A União Europeia deve criar um banco de exportações, estabelecer um euro digital e restringir o acesso aos mercados europeus para contrariar a “agressão económica” de potências como a China e os EUA, defende um relatório divulgado esta quarta-feira.
Desde que Donald Trump chegou à Casa Branca, em 2017, a luta pela hegemonia com a China intensificou-se. Desde março de 2018 que ambas as potências travam uma guerra comercial e nestes últimos meses tem-se intensificado o conflito, com restrições pesadas às empresas chinesas Huawei e ZTE nos concursos internacionais para a rede 5G, bem como uma acérrima troca de acusações sobre quem é o culpado da origem da atual pandemia de Covid-19.
Relatório: Como os europeus podem repelir a agressão económica chinesa e americana
Jonathan Hackenbroich, autor do relatório “Como os europeus podem repelir a agressão económica chinesa e americana”, do think tank independente do Conselho Europeu para as Relações Externas (ECFR).
Jonathan Hackenbroich
“A opção preferencial da UE face a ameaças externas será sempre o compromisso multilateral. No entanto, isso nem sempre é viável, especialmente perante tentativas de chantagem de alto nível. Nestes casos, os europeus precisam de opções que dissuadam e afastem o recurso à agressão económica por outras potências. Tais opções vão aumentar a resiliência europeia, estabelecer um dissuasor eficaz e os incentivos certos para a cooperação e para evitar uma nova escalada. Nenhuma das opções é fácil, mas a inação está a tornar-se insuportável e perigosa para Europa”
Jonathan Hackenbroich,
O relatório cita exemplos como as ameaças norte-americanas de sanções a vertentes do comércio UE-Turquia, a proibição aos bancos europeus de admitirem contas da procuradora do Tribunal Penal Internacional que investiga possíveis crimes de guerra dos Estados Unidos ou a ameaça da China de suspender o fornecimento de equipamentos médicos à Holanda.
Sugestões do Relatório
(Fotografia de Daniel ROLAND / AFP)
Um banco europeu de exportações, para manter abertos os canais financeiros com países terceiros alvos de sanções de potências estrangeiras e limitar a exposição ao sistema financeiro norte-americano e ao dólar.
Propõe também a criação da moeda euro digital, mais resiliente à coerção económica e que permita reduzir a informação para países terceiros sobre as transações financeiras europeias.
Euro Digital
Ou ainda que as transferências globais de dados, a que as empresas são crescentemente pressionadas, sejam negociadas em acordos baseados no comércio regulado e na concorrência leal, ou, caso não seja possível, reguladas por uma autoridade europeia que proteja as empresas de transferências de dados sensíveis para países terceiros.
O relatório, divulgado numa altura em que a UE está a rever a sua política comercial externa e a estabelecer medidas para aumentar a sua soberania económica, visa fornecer aos legisladores europeus uma “caixa de ferramentas” para proteger a Europa da coerção económica, precisa a organização.
As decisões que vierem a ser tomadas, sustenta, devem considerar “o custo político e económico da inação”, por um lado, e o custo da utilização das ferramentas, por outro. Para o diretor do ECFR, Mark Leonard, “os Estados Unidos e a China não querem uma guerra convencional”, pelo que “a sua arma mais poderosa é a manipulação da arquitetura da globalização”, que coloca a Europa em “risco de ser espremida no meio da sua competição”.