1- Do vento à eletricidade
A preocupação com as alterações climáticas tem sido uma constate nos últimos anos. A necessidade de encontrar formas de gerar energia, a partir de fontes limpas e renováveis, vem sendo objeto de destaque e relevo nas políticas energéticas dos diferentes países.
Uma dessas formas de obtenção de energia é o vento. A indústria da energia eólica transforma a energia do vento, fonte natural e inesgotável, em energia elétrica, através dos conhecidíssimos aerogeradores de três pás. Estes, na sua constituição, possuem três elementos fundamentais: o rotor, a caixa multiplicadora e o gerador. O rotor capta a anergia do vento pelas três pás e converte-a em energia mecânica. A caixa multiplicadora aumenta a rotação de 30 rotações por minuto (rpm) para 1500 rpm. O gerador transforma a energia mecânica em elétrica para ser distribuída pela rede.
Os parques eólicos, constituídos pelas várias turbinas eólicas, podem ser instalados em duas localizações: terra ou alto mar. A sua localização define o tipo de energia eólica, onshore em terra e offshore em alto mar.
2- O mercado da energia eólica
O Global Wind Energy Council prevê que nos próximos anos a instalação de parques eólicos offshore tenha um aumento considerável, pese embora o facto de terem custos de instalação e manutenção mais elevados, para além de estarem sujeitos a uma maior exposição às condições climatéricas extremas.
Entre 2009 e 2029, os custos de instalação de turbinas eólicas têm vindo a decrescer e, de $2215/KW em 2009, vinte anos depois, a realidade é diferente. Atualmente, o valor estima-se que seja de $1440/KW. Esta é uma tendência acompanhada, igualmente, pelos custos de manutenção.
No seu relatório, a mesma entidade refere que 2020 foi o melhor ano da indústria eólica a nível mundial, com um aumento da capacidade instalada de 93GW. O crescimento tem sido superior a 50% ao ano. Contudo, não é suficiente para se chegar à meta necessária e estipulada para o ano 2050. É fundamental triplicar a instalação de geradores de energia elétrica, durante os próximos 10 anos, para se atingir o nível zero de emissões de carbono. No entanto, é de salientar que o número de infraestruturas inerentes ao setor quadruplicou, na última década.
Este crescimento deveu-se à onda de desenvolvimento de parques eólicos nos Estados Unidos da América e na China. Os dois maiores mercados a nível mundial, em conjunto, perfizeram um total de 75% das novas instalações.
A American Clean Power Association referiu que mais de 11% da energia do país é proveniente de fontes limpas e que a energia eólica representa 7% do total da energia elétrica fornecida. Em estados, como o Iowa e o Kansas, esse valor sobe para os 40%.
Com a capacidade atual de 743GW, em todo o mundo, é evitada a emissão de mais de 100 milhões de toneladas de CO2 a nível mundial.
Sendo uma indústria, ainda jovem, em comparação com outras do setor energético, encontra-se a percorrer o seu caminho. Porém, as preocupações com as emissões de carbono levam a que objetivos estatais e programas governamentais incentivem o investimento e fomentem o financiamento. A título de exemplo, a energia gerada, a partir do vento, nos Estados Unidos, aumentou 5500% entre 2000 e 2020. Este crescimento evidencia que a instalação e desenvolvimento de infraestruturas, deste setor, tem vindo a crescer, pelos motivos acima mencionados e pela formação de uma maior consciencialização da necessidade de se tornar o planeta mais sustentável.
Com a tecnologia existente e desenvolvida, até ao momento, há uma maior eficiência energética da energia eólica em comparação com as convencionais ou fósseis. Uma turbina eólica tem uma eficiência máxima de 59%, valor que no caso da energia fóssil, se encontra entre os 35 e os 45%.
3- Energia eólica como investimento
O investimento neste setor e em empresas ligadas a energia eólica poderá trazer vantagens, pois o crescimento, adoção e utilização assumem uma tendência crescente. O investimento efetiva-se em empresas ligadas, diretamente, à instalação de infraestruturas, em empresas detentoras de instalações ou em empresas ligadas ao setor, produção das pás dos rotores, por exemplo.
