(Acrescenta comentário Ministério das Finanças) Por Sergio Goncalves
LISBOA, 12 Ago (Reuters) - A economia de Portugal manteve um tímido crescimento em cadeia de 0,2 pct no segundo trimestre de 2016, liderado pelas exportações líquidas mas com a procura interna a desiludir e a ter um contributo nulo, tornando ainda mais difícil o país atingir as suas metas orçamentais, segundo analistas.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) referiu, numa estimativa rápida, que o Produto Interno Bruto (PIB) português cresceu 0,8 pct entre Abril e Junho de 2016, comparando com o período homólogo de 2015. Entre Janeiro e Março de 2016, o PIB de Portugal cresceu 0,9 pct face há um ano atrás. "A economia está assim a levar mais tempo a acelerar o ritmo
de crescimento," disse o Ministério da Finanças, em comunicado. "Contudo, nos próximos meses, o crescimento económico deverá ser sustentado nos sinais de franca recuperação do mercado de trabalho," previu.
O desemprego em Portugal caiu a pique no segundo trimestre de 2016, para um mínimo desde antes do resgate do país em 2011, com uma robusta criação de emprego que deverá permitir ao Governo socialista anti-austeridade atingir a sua meta anual, apesar do fraco crescimento económico, segundo analistas.
"A procura externa líquida contribuiu positivamente, enquanto a procura interna registou um contributo nulo", disse o INE, acerca do crescimento em cadeia no segundo trimestre contra o primeiro trimestre.
Filipe Garcia, economista e presidente da Informação de Mercados Financeiros, referiu que se está "perante um cenário que caracteriza o que tem vindo a acontecer à economia
portuguesa: crescimento muito reduzido, com a economia a ir desacelerando desde meados do ano passado".
"Este crescimento baixo coloca desafios ao desempenho orçamental e poderá levar à implementação de medidas fiscalmente restritivas no segundo semestre e em 2017", afirmou Filipe Garcia, no Porto.
Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI, em Lisboa, referiu que tinha uma previsão de 0,5 pct em cadeia e de 1,1 pct homólogo, frisando: "Nós não esperávamos que o abrandamento da procura interna fosse tão acentuada e prevíamos uma contributo maior da procura procura externa". "Com este cescimento, a meta orçamental comporta riscos",
adiantou.
A 9 de Agosto, o Conselho Europeu decidiu não multar os dois países ibéricos por terem tido um défice excessivo em 2015, dando um ano adicional a Portugal, ou seja até ao final de 2016, para reduzi-lo para 2,5 pct do PIB, ainda assim acima dos 2,2 pct previstos no Orçamento de Estado para o corrente ano.
Em 2015, o défice público português fixou-se em 4,4 pct do PIB, penalizado pelo resgate do Banif no final daquele ano. Excluindo este e outros efeitos 'one off', o défice ficou em 3,2
pct, ainda acima do tecto de 3 pct fixado pelas regras do procedimento dos défices excessivos.
O Governo socialista, apoiado pelo Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP), tem seguido uma política anti-austeridade e de devolução de rendimento às famílias para sustentar o consumo privado.
No Orçamento de Estado, o Governo português estimou que o PIB de Portugal crescesse 1,8 pct em 2016, face a 1,5 pct em 2015, mas o Ministro das Finanças, Mário Centeno, tem realçado que pode cortar esta estimativa devido à expectativa de degradação da envolvente externa após o 'Brexit'.
Esta previsão governamental tem sido contrariada por organismos externos e nacionais, prevendo o Fundo Monetário Internacional (FMI) que a economia portuguesa cresça apenas 1
pct em 2016.
"Para o conjunto de 2016, pensamos que o PIB poderá crescer, no máximo, 0,8 pct a 0,9 pct, com riscos de revisão em baixa", disse Filipe Garcia.
Teresa Gil Pinheiro disse que a "desaceleração do consumo privado já era esperada, mas o facto de haver uma contracção mais forte do investimento é o que parece pior, sobretudo quando havia sinais de alguma estabilização". "Nós temos uma previsão de 1,3 pct para a totalidade do ano, mas podemos revê-la em baixa", disse a economista do BPI.
MODELO LIMITADO?
Filipe Garcia afirmou que "o modelo de crescimento baseado na ideia de tentativa de promoção do consumo privado está a mostrar as suas limitações, mesmo num contexto de vendas fortes no setor automóvel no semestre, aumento na concessão de crédito, o turismo muito dinâmico e franca atividade na área da reabilitação de imobiliário", afirmou Filipe Garcia.
Lembrou que "os efeitos de rendimento decorrentes da queda de petróleo e das taxas de juro e da reposição de remunerações parecem já se terá dissipado", vincando: "mesmo o aumento de crédito concedido às famílias não está a provocar a aceleração da procura interna".
O INE adiantou que, em termos homólogos, "o contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB diminuiu significativamente, observando-se um crescimento menos intenso do consumo privado e uma redução mais expressiva do investimento".
"A procura externa líquida passou a ter um contributo ligeiramente positivo, refletindo a desaceleração mais acentuada das Importações de Bens e Serviços em comparação com a das Exportações de Bens e Serviços", destacou.
Esta manhã, os dados do PIB da Alemanha mostraram que o motor da Europa mantém alguma força, com um crescimento homólogo de 3,1 pct no segundo trimestre, mais do dobro do estimado na Poll da Reuters, após um aumento ajustado sazonalmente de 0,4 pct em relação ao trimestre anterior.
(Por Sérgio Gonçalves e Shrikesh Laxmidas; Editado por Patrícia
Vicente Rua)