1. A indústria do papel vs. digitalização
A opção por formatos digitais e a pressão ecológica podem conduzir ao pensamento de que a indústria do papel e derivados da celulose poderá ser uma área em declínio, até porque é visível uma maior adesão aos formatos não físicos de documentos, processos e outros.
O ano de 2015 registou, pela primeira vez, uma diminuição da procura mundial por papel gráfico, sendo que essa redução foi mais pronunciada do que as previsões mais pessimistas, na América do Norte e na Europa, nos últimos anos. Porém, a indústria de papel e derivados da celulose, como um todo, está a crescer, embora a um ritmo mais lento do que anteriormente. A adaptação da indústria levou a que outros produtos específicos comecem a preencher a lacuna deixada pela queda de procura do papel gráfico, como, por exemplo, o papel de embrulho, embalagens e/ou papéis focados na higiene e saúde.
A nível mundial, a procura de embalagens está a aumentar, à semelhança da procura de papéis tissue (toalhetes, guardanapos e/ou lenços de papel) e de derivados da celulose para produtos de higiene. Apesar da dimensão do segmento ser relativamente pequena, a celulose para aplicações têxteis está a crescer. Por outro lado, uma ampla investigação por novas utilizações e usos dos produtos derivados da celulose está a ser levada a efeito em vários laboratórios e centros de desenvolvimento, bem como a pesquisa para a obtenção de produtos à base de bambu, casca de arroz, palha de trigo, entre outros, em substituição da madeira.
Por exemplo, recentemente, a Unilever (LON:ULVR), em associação com o Pulpex Consortium, lançou a primeira garrafa de papel do mundo para soluções de detergentes para roupas. Esta garrafa foi projetada para reduzir o uso de plástico e promover a reciclabilidade. Estas iniciativas de grandes players do mercado são a prova de que a indústria do papel, celulose e seus derivados está em constante evolução, modernização e adaptação, percebendo-se que este mercado não está em declínio, mas em mudança e ajuste a uma nova realidade, transformando-se e desenvolvendo-se.
2. Consumo global, previsões e mercado
O consumo global de papel e papelão totalizou 399 milhões de toneladas no ano de 2020. Prevê-se que o consumo continue aumentar na próxima década, podendo vir a atingir mais de 460 milhões de toneladas até 2031. Nesta vertente da indústria, as embalagens representam a maior parte da produção global de papel e papelão.
Os Estados Unidos foram, até meados dos anos 2000, o maior produtor mundial de papel e papelão. Desde então, a China tornou-se o principal produtor. No ano de 2020 produziu mais de 116 milhões de toneladas métricas. Japão, Alemanha e Índia, são também produtores líderes de papel e papelão.
A nível global, o consumo de papelão para embalagens foi estimado em 169 milhões de toneladas no ano de 2020. Contudo, prevê-se um aumento da procura deste tipo de produto, superior a 30%, na próxima década, ultrapassando as 220 milhões de toneladas até 2031.
A procura por papel gráfico utilizado para impressão e escrita ficou, no ano de 2020, atrás do papelão para as embalagens. Neste período foi o produto de papel mais procurado em todo o mundo, em parte, como resultado do crescimento das vendas online e necessidade de envio de encomendas durante o período de confinamento, implicando um aumento da procura deste tipo de produto.
Aproximadamente, 85 milhões de toneladas de papel gráfico utilizado para imprimir e escrever foram consumidos em todo o mundo no ano de 2020. As previsões mostram que a procura por este tipo de papel diminuirá, constantemente, em grande parte pela adoção dos formatos digitais. Prevê-se que na próxima década, possa diminuir para as 75 milhões de toneladas até ao ano de 2031. Os dados estatísticos mostram que entre 2000 e 2020, a produção global de papel gráfico diminuiu mais de 30%.
O tamanho do mercado global da celulose e papel foi avaliado num valor superior a 351 mil milhões de dólares americanos, em 2021, com uma previsão de crescimento superior a 354 mil milhões de dólares americanos, até ao final deste ano, podendo chegar a um valor superior a 372 mil milhões de dólares americanos em 2029 e ultrapassando os 380 mil milhões de dólares americanos em 2030. Este aumento representa uma Taxa de Crescimento Anual Composta de aproximadamente 0,72%.
A região da Ásia-Pacífico foi, em 2021, responsável pela maior participação nas receitas da indústria, representando 38% das mesmas. Esta região domina, claramente, o mercado de celulose e papel devido ao aumento da população, levando a uma crescente procura por produtos de papel e derivados da celulose.
O mercado da indústria foi avaliado, nesta geografia em particular, num valor superior a 173 mil milhões de dólares americanos, em 2021, sendo que o segmento das embalagens representou uma quota de mercado superior a 52% neste mesmo ano.
Prevê-se que a Taxa de Crescimento Anual Composta, nesta área geográfica, seja de 3,4% no período entre 2022 a 2030, muito superior à do mercado global. O segmento das embalagens, em especial, crescerá, previsivelmente, com uma Taxa de Crescimento Anual Composta de 4,9%, no mesmo período.
