O Banco de Portugal atualiza hoje o Estudo da Central de Balanços | 25– Análise das empresas do setor farmacêutico, com informação sobre a evolução da situação económica e financeira das empresas pertencentes ao setor farmacêutico entre 2012 e 2016.
Esta informação é complementada com dados relativos ao final de 2017 sobre os empréstimos concedidos pelo setor financeiro.
Os resultados são apresentados por referência às classes de dimensão – microempresas, pequenas e médias empresas (PME) e grandes empresas – e aos segmentos de atividade económica (“indústria farmacêutica”, “comércio por grosso de produtos farmacêuticos” e “comércio a retalho de produtos farmacêuticos”), e comparados com os resultados do total das empresas. Este estudo foi publicado pela primeira vez em 2016, com informação relativa ao período 2010-2015.
Estrutura e dinâmica
O setor farmacêutico abrangia cerca de 4 mil empresas, sobretudo microempresas. 70 por cento pertenciam ao “comércio a retalho de produtos farmacêuticos”. O “comércio por grosso de produtos farmacêuticos” gerava 64 por cento do volume de negócios.
Em 2016, o setor farmacêutico compreendia cerca de 4 mil empresas (1 por cento das empresas em Portugal). O setor agregava 3 por cento do volume de negó- cios e 1 por cento do número de pessoas ao serviço das empresas em Portugal. A sua relevância não se alterou desde 2012.
O número de empresas em atividade no setor aumentou 0,8 por cento em 2016 relativamente ao ano anterior (aumento de 0,6 por cento no total das empresas) (Gráfico 1). Foram criadas 12 novas empresas por cada 10 que cessaram atividade (proporção semelhante ao total das empresas), valor, ainda assim, inferior ao registado em anos anteriores, em que o setor em análise registou rácios de natalidade/mortalidade próximos de 2. O“comércio a retalho de produtos farmacêuticos” agregava a maioria das empresas do setor (70 por cento) e a maior parcela das pessoas ao serviço (49 por cento). Cerca de um quarto das empresas do setor pertencia ao “comércio por grosso de produtos farmacêuticos”, que era responsável por 64 por cento do volume de negócios. As empresas da “indústria farmacêutica” geravam 11 por cento do volume de negócios e agregavam 18 por cento das pessoas ao serviço do setor (Gráfico 2).
O setor era maioritariamente constituído por microempresas (79 por cento), apesar de as PME (21 por cento) serem mais representativas quando considerados o volume de negócios e o número de pessoas ao serviço (46 por cento, em ambos os casos) (Gráfico 3).
As sedes das empresas do setor estavam mais concentradas em Lisboa (36 por cento) e no Porto (15 por cento), distritos que agregavam, em 2016, mais de três quartos do volume de negócios do setor farmacêutico.
Atividade e rendibilidade
Volume de negócios aumentou 2,4 por cento em 2016, com contributos positivos do “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” e do “comércio por grosso de produtos farmacêuticos”. EBITDA diminuiu 7 por cento.
O volume de negócios do setor farmacêutico aumentou 2,4 por cento entre 2015 e 2016 (2,1 por cento no total das empresas), evidenciando menor dinâmica do que a registada desde 2013. Esta evolução foi determinada pelos contributospositivosdo “comércio por grosso de produtos farmacêuticos” edo “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” (1,2p.p., em cada um dos casos, associados a crescimentos de 1,9 e 4,8 por cento dos respetivos volumes de negócios). O contributo da “indústria farmacêutica” foi marginalmente negativo (redução de 0,1 por cento do respetivo volume de negócios).
Por classes de dimensão, o volume de negócios das grandes empresas e das PME aumentou 3,9 e 2,8 por cento, respetivamente. O das microempresas decresceu 2,1 por cento.
Em 2016, 1 em cada 10 euros de volume de negócios do setor tinha origem no mercado externo (2 em cada 10 no total das empresas), proporção semelhante à registada em 2015. De facto, o mercado interno foi o principal impulsionador do volume de negócios em 2016, contribuindo em 2,4 p.p. para a respetiva variação total (o contributo do mercado externo foi marginalmente negativo, pela primeira vez no período em análise) (Gráfico 4). O diferencial entre a componente exportada do volume de negócios e a componente importada das compras e fornecimentos e serviços externos era, em 2016, negativo numa proporção equivalente a 17 por cento do volume de negócios do setor em análise (diferencial positivo em 1 por cento no total das empresas).
