(Texto atualizado com mais informações e comentários de analistas)
Por José de Castro
SÃO PAULO, 2 Abr (Reuters) - O dólar engatou nesta terça-feira a quarta queda consecutiva frente ao real, afastando-se mais dos picos em seis meses alcançados na semana passada, conforme investidores reagiram a expectativas de ingressos de recursos, mas sem tirarem atenção do noticiário envolvendo a reforma da Previdência.
O dólar negociado no mercado interbancário BRBY fechou em queda de 0,50 por cento, a 3,8569 reais na venda. Ao longo do dia, a cotação oscilou entre 3,8490 reais (-0,70 por cento) e 3,8800 reais (+0,10 por cento).
Na semana passada, o dólar chegou a superar os 4 reais durante os negócios, antes de terminar a 3,9545 reais, maior patamar desde outubro do ano passado.
Desde então, a moeda norte-americana registrou quatro quedas consecutivas, acumulando desvalorização de 2,47 por cento. A divisa, porém, ainda está 5,41 por cento acima da mínima deste ano (de 3,6588 reais, marcada em 31 de janeiro), sinal de que uma parte importante do prêmio de risco acumulado com o aumento da incerteza com a Previdência prossegue.
No mercado futuro da B3, a referência do dólar DOLc1 tinha alta de 0,12 por cento nesta terça-feira, a 3,8640 reais.
A aparente divergência entre as cotações nos mercados à vista e futuro está ligada ao descasamento entre horários de fechamento de ambos e tem sido mais notável desde a semana passada, quando por vezes novas notícias relacionadas à reforma previdenciária vieram à tona após o término das operações de câmbio no mercado spot.
O dólar interbancário tem operações finalizadas às 17h (horário de Brasília), enquanto o último negócio no mercado futuro ocorre até 18h.
"Mas hoje o dólar spot ficou 'pesado' por causa das notícias sobre fluxo", disse um operador de tesouraria de um banco paulista.
A JBS JBSS3.SA informou nesta terça-feira que precificou 1 bilhão de dólares em bônus com vencimento em 2029, com taxa de 6,5 por cento, pela JBS USA Lux S.A., JBS USA Finance, Inc e JBS USA Food Company, subsidiárias integrais da companhia. defesa da reforma da Previdência expressada nesta terça-feira por autoridades do governo, entre elas o presidente da República, Jair Bolsonaro, também ajudou a estimular venda de dólares.
As atenções do mercado se voltam agora para a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. A CCJ é a primeira parada do texto que muda as regras das aposentadorias, visto como crucial para a retomada da sustentabilidade das contas públicas do país.
Apesar do peso dos eventos internos sobre o preço do dólar, analistas ponderam que o mercado de câmbio doméstico segue bastante influenciado pelos eventos externos. Mais recentemente, uma série de moedas emergentes sofreu com o aumento da aversão a risco, diante dos receios de enfraquecimento adicional da economia global.
Em estudo, o Goldman Sachs (NYSE:GS) coloca o real entre as moedas mais afetadas pelos ruídos externos, junto com as divisas da África do Sul ZAR= , Turquia TRY= , México MXN= e Rússia RUB= . O Goldman estima dólar de 3,60 reais num horizonte de seis meses. (Edição Alberto Alerigi Jr.)