(Repete notícia divulgada ontem ao final da tarde)
Por Sergio Goncalves
PORTO, 24 Nov (Reuters) - A Assembleia Geral (AG) do BPI BBPI.LS adiou a votação da venda de uma posição de dois pct que este banco tem no Banco de Fomento Angola (BFA) à telecom angolana Unitel, por proposta do CaixaBank, que quer aguardar uma resposta do BCE sobre se a operação cumpre a exigência do BCE que reduza a exposição àquele país africano, disseram accionistas.
"O argumento do Caixabank é que aguarda uma resposta formal do BCE sobre se esta venda cumpre os requisitos de redução de exposição a Angola", um accionista disse à Reuters.
Uma nova Assembleia Geral dos accionistas do banco para discutir esta questão terá lugar a 13 de Dezembro.
A associação de pequenos investidores ATM, que tem exigido a subida de preço do 'bid' do Caixabank sobre o BPI, ficou surpreendida com o facto de ter sido o banco espanhol a pedir a suspensão da AG, bem como pelo argumento utilizado.
"Esta proposta do Caixabank apanhou-nos, de facto, de surpresa e mais surpresa tivemos porque o próprio presidente (executivo) Fernando Ulrich esclareceu a AG que o BCE iria aprovar (que a venda de 2 pct permitiria reduzir a exposição a Angola) porque está em contactos permamente com o BCE, e é esse o 'feedback' que tem tido", disse Octávio Viana, presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos (ATM).
Adiantou que, "para além disso, o próprio contrato de venda firmado entre a Unitel e o BPI não tem nenhuma claúsula que preveja que, caso o BCE não considere resolvido o problema dos grandes riscos por esta via, o contrato ficaria sem efeito".
"Desconheço os objectivos do Caixabank. Acho que a proposta (de suspensão pedida pelo Caixabank) não faz muito sentido com as razões que o Caixabank apresentou. Existirão outras razões? Certamente existirão".
E A OPA?
Octávio Viana referiu que, "caso o Caixabank retirasse a Oferta, em termos reputacionais era muito mau para o Caixabank e iria deixar uma via para a litigância pois os accionistas pediriam para ser indemnizados pela retirada da oferta".
"Em termos reputacionais seria muito mau em termos reputacionais para um banco que está no espaço ibérico. Depois também ficaria inibido dos direitos de voto acima dos 33,33 pct. Portanto, não acredito que seja essa a via", afirmou.
"Deduzo que o caminho mais fácil seja uma subida do preço (da OPA sobre o BPI), mas sinceramente não consigo descortinar se é essa a razão ou se serão outros eventualmente políticas, problemas com a Santoro, não faço a mínima ideia", referiu o presidente da ATM.
A ATM acusou o espanhol Caixabank CABK.MC de injustamente favorecer Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola, com a venda destes dois pct do BFA à telecom angolana Unitel, ameaçando abrir uma guerra judicial e complicar o 'bid' do espanhol sobre o BPI. associação calcula que o Caixabank está a oferecer exclusivamente à Unitel, que considera parte-relacionada com a Santoro de Isabel dos Santos, um prémio implícito de controlo de 307,4 ME, permitindo-lhe controlar 51,9 pct do BFA, enquanto o BPI reduziria para 48,1 pct.
Assim, a ATM exigiu que o Caixabank subisse a contrapartida para, pelo menos, cerca de dois euros por acção do BPI, face à actual contrapartida de 1,134 euros, mas o preço equitativo até seria 3,15 euros. Caso o Caixabank - maior accionista do BPI com 45 pct - não o fizer ou não seja nomeado um auditor independente pela CMVM, a ATM disse que recorreria para os tribunais.
A Santoro de Isabel dos Santos é a segunda maior accionista do BPI com 18,6 pct directos, enquanto o banco da empresária angolana BIC tem mais 2,28 pct.
A alemã Allianz (DE:ALVG) tem 8,4 pct do BPI e a portuguesa Violas Ferreira Financial detém 2,7 pct.
BCE EXIGE
Desde Dezembro de 2014, o Banco Central Europeu (BCE) vem exigindo ao BPI que reduza a sobre-exposição aos riscos de Angola, país que as autoridades europeias deixaram de considerar ter a mesma equivalência de supervisão. Tal implicou passar a ponderar aquele risco a 100 pct, quando antes o BPI tinha apenas de provisionar entre zero pct e 20 pct da exposição.
Mas, na sequência da OPA do Caixabank, o BCE suspendeu a multa diária prevista de 160 mil euros, que seria uma machadada na rentabilidade.
Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola e a segunda maior accionista com 18,6 pct do BPI, manteve um longo 'braço de ferro' com o Caixabank - maior accionista com 45 pct - e travou sempre as investidas do Caixabank para controlar o BPI, tirando partido do anterior limite de votos de 20 pct.
Contudo, a 20 de Setembro, o 'board' do BPI propôs vender 2 pct da 'jóia da côroa' BFA à Unitel, mas Isabel dos Santos tinha de viabilizar o fim do limite dos votos, que era condição para o sucesso do 'bid' do Caixabank.
A 21 de Setembro, Isabel dos Santos absteve-se na AG que desblindou os Estatutos, permitindo acabar com aquela limitação. (Por Sérgio Gonçalves; Escrito por Daniel Alvarenga)