3. As oportunidades de investimento
A indústria do papel é abrangente e dentro dos vários segmentos que a constituem pode encontrar-se oportunidades de investimento nas empresas que se englobam neste mercado. Através de ações individuais ou Exchange Traded Funds (ETFs), o investidor poderá ficar exposto a esta indústria. Porém, é necessária uma análise profunda e avaliação corretas das opções de investimento para que as mesmas se enquadrem dentro do perfil de investidor, objetivos e estratégia de investimento, bem como no âmbito da diversificação da carteira de investimentos.
Seguidamente são apresentadas, de um modo resumido, algumas empresas da indústria do papel, as quais, após uma criteriosa análise, podem vir a constituir oportunidades de investimento.
The Navigator Company, S.A. (NVG.LS) (ELI:NVGR) empresa portuguesa com sede em Setúbal e mais de 3100 funcionários. Apresenta um PE acima dos 14,6 e um EPS de 0,28. O seu Dividend Yield é de 3,45% e o seu ROA encontra-se acima dos 10%. O seu ROE é superior a 25,2% e a sua margem de lucro é superior a 13%.
Mercer International Inc. (NASDAQ:MERC) empresa Canadiana com sede em Vancouver e um Dividend Yield de 1,88%. Apresenta um EPS superior a 4,5 e um PE superior a 3,7. A sua margem de lucro ultrapassa os 14%; o seu ROA é superior a 13% e o seu ROE encontra-se acima dos 44,8%.
Suzano S.A. (NYSE:SUZ) é uma empresa Brasileira com sede em Salvador da Bahia. Distribui dividendos com um Yield de 1,43% e apresenta um EPS superior a 1,7. O seu PE encontra-se acima dos 5,7; o ROA ultrapassa os 9,4% e o ROE está acima dos 61%.
Graphic Packaging Holding Company (NYSE:GPK) empresa americana com sede em Atlanta e 25000 funcionários. Apresenta um PE superior a 25,3 e um EPS superior a 0,9. O seu PB ultrapassa os 3,75 e o seu PS é superior a 0,8. Distribui dividendos com um Dividend Yield de 1,29%.
Clearwater Paper Corporation (NYSE:CLW) empresa americana com um EPS de 2,6 e um PE superior a 17,6. Apresenta um ROE superior a 8,2% e um ROA superior a 4,2%.
Packaging Corporation of America (NYSE:PKG) empresa americana com mais de 15 mil funcionários e sede em Lake Forest. Apresenta um PE superior a 13 e um EPS superior a 10,8. O seu Dividend Yield é de 3,54% e a sua margem de lucro superior a 12,1%. Apresenta um ROA superior a 12,1% e um ROE superior a 27,6%.
International Paper Company (NYSE:IP) empresa americana sediada em Memphis e com 38000 funcionários. Apresenta um PE superior a 11,9 e um EPS superior a 3,7. O seu Dividend Yield é de 4,16% e o seu PB superior a 1,7. O seu ROA é ultrapassa os 4% e o seu ROE encontra-se acima dos 16%.
Kimberly-Clark Corporation (NYSE:KMB) empresa americana com 45000 funcionários e sediada em Dallas. O seu Dividend Yield é de 3,45%; apresenta um PE superior a 25,5 e um EPS superior a 5. O seu ROA é superior a 9,4% e o seu ROE ultrapassa os 242%.
WestRock Company (NYSE:WRK) empresa americana sediada em Atlanta e com mais de 49000 funcionários. Apresenta um PE superior a 12,3 e um EPS superior a 3,45. A sua margem de lucro é superior a 4,4% e o seu ROA ultrapassa os 3,9%. O ROE encontra-se acima dos 8,7% e o seu Dividend Yield é de 2,33%.
Exchange Traded Funds (ETFs)
Embora os ETFs aqui apresentados não sejam específicos da indústria do papel, têm nas suas listas de holdings, empresas que se incluem neste mercado.
iShares Global Timber & Forestry ETF (NASDAQ:WOOD) é um ETF lançado em Junho de 2008, no qual Suzano S.A. (SUZ), WestRock Company (WRK) ou International Paper Company (IP) figuram na sua lista de holdings. Apresenta uma TER de 0,4%.
Invesco MSCI Global Timber ETF (NYSE:CUT) lançado em Novembro de 2007, no qual empresas como Packaging Corporation of America (PKG), Suzano S.A. (SUZ) ou Graphic Packaging Holding Company (GPK) estão presentes na sua lista de holdings. A sua TER é de 0,61%.
4. Conclusão
A diminuição de utilização de papel gráfico, de escrita e de impressão pode, falaciosamente, levar a uma ideia de declínio da indústria do papel. Porém, os dados mostram que os vários segmentos que a compõem, destacando-se o das embalagens têm vindo a colmatar a redução da procura de papel gráfico.
A indústria adaptou-se, reorganizou-se e desenvolveu outros produtos que projetam valores de crescimento e evolução de receitas bastante satisfatórios.
É neste contexto que as oportunidades de investimento podem surgir dentro deste mercado. Através de ações individuais de empresas e/ou Exchange Traded Funds, pode o investidor, após uma correta e profunda análise das possibilidades de investimento, ficar exposto a uma indústria que, pelas previsões, terá um crescimento considerável nos próximos anos.
As ideias e as opiniões, acima descritas, refletem a minha linha de pensamento sobre estes veículos de investimentos. Assim, não devem as mesmas ser consideradas ou tidas como forma de aconselhamento financeiro.