Por Catarina Demony
LISBOA, 11 Fev (Reuters) - Diante do caixão fechado de mais uma vítima da Covid-19 em Portugal, o funcionário de funerária Carlos Carneiro chorou quando a família da vítima colocou para tocar um disco de fado tradicional como despedida.
Carneiro, de 37 anos, ajuda pessoas a lidar com suas perdas há duas décadas no setor funerário, mas nunca se sentiu tão afetado pelo sofrimento e pelo medo.
Portugal se saiu melhor do que outros países na Europa na primeira onda da pandemia, entre março e abril, mas o novo ano trouxe um disparada devastadora de infecções e mortes, sobrecarregando o serviço de saúde e as casas funerárias.
Mais de 14.700 já morreram de Covid-19 em Portugal, e as infecções cumulativas desde o início da pandemia estão em quase 775 mil.
"Nunca me senti tão comovido, com tantos enterros consecutivos", disse Carneiro à Reuters com voz trêmula diante do crematório em que o corpo de Matilde Firmino, de 77 anos, era reduzido a cinzas.
"É duro para nós. Sentimos quando chegamos em casa".
Devido às regras adotadas para diminuir o risco de contágio do coronavírus, funerárias como a Funalcoitão, próxima de Lisboa, onde Carneiro trabalha, tiveram que se adaptar rapidamente.
Os funcionários têm que usar equipamento de proteção da cabeça aos pés, e os corpos são colocados dentro de sacos plásticos brancos e depois nos caixões, sem embalsamamento ou maquiagem.
Raramente as famílias podem ver os falecidos antes de eles serem enterrados ou cremados, e a filha de Firmino chegou a recear que não fosse mesmo sua mãe no caixão.
(Por Catarina Demony, Miguel Pereira e Pedro Nunes)