(Texto atualizado com mais informações)
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO, 4 Nov (Reuters) - O dólar chegou a cair mais de 2% contra o real nesta quarta-feira, em meio a uma disputa eleitoral muito mais acirrada do que o esperado nos Estados Unidos, deixando os investidores ansiosos à espera de um resultado claro sobre quem será o próximo presidente da maior economia do mundo.
Às 15:37, o dólar BRBY recuava 1,91%, a 5,6506 reais na venda. Na mínima do dia, a moeda norte-americana caiu 2,03%, a 5,6442 reais, seu menor patamar intradiário desde 27 de outubro.
O contrato mais negociado de dólar futuro DOLc1 tinha queda de 1,87%, a 5,654 reais.
Contra uma cesta das principais moedas =USD , o dólar tinha alta de cerca de 0,3%, cedendo algum terreno depois de ter disparado mais de 1,2% nas negociações overnight.
O peso mexicano MXN= e o rand sul-africano ZAR= , dois dos principais pares do real, se recuperavam, saltando cerca de 1% depois de terem caído mais cedo.
À medida que os votos ainda eram contados, os mercados internacionais continuavam sem certeza sobre quando um resultado definitivo será anunciado.
"Há muita indefinição, não dá para bater o martelo", disse à Reuters Vanei Nagem, responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos. "Parece que os mercados estão se acomodando", com a impressão de que não haverá grandes surpresas independentemente do resultado, acrescentou.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, destacou a performance superior do real em relação a seus pares emergentes, o que atribuiu à falta de confirmação de uma ampla vantagem do democrata Joe Biden contra o atual presidente, Donald Trump --cenário que era projetado por boa parte dos mercados.
Ainda que uma "onda azul", em que os democratas conquistariam a Casa Branca e uma maioria parlamentar, seja vista como um cenário positivo para emergentes, principalmente devido à maior probabilidade de aprovação de mais estímulos fiscais, o discurso de Trump está bem mais alinhado ao do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse Rostagno.
Segundo Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora, "a grande preocupação (em relação às eleições) é com a judicialização do resultado ainda não conhecido, e isto sim poderá estressar muito o ambiente global".
Mesmo sem a contabilização de todos os votos, Trump afirmou que venceu, que "eles" estão tentando roubar a eleição e que irá à Suprema Corte para lutar pela vitória se necessário.
Seu adversário, Joe Biden, declarou estar otimista sobre a vitória e pediu que todos os votos sejam contados, sem importar quanto tempo isso irá levar. isso, "tudo leva a crer que passada a concentração de atenção na eleição americana, ganhará dimensão maior no mundo a 'retomada' da crise da pandemia em seu segundo ciclo e as medidas de 'lockdown' e reações", disse Nehme. "No Brasil aflorarão as discussões políticas em torno da crise fiscal, no primeiro momento."
As dúvidas sobre como o governo financiaria um programa de assistência social sem furar o teto de gastos têm concentrado as atenções dos investidores locais, que também seguem descontentes com o caminhar da agenda de reformas estruturais.
Esse cenário, somado ao patamar extremamente baixo da taxa Selic e a um crescimento econômico fraco, deixam o dólar em alta de cerca de 40% contra o real no ano de 2020.
No lado positivo, analistas citavam como promissora a notícia de que o Senado aprovou na terça-feira a proposta que confere autonomia formal ao Banco Central, de forma a garantir que a instituição possa atuar sem risco de interferência político-partidária. O Bradesco (SA:BBDC4) disse em nota que a autonomia "deve contribuir para reduzir a volatilidade macroeconômica no Brasil".
A proposta segue agora para apreciação da Câmara dos Deputados. última sessão, a moeda norte-americana à vista subiu 0,39%, a 5,7609 reais na venda.
O Banco Central fez nesta sessão leilão de swap tradicional em que vendeu 12 mil contratos para rolagem com vencimento em abril de 2021. (Edição de Camila Moreira e Isabel Versiani)