Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Out (Reuters) - A competição das 'Big Tech' com os bancos tradicionais europeus "é uma questão de tempo" e a banca tem de ser flexível e rápida a agir, sob pena de perder a relação que construiu com os seus clientes, disse o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
Adiantou que "as Fin Tech e Big Tech têm vantagens comparativas em relação aos bancos na utilização de big data, inteligência artificial, machine learning e utilização de dados de redes sociais para análises de crédito e avaliação de risco".
"Apesar de as 'big tech' estarem de momento limitadas à Ásia-Pacífico e América do Norte, não nos podemos esquecer que têm vocação global e que a extensão ao mercado europeu é uma questão de tempo", afirmou numa conferência.
Em Dezembro de 2018, a Google (NASDAQ:GOOGL) e a Revolut obtiveram licenças bancárias na Lituânia, que faz parte da União Europeia e da Zona Euro.
O também membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) frisou: "o modelo de negócio bancário como o conhecemos sofrerá inevitavelmente alterações profundas".
"Vai haver um ajustamento do lado dos bancos. Os bancos terão de ser flexíveis e rápidos na antecipação das necessidades dos clientes e de evolução do mercado para não perderem a relação directa que construíram com os seus clientes", disse.
Quanto à supervisão realçou que também "é necessário adoptar novas ferramentas adequadas à nova realidade", frisando:
"não são só os bancos que têm de incorporar a tecnologia, nós (os supervisores) também temos. É um desafio duplo".
ESCALA E TECNOLOGIA
Carlos Costa afirmou que até agora estas entidades não entraram seriamente na captação de depósitos, "todavia têm uma vantagem grande pois a sua escala e tecnologia lhes permite coligir grandes quantidades de dados a um custo quase nulo".
"Isso dá origem àquilo a que o BIS cunhou de ‘monopólios digitais' ou ‘data-opolies'", disse.
Através de efeitos de rede, "isso poderá gerar dinâmicas de ‘winner-takes-all' onde o efeito de subsidiação cruzada dos vários negócios onde as BigTech operam lhes permite operar com margens baixas e ganhar quota de mercado".
"Além disso, podem também desmontar os modelos bancários tradicionais e reduzir as suas economias de escala e escopo".
DESAFIOS ESTABILIDADE
Adiantou que a "extensão da cobertura geográfica, que é promovida pela digitalização e inter-acção entre os diferentes actores, coloca desafios à salvaguarda da estabilidade financeira, incluindo desafios à política macro-prudencial que importa acautelar".
"Se o crédito passar a ser concedido por uma plataforma exterior a um dado país, a possibilidade de acompanhar uma bolha de crédito é muito menor do que a que temos hoje", referiu.
Realçou que "as autoridades devem assegurar a neutralidade da regulação em relação à tecnologia, isto é a aplicação do princípio que para mesma actividade, o mesmo risco tem de ter as mesmas regras, a mesma regulação e a mesma supervisão".
"Não pode haver, de forma nenhuma, vantagens regulatórias ou prudenciais resultantes de uma actividade ser conduzida por uma entidade não bancária ou ser registada num dado território".
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)