Por Sergio Goncalves e Patricia Vicente Rua
LISBOA, 17 Ago (Reuters) - Portugal colocou 1.300 milhões de euros (ME) de Bilhetes do Tesouro (BT) a três e 11 meses, bem acima do previsto, com sólida procura que levou as taxas a voltarem a cair, incólumes ao disparo das 'yields' de longo prazo após a DBRS ter alertado para o fraco crescimento económico e a elevada dívida.
O IGCP-Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública anunciou que colocou 400 ME de BT a três meses e 900 ME a 11 meses. O montante indicativo global situava-se entre 750 e 1.000 ME.
No prazo mais curto, a taxa média ponderada (TMP) fixou em -0,108 pct, contra 0,075 pct no anterior leilão realizado em 15 de Junho.
Na maturidade a 11 meses, a TMP situou-se nos 0,007 pct, face aos 0,038 pct da colocação de BT a 1 ano efectuada a 20 de Julho.
Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa, no Porto, referiu que "as taxas saíram aos níveis do secundário e desceram versus os últimos leilões comparáveis", frisando: "acabou por sair em linha com as baixas taxas que temos na curva da dívida soberana europeia e Portugal continua a beneficiar com isso".
"O alerta da DBRS é mais um dos que eles fizeram, mas para já não passa disso mesmo e acabou por não ter nenhum efeito negativo (nos leilões de BTs)", adiantou Filipe Silva, lembrando que Portugal continua a conseguir ir diminuindo o custo médio da sua dívida.
"O mercado continua a não ver risco de incumprimento na dívida portuguesa de curto prazo (até um ano)", concordou Filipe Garcia, presidente e economista da Informação de Mercados Financeiros, no Porto.
Acrescentou que "a subida recente dos rendimentos da dívida, após os comentários da DBRS, não influenciou o leilão, mas apenas as partes mais longas da curva em mercado secundário".
YIELDS BONDS SOBEM
A descida das taxas no leilão de BTs aconteceu, apesar das 'yields' dos 'bonds' portugueses a 10 anos PT10YT=TWEB estarem hoje a subir 10 basis points (bp) para o máximo em duas semanas nos 2,97 pct, após o disparo de 15 bp ontem, com o alerta da DBRS quanto ao fraco crescimento e alta dívida pública e empresarial do país.
As pressões sob a credibilidade de Portugal estão a aumentar pois a economia está a debater-se com um baixo crescimento para conter os elevedos níveis de dívida pública e das empresas, quando há tensões no sector bancário, disse ontem o director de ratings soberanos da agência de crédito DBRS.
A classificação de 'grau de investimento' atribuída pela DBRS, BBB (low), tem sido um suporte vital para Portugal, permitindo que os seus títulos de dívida soberana continuem a fazer parte do programa de compras do Banco Central Europeu (BCE) e como colaterais elegíveis para o financiamento bancário ilimitada e agora funding grátis.
A avaliação, cuja próxima revisão ocorrerá em 21 de outubro, tem uma perspectiva "estável", dando a Lisboa algum espaço para respirar, mas Fergus McCormick disse à Reuters que o quadro se está a deteriorar.
"A divulgação do PIB do segundo trimestre na sexta-feira (que apresentou um crescimento em cadeia de apenas 0,2 pct) aumentou as nossas preocupações quanto às perspectivas de crescimento, que parecem estar a abrandar no terceiro trimestre", disse em entrevista à Reuters.
"Portanto, a perspectiva permanece estável, mas as pressões parecem estar a aumentar (vindas) de várias frentes", acrescentou, citando as exigências da Comissão Europeia para que Lisboa implementar mais cortes de despesa.
Marisa Cabrita, Gestora de Activos da Orey Financial, em Lisboa, referiu que, "embora os resultados a 3 meses sejam menos robustos, os alertas da DBRS não parecem ter tido impacto significativo no global da emissão".
O IGCP anunciou que a procura de BT no leilão a três meses excedeu a oferta em 1,96 vezes face a 2,6 vezes no leilão anterior e a colocação a 11 meses registou um rácio bid-to-cover de 2,31 vezes, comparado com 1,7 vezes no leilão anterior.
"O facto de Portugal ter colocado 1.300 ME mostra que o país está a aproveitar as taxas baixas ou negativas para emitir mais dívida e satisfazer a procura, que tem estado dentro dos valores médios que tem registado", afirmou Filipe Silva.
(Escrito por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)