Por Sergio Goncalves e Goncalo Almeida
LISBOA, 30 Jul (Reuters) - O vereador de Lisboa, Ricardo Robles, demitiu-se após a forte polémica por este dirigente 'bloquista', acérrimo crítico da especulação imobiliária, ter comprado com a irmã um prédio em Alfama por 347 mil euros em 2014, ter investido 650 mil euros na recuperação e ter proposto vendê-lo por 5,7 milhões de euros.
A notícia, avançada pelo 'O Jornal Económico' e confirmada pelo próprio Ricardo Robles, levou o Partido Social Democrata (PSD), a pedir a demissão deste vereador com o pelouro da Habitação no Executivo da capital, "por manifesta falta de ética, de seriedade e de credibilidade política".
Na sexta-feira passada, Ricardo Robles, que tem criticado o "carrocel da especulação" em Lisboa, recusou demitir-se, afirmando que "esta compra não foi uma operação especulativa", frisando: "nada fiz de condenável e nada tenho a esconder".
Nesse dia, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, defendeu Robles afirmando que era uma "cabala" do PSD, que "decidiu, em vez de tirar consequências das investigações de que está a ser alvo, perseguir o BE".
Contudo, em comunicado hoje, Ricardo Robles disse que informou ontem a coordenadora do BE da sua intenção de renunciar aos cargos de vereador e de membro da comissão coordenadora concelhia de Lisboa do BE.
"Uma opção privada (a compra do imóvel), forçada por constrangimentos familiares que expliquei e no respeito pelas regras legais, revelou-se um problema político real e criou um enorme constrangimento à minha intervenção como vereador", afirmou Ricardo Robles.
"Esta (demissão) é uma decisão pessoal que tomo com o objectivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade", acrescentou.
Apesar das declarações iniciais de apoio a Ricardo Robles por dirigentes 'bloquistas', hoje o deputado e fundador 'bloquista' Luís Fazenda disse em entrevista ao Jornal i que no partido "tem de se fazer uma reflexão e tirar conclusões".
"São circunstâncias que, no BE, nós condenamos e que levam à gentrificação", afirmou Luís Fazenda.
O BE é parceiro dos socialistas na solução governativa do país e no Executivo da Câmara de Lisboa.
Ricardo Robles explicou que comprou o prédio degradado, perto do Museu do Fado, conjuntamente com a sua irmã em 2014, na altura emigrante na Bélgica, que tinha a intenção de regressar a Portugal e necessitava de habitação em Lisboa.
A compra por 347 mil euros e o investimento de recuperação do prédio, que ascendeu a 650 mil euros, foram feitos através de "crédito bancário e apoio dos pais", disse na sexta-feira.
Afirmou que, entretanto, a sua irmã se casou com um cidadão alemão e desistiu de voltar a Portugal, e daí os dois terem decidido em 2017 colocar o imóvel à venda, "com a avaliação feita por uma agência imobiliária", ou seja os tais 5,7 milhões de euros.
Adiantou que os antigos inquilinos saíram por mútuo acordo e pagamento de indemnizações em alguns casos, sendo que "absolutamente ninguém foi despejado: a única família que lá vivia, lá continua, agora com casa recuperada e contrato em seu nome, por 8 anos e renda de 170 euros mensais".
O imóvel esteve à venda desde Novembro de 2017 e Abril de 2018, mas a alienação não se concretizou.
Na sexta-feira passada, Ricardo Robles disse que já tinha tomado a decisão de colocar este imóvel "em propriedade horizontal, de forma a poder dividir as fracções" com a irmã e que não alienaria a sua parte.
Afirmou que não venderá a sua parte do imóvel e colocará as suas fracções no mercado de arrendamento. (Por Sérgio Gonçalves e Gonçalo Almeida; Editado por Catarina Demony)