No mesmo ano, 4 em cada 100 empresas do setor eram consideradas exportadoras (6 em cada 100 no total das empresas). Estas empresas geravam 14 por cento do volume de negócios e agregavam 17 por cento das pessoas ao serviço do setor em 2016 (34 e 23 por cento, respetivamente, no total das empresas). Na “indústria farmacêutica”, 1 em cada 5 empresas integrava o setor exportador; no seu conjunto, as empresas exportadoras agregavam 77 por cento do volume de negócios e 74 por cento das pessoas ao serviço neste segmento.
O EBITDA do setor farmacêutico diminuiu 7 por cento em 2016 (aumento de 7 por cento no total das empresas). Esta evolução foi determinada pelo contributo negativo das grandes empresas (6,7 p.p.) na sequência, essencialmente, do aumento das imparidades por dívidas a receber.
Por segmentos de atividade, o “comércio por grosso de produtos farmacêuticos” e a “indústria farmacêutica” contribuíram para a diminuição do EBITDA do setor (em 7,3 e 1,3p.p., respetivamente). O “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” apresentou um contributo positivo de 2,1 p.p., associado a um crescimento de 7,5 por cento do respetivo EBITDA.
Mais de metade das empresas do setor (55 por cento) apresentou variações positivas do EBITDA em 2016, proporção semelhante à registada no total das empresas. Esta parcela diminuiu 6 p.p. em relação a 2015 (redução de 1 p.p. no total das empresas) (Gráfico 5).
Não obstante, 1 em cada 5 empresas apresentaram EBITDA negativo em 2016 (19 por cento), parcela contudo inferior à observada no total das empresas (32 por cento).
Em 2016, o setor gerava 9 euros de resultado líquido por cada 100 euros de capitais próprios, 1,8 euros acima do valor registado no total das empresas.
A rendibilidade dos capitais próprios do setor farmacêutico foi, em 2016, de 9 por cento (diminuiu 3 p.p. relativamente a 2015). De facto, o diferencial entre a rendibilidade do setor e a rendibilidade do total das empresas em 2016 (1 p.p.) foi o menor em todo o período analisado (Gráfico 6). O “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” e a “indústria farmacêutica” apresentaram as rendibilidades mais elevadas em 2016: 11 e 10 por cento, respetivamente. No “comércio por grosso de produtos farmacêuticos”, a rendibilidade foi de 8 por cento. Por classes de dimensão, as PME eram as mais rentáveis (11 por cento, 1 e 3 p.p. acima das microempresas e das grandes empresas, respetivamente).
A margem operacional (EBITDA/rendimentos) do setor farmacêutico foi de 7 por cento em 2016 (10 por cento no total das empresas). A margem líquida (resultado lí- quido do período/rendimentos) ascendeu a 3 por cento (4 por cento no total das empresas), significando que por cada 100 euros de rendimentos eram gerados 3 euros de resultado líquido (Gráfico 7). Estes valores contrastam com os observados em anos anteriores, quando, apesar de uma margem operacional genericamente mais baixa, o setor apresentava margens líquidas superiores às do total das empresas. Entre 2015 e 2016, as margens operacional e líquida do setor diminuíram 0,6 e 0,9 p.p., respetivamente, em contraste com os aumentos de 0,5 e 0,4 p.p. registados no total das empresas.
A “indústria farmacêutica” apresentava as margens mais elevadas em 2016: margem operacional de 17por cento e margem líquida de 7 por cento; no “comércio por grosso de produtos farmacêuticos”, estes valores eram de 4 e 2 por cento, respetivamente.
Situação financeira
Setor depende menos de capital alheio do que o total das empresas. Financiamentos de empresas do grupo e outros passivos contribuíram em maior escala para o aumento do passivo.
O rácio de autonomia financeira do setor farmacêutico foi de 41 por cento em 2016 (32 por cento no total das empresas), valor semelhante ao registado em 2015 (Gráfico 8). Este indicador era superior nas PME (44 por cento) e nas grandes empresas (41 por cento) do que nas microempresas (38 por cento). Por segmentos de atividade, a “indústria farmacêutica” e o “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” apresentavam rácios de autonomia financeira mais elevados (46 e 42 por cento,respetivamente). A “indústria farmacêutica” registava, contudo, uma maior dispersão dos valores das respetivas empresas; metade apresentava, em 2016, autonomia financeira abaixo de 35 por cento.