Para os investidores, mais vocacionados a um investimento passivo, Exchange Traded Funds (ETFs) e Real Estate Investment Trusts (REITs) do setor da energia eólica são, também, opções.
Empresas como Vestas Wind System (VWDRY), sediada na Dinamarca e que instalou mais turbinas do que qualquer uma das suas concorrentes, são investimentos potenciais, neste setor. Apesar da queda verificada, esta empresa apresenta um balaço, marcadamente, positivo e com previsão de crescimento de 8 a 15%.
Brookfield Renewable Partners L.P. (BEP) é, igualmente, uma empresa focada na produção de eletricidade proveniente de fontes renováveis e limpas, como o energia solar e eólica. No início de maio, apresentou os resultados do primeiro trimestre, tendo ultrapassado as estimativas do mercado, em mais 92 milhões de dólares.
A Clearway Energy, Inc. (CWEN), Ørsted A/S (ORSTED) ou Northland Power (NPI, NPIFF) são também empresas deste setor, as quais merecem referência, destacando-se as duas últimas como centradas na instalação de parques eólicos, onshore e offshore.
TPI Composites, Inc. (TPIC) é uma empresa Americana, do grupo de empresas que desempenham um papel essencial, neste setor. Cria e constrói as pás para os rotores eólicos. Poderá constituir uma boa oportunidade de investimento, com um ROA de 0,63% e um EPS elevado, no último ano.
NextEra Energy, Inc. (NEE) é uma empresa competitiva no setor da energia limpa. A sua subsidiária é a maior produtora de energia de fontes renováveis do mundo. Apresenta um dividendo, na ordem dos 1,8% anuais.
Avangrid, Inc. (AGR), empresa americana, gestora e detentora de infraestruturas produtoras de eletricidade, a partir do vento, localizadas em 22 estados, dos Estados Unidos, apresenta, anualmente, um crescimento previsto, na ordem dos 6 a 7%.
ETFs e REITs são outras opções de investimento, mais direcionadas para o investidor passivo.
O First Trust Global Wind Energy ETF (FAN) da First Trust Advisors L.P. é um ETF centrado na indústria da energia eólica. Agrupa 51 holdings, entre as quais, Vestas Wind Systems A/S e a China Longyuan Power Group Corporation Limited, ambas com percentagem superior a 8% de participação no fundo.
Recentemente (9 de Setembro de 2021), foi lançado o Global X Wind Energy ETF (WNDY). Conta com 25 holdings, dentre Vestas Wind Systems A/S e a Northland Power Inc. (NPI), cuja percentagem de participação individual, de cada uma, se encontra acima dos 11%.
A exposição a este setor pode, também, ser feita, através dos REITs. Hannon Armstrong Sustainable Infrastructure Capital, Inc. Common Stock (HASI), com um dividendo, na ordem dos 2,42%, é uma das opções neste tipo de veículos de investimento.
4- Notas finais
A energia eólica é uma indústria a ter em consideração na construção de um portefólio diversificado de investimentos, apesar de ser um mercado recente.
Preocupações com sustentabilidade e alterações climáticas, políticas e programas de incentivo e investimento e uma obrigatoriedade, quase imperativa, de redução das emissões de carbono, dão a esta indústria uma possibilidade de crescimento visível e percetível.
Pelo investimento em ações individuais, ETFs ou REITs é possível, ao investidor, estar exposto a este setor e indústria. Contudo, pelas suas características e particularidades, associadas a uma história de vida recente, uma avaliação e análise profundas são fundamentais para uma correta seleção da estratégia de investimento a adotar.
As ideias e as opiniões, acima descritas, refletem a minha linha de pensamento sobre estes veículos de investimentos. Assim, não devem as mesmas ser consideradas ou tidas como forma de aconselhamento financeiro.