Quando os cigarros eletrónicos chegaram ao mercado, foram anunciados como o menor de dois males, ajudando as pessoas a afastarem-se dos cigarros tradicionais e dos riscos para a saúde associados ao tabagismo.
Mas nos últimos anos, os "vapes" tornaram-se uma espécie de tendência entre os jovens. O vaporizador de utilização única é praticamente um acessório, e cada vez mais adolescentes podem ser vistos a usar o dispositivo.
Mas por detrás desta moda está uma estratégia de marketing calculada. Os profissionais de saúde estão a dar o alarme.
Quão maus são os "vapes" de utilização única para a saúde?
Inventados em 2019, os vapes de utilização única vêm normalmente em embalagens coloridas e rapidamente ganharam popularidade entre os adolescentes, primeiro nos EUA; a tendência atravessou velozmente o Atlântico.
Segundo o jornal Financial Times, 14% dos adolescentes ingleses com idades entre os 14 e os 17 anos usam vaporizadores mais do que uma vez por semana.
Na Europa, em geral, os números também estão a aumentar, com um inquérito francês a revelar que mais de um em cada 10 adolescentes já experimentou o vaporizador.
Os sabores doces dos cigarros eletrónicos de utilização única são o argumento de marketing mais convincente para os consumidores mais jovens.
De acordo com a organização de vigilância da indústria tabaqueira STOP, a combinação de sabores frutados, embalagens divertidas e a promoção por influenciadores sociais visam e uma nova geração de utilizadores como "fumadores de substituição".
A investigação sublinhou que, em França, 17% dos adolescentes utilizavam dispositivos de aplicação única, tendo depois passado para outros produtos.
Com o aumento da investigação, está a tornar-se claro que os vapes de utilização única estão longe de ser inofensivos. Tal como acontece com os cigarros eletrónicos, a maioria dos vaporizadores de utilização única contém nicotina, que é altamente viciante.
Quase metade dos utilizadores diários sofrem de efeitos secundários como tosse, falta de ar e palpitações cardíacas, segundo a organização Drugwatch.
Embora a extensão dos efeitos a longo prazo não seja atualmente conhecida devido à falta de investigação médica, um estudo mostrou que a utilização prolongada de produtos vaporizadores pode prejudicar significativamente a função dos vasos sanguíneos do corpo, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
Proibição na Austrália e na Nova Zelândia
A Nova Zelândia, conhecida pelas suas rigorosas diretrizes antitabaco, declarou que vai proibir os vaporizadores descartáveis a partir de Agosto deste ano.
O Ministério da Saúde anunciou que a Nova Zelândia adotou um novo conjunto de regras para proteger os jovens, tais como um nível mais baixo de nicotina, nomes de sabores mais monótonos e a proibição de abrir lojas de "vapores" nas imediações de escolas.
"Reconhecemos que é necessário encontrar um equilíbrio entre a prevenção do consumo de vaporizadores pelos jovens e a disponibilização de vaporizadores como instrumento de cessação do tabagismo para aqueles que querem realmente deixar de fumar", afirmou a Dra. Ayesha Verrall, Ministra da Saúde da Nova Zelândia.
As restrições surgem um mês depois de a Austrália ter anunciado medidas semelhantes para a utilização de vaporizadores, tendo o governo acusado a indústria do tabaco de tentar viciar a próxima geração de adolescentes em nicotina.
O Reino Unido também está a ponderar a adoção de medidas. O Royal College of Paediatrics and Child Health (RCPCH) apelou esta semana a uma proibição.
"O vaping juvenil está a tornar-se rapidamente uma epidemia entre as crianças e receio que, se não forem tomadas medidas, vamos caminhar como sonâmbulos para uma crise", afirmou o Dr. Mike McKean, vice-presidente do RCPCH para as políticas.
Esta semana, foi concluída no Reino Unido uma consulta pública sobre a utilização de vaporizadores pelos jovens.
O governo francês também está a considerar uma proibição, com Françosi Braun, ministro da saúde, a afirmar que "estes produtos levam os jovens a fumar".
O ministro da saúde australiano, Neil O'Brien, chamou ao vaping "uma faca de dois gumes", pois acredita-se que ainda representa uma opção mais saudável para os fumadores de cigarros