O passivo do setor farmacêutico aumentou 2 por cento em 2016 (0,1 por cento no total das empresas) (Gráfico 9). Esta variação deveu-se maioritariamente aos contributos positivos dos financiamentos de empresas do grupo e dos outros passivos (1 p.p., em cada um dos casos). As restantes componentes contribuíram de forma residual para a variação do passivo.
A dívida remunerada sob a forma de juros representava 42 por cento do total do passivo do setor farmacêutico em 2016, menos 15 p.p. do que no total das empresas. A relevância deste tipo de dívida era superior na “indústria farmacêutica” e no “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” (52 por cento em ambos os casos); no “comércio por grosso de produtos farmacêuticos”, a dívida remunerada sob a forma de juros correspondia a 33 por cento do passivo.
Diminuição dos juros suportados contribuiu para a redução da pressão financeira.
Os juros suportados pelo setor farmacêutico diminuíram, em média, 18 por cento em 2016 (9 por cento no total das empresas) (Gráfico 10). A redução ocorreu nas várias classes de dimensão e segmentos de atividade económica. Foi mais significativa nas microempresas e no “comércio por grosso de produtos farmacêuticos” (21 por cento, em ambos os casos).A redução dos juros suportados foi menor nas grandes empresas e no “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” (16 por cento, em ambos os casos), ainda que metade das respetivas empresas tenha registado decréscimos dos juros suportados superiores a 26 e a 22 por cento, respetivamente.
A redução dos juros suportados em 2016 determinou, apesar da redução do EBITDA,uma diminuição da pressão financeira (1 p.p. relativamente a 2015). Em 2016, por cada 100 euros de EBITDA gerados pelo setor farmacêutico, 8 euros eram consumidos pelos juros, proporção inferior à observada no total das empresas (17 por cento) (Gráfico 11).
A pressão financeira diminuiu em todas as classes de dimensão e nos vários segmentos de atividade económica, com exceção das grandes empresas, nas quais aumentou ligeiramente. O peso dos juros no EBITDA era mais elevado nas grandes empresas e nas microempresas (9 por cento, em ambos os casos, superior aos 7 por cento das PME). Por segmentos de atividade económica, a“indústria farmacêutica” e o “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” (9 por cento em ambos os casos) registavam os níveis mais elevados de pressão financeira (7 por cento no“comércio por grosso de produtos farmacêuticos”).
Segundo a informação da Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal, os empréstimos concedidos ao setor farmacêutico pelo setor financeiro residente diminuíram 2,5 por cento em 2016. Esta diminuição teve continuidade em 2017: entre o final de 2016 e o final de 2017, os empréstimos concedidos ao setor farmacêutico diminuíram 2,9 por cento.
Por cada 100 euros de crédito concedido ao setor farmacêutico, cerca de 10 euros estavam em incumprimento no final de 2017 (13,5 euros no total das empresas), menos 1,6 euros que no final de 2016 (Gráfico 12). Esta diminuição foi transversal aos vários segmentos de atividade, mas mais acentuada no “comércio por grosso de produtos farmacêuticos” (de 10,2 euros em incumprimento por cada 100 euros, em dezembro de 2016, para 8,2 euros em cada 100, em dezembro de 2017). O rácio de crédito vencido do “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” também diminuiu (1,8 p.p., para 13,7 por cento em dezembro de 2017), situando-se, ainda assim, acima do registado nos restantes segmentos. A “indústria farmacêutica” apresentou, como em todo o período analisado, níveis de incumprimento residuais (0,6 por cento no final de 2017).
Em 2016, a dívida comercial representava 34 por cento do passivo do setor farmacêutico (16 por cento no total das empresas). Este tipo de financiamento era mais relevante no ”comércio por grosso de produtos farmacêuticos” (44 por cento do passivo) do que no “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” (23 por cento) e na “indústria farmacêutica”(22 por cento). No entanto, apenas o conjunto das empresas do “comércio a retalho de produtos farmacêuticos” registava um saldo positivo entre as rubricas de fornecedores e de clientes (equivalente a 7 por cento do seu volume de negócios em 2016). Os restantes segmentos não obtinham financiamento líquido por dívida comercial (saldos negativos em 11 e 5 por cento do volume de negócios no ”comércio por grosso de produtos farmacêuticos” e na ”indústria farmacêutica”, respetivamente). O setor farmacêutico como um todo apresentava um saldo negativo equivalente a 6 por cento do seu volume de negócios (tal como nos anos anteriores).