Por Sergio Goncalves
LISBOA, 14 Out (Reuters) - O 'board' do BPI BBPI.LS considera a Oferta Pública de Aquisição (OPA) do Caixabank CABK.MC oportuna e amigável, mas avalia o banco português em 1,38 euros por acção, ou seja 22 pct acima do que oferece o banco espanhol.
No passado dia 21 de Setembro, o Caixabank aumentou a contrapartida oferecida nesta OPA, que tinha sido lançada em 18 de Abril, para 1,134 euros por acção dos iniciais 1,113 euros, após o regulador do mercado português CMVM ter exigido que o 'bid' fosse obrigatório, dada a 'desblindagem' dos Estatutos.
Nesse mesmo dia, a Assembleia Geral do BPI tinha aprovado o fim do limite de 20 pct aos direitos de voto, abrindo a porta ao sucesso do 'bid' do Caixabank, com a angolana Isabel dos Santos a enterrar o 'machado de guerra' e a abster-se. votação foi ao encontro da proposta do 'board' que o BPI vendesse 2 pct do Banco de Fomento Angola (BFA) à telecom angolana Unitel, que passaria a controlar 51 pct do BFA, mas em troca de Isabel dos Santos tinha de viabilizar o fim daquele limite de votos, que era condição 'sine qua non' do 'bid'.
Em comunicado, o BPI reiterou agora que "o Conselho de Administração entende que a Oferta do Caixabank é oportuna, na medida em que pode reforçar a capacidade do BPI para enfrentar os desafios e oportunidades que se colocam ao sector bancário".
Entre estes desafios estão "a pressão significativa sobre as fontes de receitas, crescentes exigências de capital, aumento dos custos regulatórios, transformação digital e consolidação".
"O Conselho de Administração considera a Oferta amigável, por provir de uma instituição financeira de grande credibilidade, que é accionista do BPI desde 1995 e que, nessa qualidade, manteve desde essa data um apoio permanente à estratégia de crescimento e afirmação do Grupo BPI", disse.
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O 'board' "entende que, no momento actual, a determinação de um preço para o BPI é particularmente difícil, tendo em conta alguns factores que não tem possibilidade de quantificar", mas avalia a soma das partes em 1,38 euros por acção.
Explicou que, caso se considerasse a cotação no último dia antes de 18 de Abril, a última semana, o último mês ou os últimos três meses, "o preço proposto pelo Oferente de 1,134 euros, relativamente às cotações médias do BPI, oscila entre um desconto de 10 pct e um prémio de 1 pct".
Tal "compara com prémios entre 15 pct e 19 pct nas transacções precedentes no sector bancário europeu".
"Os descontos implícitos na presente oferta afastam-se significativamente dos prémios das transacções no sector bancário europeu, numa medida que oscila entre menos 14 pontos percentuais (pp) e menos 26 pp", realçou.
"Se o preço da Oferta reflectisse os prémios pagos em transacções precedentes no sector bancário europeu (...) o mencionado Preço da Oferta atingiria 1,404 euros, 1,427 euros, 1,463 euros ou 1,289 euros, consoante os prémios fossem aplicados sobre a cotação média das acções do BPI dos últimos dia, semana, mês ou 3 meses".
As acções do BPI fecharam a subir 0,18 pct para 1,129 euros.
Isabel dos Santos, a filha do presidente de Angola que tem 18,6 pct do BPI, mantinha desde há muito tempo um 'braço de ferro' com o Caixabank - maior accionista com cerca de 45 pct - e, até aqui, tinha travado sempre as investidas passadas do banco espanhol para controlar o banco português.
A 10 de Outubro, a maior telecom angolana Unitel acordou comprar 2 pct do rentável BFA ao BPI e assumir o controlo do banco angolano, permitindo ao banco português cumprir a exigência do Banco Central Europeu (BCE) que reduza a exposição excessiva a Angola.
A operação está dependente da Autorização do Banco Nacional de Angola (BNA) quanto ao aumento da participação qualificada já detida pela Unitel no BFA e autorização das operações de capitais necessárias para o pagamento ao Banco BPI e transferência para Portugal do preço acordado de 28 ME.
O BNA também terá de autorizar a alteração dos estatutos do BFA e a Assembleia Geral do Banco BPI também terá de dar o seu 'OK'.
Desde Dezembro de 2014, o BCE vem exigindo ao BPI que reduza a sobre-exposição do banco português aos riscos de Angola, país que as autoridades europeias deixaram de considerar ter a mesma equivalência de supervisão.
Tal implicou passar a ponderar aquele risco a 100 pct, quando antes o BPI tinha apenas de provisionar entre zero pct e 20 pct da exposição.
O BCE tinha dado inicialmente ao BPI até 10 de Abril para reduzir a exposição a Angola, sob pena de ter de pagar uma pesada multa de 162 mil euros diários.
Mas, em finais de Junho alargou aquele prazo em quatro meses, que será contado sobre a data de conclusão da aquisição do BPI, no pressuposto de que tal conclusão ocorrerá, o mais tardar, no final de Outubro de 2016.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)