Banqueiros Portugal querem medidas para contrair recessão, mitigar malparado

Publicado 07.04.2020, 11:55
Atualizado 07.04.2020, 12:00
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BCP
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Por Sergio Goncalves

LISBOA, 7 Abril (Reuters) - O surto do coronavírus vai provocar uma recessão bastante severa em Portugal, tornando crítico que o Governo e a União Europeia tomem medidas profundas para relançar a economia e mitigar o impacto adverso no crédito malparado, disse o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).

Os 'non performing loans' (NPL), tradicionalmente um Calcanhar de Aquiles da banca portuguesa, caíram para 17,2 mil milhões de euros (ME) em Dezembro de 2019 contra o 'pico' histórico de 50.000 ME em Junho de 2016 - quando dispararam no rescaldo da recessão e da crise da dívida soberana em 2010-13.

Mas, apesar do rácio de NPL ter descido para 6,1% do crédito total em Dezembro último versus 17,9% em meados de 2016, é ainda demasiado alto pois equivale a cerca do dobro da média europeia.

Fernando Faria de Oliveira, presidente da APB, disse que, "sendo difícil antecipar a dimensão das consequências da pandemia, será prematuro vaticinar sobre o que poderá acontecer em termos de níveis de NPL", mas uma coisa é certa: "quando se verifica uma recessão económica, a banca é sempre afectada".

"É já amplamente reconhecido que teremos uma recessão da economia, que será provavelmente bastante severa", disse Faria de Oliveira à Reuters.

Por isso, "é fundamental adoptar medidas que permitam mitigar os efeitos desta situação de saúde pública sobre a capacidade de empresas e famílias continuarem a conseguir garantir o cumprimento das suas responsabilidades" de crédito.

O Banco de Portugal (BP) prevê que a economia portuguesa tenha uma forte recessão entre 3,7% e 5,7% em 2020, face ao crescimento de 2,2% em 2019, dado que o surto do coronavírus levará à queda do consumo privado e do investimento empresarial, e ao colapso das exportações. que a "resposta da União Europeia (UE) será absolutamente critica para combater esta pandemia, no curto prazo, e para relançar as economias de seguida".

"A capacidade de mitigar os impactos desta crise, que será profunda, e de termos uma recuperação mais rápida, será tanto maior, quanto maior for a acção e a amplitude e profundidade das medidas adoptadas pelas autoridades, em especial europeias", disse Faria de Oliveira.

"Espera-se uma acção muito mais profunda, mesmo radical, da UE", disse, urgindo o combate à crise para evitar "sérios danos nas empresas e um desemprego elevado".

MÁXIMO SUPORTE

Afirmou que "o sector bancário nacional, em articulação com as autoridades, está absolutamente empenhado em dar o seu máximo apoio à economia portuguesa", desde que não ponha em causa a estabilidade financeira.

Esse apoio já passa por moratórias e concessão de financiamento, "em especial às empresas e sectores de actividade mais afectados pela actual situação, que permita preservar a sua capacidade produtiva e garantir uma recuperação mais rápida".

Em 26 de Março, o Governo aprovou uma moratória de 6 meses para o pagamento de prestações de crédito das famílias e das empresas, e o Estado já deu garantias a linhas de crédito de 3 mil ME para aliviar a tesouraria das empresas, tendo na calha mais 10 mil ME de novas linhas. de Oliveira afirmou que os bancos portugueses agora "estarão mais fortes para enfrentar choques adversos", mas já tinham de enfrentar os desafios da rentabilidade, novo modelo de negócio, concorrência de novos 'players', recuperação da reputação, "a que se junta agora esta crise".

O rácio 'common equity' Tier 1 dos bancos portugueses fixou-se em 14,1% em 2019 contra 7,8% em 2011.

"Os bancos estão hoje mais capitalizados...e com melhores níveis de rentabilidade, ainda que a rentabilidade permaneça abaixo do custo de capital", disse, referindo que "só um sector rentável, capaz de gerar retorno para o accionista, consegue atrair capital, condição essencial para que os bancos possam operar".

Lembrou que "as entidades de supervisão têm recomendado que os bancos preservem ao máximo a robustez do seu capital, evitando, entre outros, o pagamento de dividendos".

"Esta é, naturalmente, uma decisão que compete a cada banco mas temos vindo a assistir, tanto na Europa como em Portugal, ao anúncio de muitos bancos que não irão distribuir dividendos, até mesmo aqueles que já tinham anunciado que iriam fazê-lo", disse.

O maior banco privado português Millennium bcp BCP.LS já anunciou a suspensão do seu dividendo. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony)

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