Durante a última década, temos assistido a movimentações geoestratégicas por parte da Turquia, motivadas pelas respetivas pretensões expansionistas.
Regiões como o Médio Oriente e o Norte de África, são alguns dos exemplos mais concretos nos que a Turquia se insere, com o objetivo de se tornar uma potência em ascensão.
A ausência de superpotências geopolíticas nas citadas regiões, como por exemplo os EUA, terá permitido à Turquia estabelecer-se e amplificar a sua esfera de poder e influência geopolítica.
Turquia no Oriente Médio
No que toca à imagem que carateriza a Turquia no Médio Oriente, podemos dizer que as opiniões são contraditórias, até porque mediante os interesses comerciais envolvidos na região, conjugadas com os atores que nela estão em jogo, diferentes perspetivas acabam por ser formuladas com muito cuidado e atenção.
Por um lado, temos os países do Médio Oriente que se encontram sob o domínio da esfera geoestratégica turca e que, por conseguinte, apoiam esta expansão da Turquia, de que salientamos o Qatar, Kuwait e Omã.
Por outro lado, países como os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, opõem-se à expansão geopolítica da Turquia, recorrendo para isso à constante pressão internacional.
Neste momento, a oposição mais forte à expansão turca no Médio Oriente é feita pela Arábia Saudita.
Nos últimos dias, o príncipe saudita Abdulrahman Bin Musa’ad terá embargado produtos de origem turca, transparecendo assim que pretende cortar relações comerciais com a Turquia.
Mas as ações resilientes por parte da Arábia Saudita não ficaram por aqui. Relevamos a proibição e a censura feitas a séries televisivas criadas na Turquia, bem como a referência a episódios históricos do Império Otomano nos programas escolares sauditas.
Um dos perigos que a imagem da Turquia representa para o Médio Oriente é baseada na desestabilização entre os países membros da OPEP, uma vez que a Arábia Saudita, Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos são todos os membros desta associação, e que tem por base a criação de sinergias, o aumento de fluxos comerciais e a repartição de ganhos com a extração de petróleo e outras atividades.
Apesar disso, do lado turco, o Presidente Erdogan, afirma que o seu exército, com base militar no Qatar, ajuda na estabilização e segurança nos Estados do Golfo.
Presidente Erdogan
Quem mais se opõe à Turquia?
Em janeiro de 2019, foi formado no Cairo um grupo de cooperação económica, intimamente ligado à exploração de gás natural na área do Mediterrâneo. Este grupo é constituído por países como o Egito, Chipre, Grécia, Israel, Itália, Jordânia e Palestina. Neste grupo não se insere a Turquia e isso poderá ter sido feito deliberadamente.
No entanto, mesmo nunca tendo declarado diretamente que um dos seus principais objetivos é controlar e reduzir influência Turca no Mar Mediterrâneo, muitos analistas acreditam que este parece ser o caso.
Também no início de 2020, o Egito organizou um evento com a República do Chipre, Grécia, Itália e França para denunciar as ações Turcas no Mar Mediterrâneo oriental.
Além disso, como as relações entre Israel e a Turquia continuaram a deteriorar-se nos últimos anos, Israel foi forçado a tomar um caminho diferente e a considerar outras maneiras de entrar no oficio do gás natural no Mar Mediterrâneo, com oposição clara à Turquia.
Em janeiro de 2020, Israel, a República do Chipre e a Grécia firmaram um acordo envolvendo um gasoduto no Mediterrâneo Oriental. Este irá conectar os três países, com a possibilidade de enviar gás diretamente para os mercados europeus, deixando de fora a Turquia no processo.
No entanto, a Turquia afirma que deixá-los de fora do programa de gás natural poderia violar acessos a estas reservas. Além disso, existe a pretensão do controlo do Norte do Chipre por parte da Turquia, que no momento é administrado por cipriotas turcos.
Mesmo com negociações entre a República do Chipre e o Norte do Chipre a decorrem há décadas, ainda não existe uma solução à vista pelos dois lados, chegando até agora, apenas a becos sem saída.
Durante os últimos anos, a postura política e militar da Turquia resultou na deterioração dos seus laços com os países vizinhos, e o seu isolamento fez com que a pesquisa de mais oportunidades na área fosse uma opção viável.
Uma destas oportunidades interessantes do ponto de vista estratégico, respeitante à área do Mediterrâneo, foi o caso da Líbia.
Com efeito, a Turquia assinou um Memorando de Acordo com a Líbia, reconhecido pela ONU. Assim, a Turquia conseguiu salvaguardar e fortificar os seus interesses no Mediterrâneo Oriental, afirmando o seu status quo na região.
Alguns acreditam que o plano da Turquia era definir a Irmandade Muçulmana no comando da Síria, que mantém pontos de vista semelhantes aos do governo turco (AKP) e a partir daí ser capaz de manipular as circunstâncias a seu favor e de se beneficiar na posição geopolítica da Síria.
Também a adesão da Turquia à NATO foi posta novamente em causa, aquando da compra de mísseis S-400 de fabricação russa. A Turquia não só rejeitou as regras da OTAN sobre a matéria, como também mostrou novamente a tendência para agir com preponderância instável, não considerando nenhuma lei ou outras grandes alianças internacionais. Esta atitude fez da Turquia o maior vilão do Mar Mediterrâneo atualmente.
Em conclusão, a Turquia sofreu economicamente durante o ano passado com a queda da sua moeda para mínimos históricos e com os seus indicadores financeiros mais relevantes apontados para uma contração severa.
O presidente da Turquia, Tayip Erdogan, tem sido referido como Sultão e alguns acreditam que as ações da Turquia visam trazer de volta o Império Otomano.
No entanto, a ideia de que a Turquia está relutante a conversas e negociações sobre assuntos-chave começou a enfurecer vários países que podem estar na senda de retaliação internacional.
A interferência da Turquia nas últimas tensões entre a Arménia e o Azerbaijão para apoiar este último, é outro exemplo relacionado com os muitos mencionados acima.
Poderá a Turquia manter a sua compostura com a economia e carga militar para se estender em tantas direções diferentes?