A longa negociação do Conselho Europeu para acordar o Fundo de Recuperação dos ainda "28" da crise provocada pelo novo coronavírus impôs cortes em setores onde a Comissão Von der Leyen pensava poder começar a marcar pontos. À cabeça, a transição energética e o Acordo de Paris.
Para conseguir a neutralidade climática até 2050, a Comissão Europeia adotou em meados de janeiro uma proposta de regulação para criar o Fundo para a Transição Justa, destinado a apoiar os Estados-membros mais afetados pela necessidade de reduzir drasticamente a dependência do carvão.
Com o novo orçamento europeu agora acordado entre os líderes e ainda dependente de aprovação final, a transição ecológica europeia perde força traduzida em euros.
Em vez dos €30 mil milhões de projetados, o Fundo para a Transição Justa vai apenas ter €10 mil milhões disponíveis para compensar uma União Europeia mais verde.
Outra área com o futuro prejudicado pelo impacto da Covid-19 no novo Quadro Financeiro Plurianual (QFP 2021-2027) é o da pesquisa na ciência e inovação.
O projeto Horizonte2020, ou Horizonte Europa, viu cair o orçamento de mais de €13 mil milhões de projetados até dois mil e vinte e sete para apenas €5 mil milhões.
Também afetado pelos cortes ficou o Fundo de Desenvolvimento Rural na União Europeia, com metade do previsto: €75 mil milhões.
Com uma quebra ainda mais acentuada fica o legado de Jean Claude Juncker na Comissão Europeia.
Dos cerca de €30 mil milhões previstos, o programa InvestEU não vai ter disponível nem 20 por cent.
Com as lições aprendidas nesta pandemia ainda ativa de Covid-19, a União Europeia criou recentemente o programa EU4Health (UE para a Saúde), um plano para desenvolver um sistema de saúde mais resiliente a nível europeu.
Mas até este projeto da Comissão Von der Leyen vai agora ter de ser mais modesto, vendo o orçamento de €9,4 mil milhões de euros projetados em maio cair para €1,7 mil milhões.
O setor da saúde pode, no entanto, beneficiar a nível nacional com Fundo de Recuperação finalmente acordado.
Serão €750 mil milhões, entre empréstimos e subvenções a fundo perdido, a distribuir de forma individual para ajudar os países europeus mais afetados pela pandemia.
Estão apenas por conhecer os mecanismos de controlo que os países ditos "frugais" vão conseguir impor para limitar a liberdade de investimento desse fundo por cada parceiro beneficiado, Portugal incluído.