SÃO PAULO, 12 Jun (Reuters) - O real até pode estender "um pouco" a recente apreciação, mas será difícil para a moeda operar abaixo de 4,50 por dólar, conforme a "profunda" recessão mantém riscos fiscais "elevados" no segundo semestre de 2020, disse Gustavo Rangel, economista-chefe para a América Latina do ING.
Em nota, ele considera ainda que o "grosso" da recente valorização cambial na América Latina provavelmente ficou para trás.
O que ainda joga a favor de apreciação extra para o real, segundo Rangel, é a expectativa em torno da política monetária.
"É provável que fatores domésticos para o câmbio também se tornem mais positivos no Brasil se a reunião de política monetária da próxima semana terminar como esperamos, com uma firme indicação de que o ciclo de corte de juros terá acabado", afirmou Rangel.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nos próximos dias 16 e 17 de junho para decidir sobre o rumo da taxa básica de juros, a Selic.
A estimativa do mercado com base em indicações do próprio BC é de novo corte de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, para mínima recorde de 2,25% ao ano. A dúvida é se o colegiado deixará a porta aberta para mais afrouxamento.
Há quem veja no mercado Selic abaixo de 2% até o fim do ano, mas o ING enxerga o juro se estabilizando em 2,25% num futuro "previsível".
A queda do juro é citada como fator que pressionou o câmbio nos últimos tempos, já que reduziu a taxa paga por títulos de renda fixa e colocou o Brasil em desvantagem em relação a outros emergentes com juros básicos mais elevados.
O dólar caiu 17,73% ante o real entre a máxima recorde de 13 de maio e a mínima recente de 8 de junho. Até 13 de maio, quando bateu 5,9012 reais, a cotação acumulava no ano alta de 47,06%.
"A extensão do rali (do real) foi impressionante e pode refletir o fato de que investidores estavam bastante subalocados na moeda", disse Rangel na nota, lembrando, porém, que o real segue entre as divisas de pior desempenho no ano.
Nesta sexta, o dólar BRBY saltava 2,4%, a 5,0611 reais na venda, em ajuste à forte queda dos mercados de risco na quinta-feira e em meio a um dia volátil nesta sessão por temores de ressurgência do Covid-19 e após o Fed adotar visão sombria a respeito da economia dos EUA. (Por José de Castro)