar, o Federal Reserve norte-americano instaurou medidas que foram seguidas pelo Banco do Japão para, em ato contínuo, serem estabelecidas pelo BCE, Banco Nacional da Suíça, Banco Popular (LS:BPE) da China e Banco da Inglaterra. Por meio da instrumentos que elevaram a inflação monetária, os reguladores tencionavam a estimular o crescimento de preços com vistas à reciclagem das políticas monetárias estimulantes dos mercados financeiros. Como resultado, no entanto, o retorno de obrigações no montante de 6 trilhões de dólares restou negativo. Como previsto, os investidores começaram a migrar seus capitais para metais preciosos, que não apresentam há tempos retornos negativos.
No dia 10 de março, o BCE tomou medidas drásticas objetivando o estímulo monetário através da redução da taxa básica de juros de 0,05% para zero e das taxas dos depósitos que diminuiu para menos de 0,4%. O volume mensal de compras foi elevado de 60 a 80 bilhões de euros, elevando sobremaneira a quantidade de dinheiro adicional no mercado. Qual foi a reação de ouro? Atingiu o máximo de 13 meses em relação ao dólar e bateu a alta do euro estabelecida há 5 anos.
O preço do ouro está correlacionado com a taxa de juros dos reguladores, apesar de não parecer à primeira vista. Por exemplo, consideremos a dinâmica das taxas de juro dos fundos federais propostas pelo Fed. Em teoria, o arrochamento da política monetária aumenta o rendimento dos instrumentos acionários e leva à saída de capitais do mercado de ouro. O aumento da taxa de juros a princípio causa o encarecimento do dólar o que, consequentemente, reduz o custo do ouro.
No entanto, os dados históricos demostram um cenário diverso. De forma a exemplificar, entre 1970 e 1980, o aumento da taxa de juros pelo Fed variou de 4% a 20%. Durante o mesmo período, o ouro subiu de 35 a 675 USD por onça. Outro exemplo: o período pré-crise entre os anos 2003 e 2006, a taxa de juros foi elevada de 1% para 5,5%. As cotações de ouro reagiram em conformidade, passando de 355 a 650 USD por onça.
A este respeito, não há nada de surpreendente no fato de que o declínio generalizado das taxas de juro por reguladores de diferentes países tem um efeito positivo sobre a dinâmica dos preços dos metais preciosos. Levando-se em conta o fato de que o Fed – que opera a curva de Phillips – tende a estimular a inflação, temos um fator que pode gerar suporte ao crescimento dos preços do ouro por um longo período de tempo.
Quanto maior o crescimento do ouro, mais forte ficará por causa do aumento sustentável na demanda. Outros atrativos ao investimento em ouro como ativo de regúfio se dá pela queda dos índices acionários, as taxas de juros negativas sobre depósitos, o crescimento lento da economia mundial e as tensões geopolíticas.
Sendo assim, logicamente, quanto mais intensa for a compra de metais preciosos, mais rápido o preço do ouro e da prata vai subir. Todavia, o grande problema refere-se aos “papeis de ouro” negociados nas bolsas, relacionados a ouro físico. Ocorre que há elementos de análise técnica confirmando o iminente déficit nos pagamentos de tais obrigações.
Há pouco tempo, na COMEX, uma das maiores bolsas de metais preciosos do mundo, como resultado de uma inesperada retirada maciça de recursos, as reservas disponíveis para o ouro de entrega imediata caiu em 73%, de forma que ao final de janeiro 2016, 99,81% dos futuros de ouro negociados não eram garantidos pelo metal físico.
Atualmente, os bancos centrais estão comprando ouro em volumes recordes que não haviam sido atingidos há 8 anos. Levando em consideração os movimentos multidirecionais da oferta e procura no mercado (em 2015, a produção de ouro físico caiu 4% com um aumento de 4% na demanda), bem como o relativamente modesto do mercado global físico de ouro e prata, a questão sobre um “default” iminente é mais do que atual.