LISBOA, 17 Ago (Reuters) -
** A Bolsa de Lisboa fechou a perder 1,11 pct com as pares europeias, dados os receios de uma subida das taxas da Fed americana, num dia em que o Tesouro português colocou 1.300 ME de Bilhetes do Tesouro com as 'yields' em queda, indiferentes à pressão nos 'Bonds' após os alertas da agência de rating DBRS.
** Para além dos receios de um aperto da política monetária nos EUA em breve, as acções europeias fecharam em queda, na sequência das fortes descidas das cotações do fabricante de tijolos austríaco Wienerberger <WBSV.VIA, da cervejeira Carlsberg CARLb.CO e da seguradora Admiral ADML.L , cujos resultados e/ou perspectivas desapontaram.
O índice pan-europeu STOXX 600 .STOXX , que tinha tocado um máximo de sete semanas há três dias atrás, caiu 0,79 pct. O STOXX 600 desceu cerca de 7 pct desde o início de 2016.
As principais bolsas europeias encerraram a sessão com os índices a perderem entre 0,5 pct em Londres .FTSE e 1,58 pct em Milão .FTMIB .
** A praça accionista lisboeta fechou com o índice PSI20 .PSI20 a cair 1,11 pct, castigada pelas quedas de 2,17 pct da Jerónimo Martins JMT.LS , 2,05 pct da EDP-Energias de Portugal EDP.LS , 1,87 pct da EDP Renováveis (LS:EDPR) EDP.LS , 2,67 pct do Millennium bcp BCP.LS e 1,57 pct dos CTT CTT.LS .
** Pela positiva, a Galp Energia GALP.LS fechou a subir 0,53 pct e a Sonae YSO.LS a ganhar 0,45 pct.
Os futuros do barril de Brent LCOc1 estão a subir 0,81 pct para 49,63 dólares e o de Light (SA:LIGT3) Crude CLc1 a subirem 0,21 pct para 46,68 dólares.
A Sonae apresenta resultados a 18 Agosto e, segundo analistas, o seu lucro terá afundado 46 pct para 52,8 milhões de euros no primeiro semestre de 2016, apesar da subida das vendas, castigado pela forte contracção da margem ao aplicar descontos, e dificuldades nas vendas de vestuário sob a insígnia MO. Em Wall Street, o índice Dow Jones .DJI segue a descer 0,42 pct, com os investidores a aguardarem a divulgação das minutas da reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed) realizada em Julho.
A Fed manteve as taxas de juro inalteradas no mês passado, mas disse que os riscos de curto prazo para a economia decresceram, deixando a porta aberta para um possível aumento das taxas de juro este ano. investidores vão analisar estas minutas, que serão divulgada às 1800 TMG, procurando sinais sobre quando a Fed poderá aumentar as taxas, à luz dos comentários 'hawkish' do Presidente da Fed de Nova York William Dudley.
Dudley, membro votante permanente e um aliado próximo da Presidente da Fed Janet Yellen, disse ontem que um aumento da taxa tão cedo quanto em Setembro é uma possibilidade dada evidência de ganhos salariais e um mercado de trabalho apertado. COLOCA 1.300 ME BTs
** Portugal colocou 1.300 milhões de euros (ME) de Bilhetes do Tesouro (BT) a três e 11 meses, bem acima do previsto, com sólida procura que levou as taxas a voltarem a cair, incólumes ao disparo das 'yields' de longo prazo após a DBRS ter alertado para o fraco crescimento económico e a elevada dívida.
O IGCP-Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública anunciou que colocou 400 ME de BT a três meses e 900 ME a 11 meses. O montante indicativo global situava-se entre 750 e 1.000 ME.
No prazo mais curto, a taxa média ponderada (TMP) fixou em -0,108 pct, contra 0,075 pct no anterior leilão realizado em 15 de Junho.
Na maturidade a 11 meses, a TMP situou-se nos 0,007 pct, face aos 0,038 pct da colocação de BT a 1 ano efectuada a 20 de Julho.
Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa, no Porto, referiu que "as taxas saíram aos níveis do secundário e desceram versus os últimos leilões comparáveis", frisando: "acabou por sair em linha com as baixas taxas que temos na curva da dívida soberana europeia e Portugal continua a beneficiar com isso".
"O alerta da DBRS é mais um dos que eles fizeram, mas para já não passa disso mesmo e acabou por não ter nenhum efeito negativo (nos leilões de BTs)", adiantou Filipe Silva, lembrando que Portugal continua a conseguir ir diminuindo o custo médio da sua dívida.
** YIELDS BONDS SOBEM
A descida das taxas no leilão de BTs aconteceu, apesar das 'yields' dos 'bonds' portugueses a 10 anos PT10YT=TWEB estarem hoje a subir 10 basis points (bp) para o máximo em duas semanas nos 2,97 pct, após o disparo de 15 bp ontem, com o alerta da DBRS quanto ao fraco crescimento e alta dívida pública e empresarial do país.
"É um mercado diferente para títulos de longo prazo (...) e eu não 'leria' muito quanto a este aumento dos rendimentos dos Bonds para dizer que é uma tendência, ainda que as pessoas estejam a falar de um possível 'downgrade'", disse Orlando Green, estrategista de dívida do Credit Agricole (PA:CAGR), em Londres.
As pressões sob a credibilidade de Portugal estão a aumentar pois a economia está a debater-se com um baixo crescimento para conter os elevedos níveis de dívida pública e das empresas, quando há tensões no sector bancário, disse ontem o director de ratings soberanos da agência de crédito DBRS.
A classificação de 'grau de investimento' atribuída pela DBRS, BBB (low), tem sido um suporte vital para Portugal, permitindo que os seus títulos de dívida soberana continuem a fazer parte do programa de compras do Banco Central Europeu (BCE) e como colaterais elegíveis para o financiamento bancário ilimitada e agora funding grátis.
A avaliação, cuja próxima revisão ocorrerá em 21 de outubro, tem uma perspectiva "estável", dando a Lisboa algum espaço para respirar, mas Fergus McCormick disse à Reuters que o quadro se está a deteriorar.
"A divulgação do PIB do segundo trimestre na sexta-feira (que apresentou um crescimento em cadeia de apenas 0,2 pct) aumentou as nossas preocupações quanto às perspectivas de crescimento, que parecem estar a abrandar no terceiro trimestre", disse em entrevista à Reuters.
"Portanto, a perspectiva permanece estável, mas as pressões parecem estar a aumentar (vindas) de várias frentes", acrescentou, citando as exigências da Comissão Europeia para que Lisboa implementar mais cortes de despesa.
(Por Sérgio Gonçalves)