Já tínhamos percebido com os excessos nos festejos do título do Sporting que o esforço de toda uma nação durante mais de um ano para conter a pandemia poderia facilmente ir por água abaixo por razões de “emotividade futebolística”. Mas, pelo menos, esperávamos ter aprendido com esse erro para não o repetirmos.
Portugal é reconhecido internacionalmente por ser um bom organizador e anfitrião de grandes eventos. É assim desde a Expo 98, passando pelo Euro 2004 e mais recentemente algumas finais da Champions League. No entanto, no passado sábado, a final disputada entre o Chelsea e Manchester City acabou por ser uma mancha nessa reputação, e tudo por razões extrafutebol.
Ora, vamos por partes! Portugal prontificou-se para receber a final da Liga dos Campões e respetivo público. Mesmo em pleno período de pandemia em que os portugueses ficaram uma época inteira sem poder ir aos estádios. Facto que acabou por ser incompreensível para muitos uma vez que vários outros espetáculos abriram portas a espectadores e que, se os adeptos não têm hipótese de ver o jogo in loco e com lugares marcados e bem provável que se juntem nos arredores dos estádios em ambientes muito menos controlados.
Mesmo perante este contexto, o governo tranquilizou a população dizendo que os adeptos ingleses estariam sempre numa “bolha” no que concerne a segurança e à situação pandémica e que a organização deste evento seria um sinal importante para a retoma do turismo. Acontece que a “bolha” rebentou logo a partir da segunda cerveja e, a partir daí, correram no país imagens de violência gratuita e de falta de respeito pelas normas de segurança em vigor.
Será que valeu a pena correr todos estes riscos para receber 14.000 adeptos no estádio e, se calhar, outros tantos fora dele? Tenho muitas dúvidas se as receitas geradas com o evento possam compensar um retrocesso na gestão da pandemia e que, aqueles que ficaram impedidos de visitar os seus familiares durante tanto tempo, consigam encaixar que o nosso governo compactue com o tipo de comportamento que todos assistimos.
A indústria do futebol, tal como os adeptos, nunca percebeu as razões para não haver algum público nos estádios e, perante a decisão de receber a Champions e dos factos que se seguiram, começa já a pedir demissões no governo. E, como sabemos, quando o futebol enfrenta os políticos, costumam ser estes últimos a ficar em fora de jogo.