(Acrescenta citações do CEO e CFO)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 2 Mar (Reuters) - A EDP-Energias de Portugal EDP.LS teve um lucro líquido consolidado superior ao previsto de 961 milhões de euros (ME) em 2016, subindo inesperadamente 5 pct face a 2015, quando encaixou fortes ganhos 'one off', com boa performance operacional da área liberalizada na Ibéria e aumento de eficiência, anunciou a EDP.
O maior grupo industrial de Portugal, que controla a EDP Renováveis (EDPR) EDPR.LS e a EDP-Energias do Brasil, adiantou que o EBITDA - Earnings before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization - caiu 4 pct para 3.759 ME e a margem bruta subiu 5 pct para 5.738 ME.
Uma Poll de sete analistas contactados pela Reuters previa que o lucro líquido da EDP deslizasse 1,5 pct para uma média de 899 ME em 2016 e que o EBITDA descesse 5,7 pct para 3.702 ME. EDP adiantou que vai propôr a distribuição de um dividendo de 19 cêntimos de euros por acção relativos a 2016.
"2016 foi um bom ano para a EDP essencialmente suportado pelo crescimento dos resultados operacionais (EBITDA)", disse o CEO António Mexia, destacando a boa performance da Península Ibérica e, apesar do aumento da capacidade instalada do grupo, um aumento da eficiência.
Cerca de 60 pct dos resultados da EDP são obtidos no exterior de Portugal.
"Foi um ano de entrega dos compromissos ao mercado. O resultado líquido, mais uma vez, ficou acima do 'guidance'", adiantou o Chief Executive Officer (CEO), recordando que no início de 2016 a meta anual foi fixada em 900 ME e em Julho subiu para 950 ME.
Em 2016, a queda do EBITDA foi reflexo do menor contributo de efeitos não recorrentes, já que tinha tido ganhos 'one off' da ordem dos 441 ME em 2015, enquanto em 2016 apenas teve 61 ME.
"Excluindo estes efeitos, o EBITDA subiu 6 pct, para 3.698 ME em 2016, impulsionado pela expansão do portfólio (capacidade instalada e número de clientes), por uma melhoria na eficiência e por condições atmosféricas mais favoráveis, particularmente no primeiro semestre", afirmou a EDP.
A capacidade instalada do Grupo EDP subiu 4 pct face a 2015, para 25,2 GW em 2016, suportada por 380 MW de nova capacidade hídrica em Portugal, mais 770MW de capacidade eólica sobretudo nos EUA, México e Brasil; e encerramento da central a carvão de Soto 2, em Espanha (239MW) em Janeiro.
IBÉRIA FORTE
No mercado Ibérico, "o EBITDA ajustado subiu 9 pct em termos homólogos, impulsionado por nova capacidade em operação, fortes recursos hídricos e volatilidade de preços e melhoria de termos regulatórios na distribuição de electricidade em Espanha".
Os custos operacionais subiram 2 pct face a 2015, para 1.608 ME em 2016, aquém da expansão de portfolio. Por área de negócio, destacou os custos estáveis na Península Ibérica apesar da expansão de portfólio.
A dívida líquida caiu 1.500 ME para 15.900 ME no final de 2016, com a dívida líquida/EBITDA a descer para 4,2 vezes de 4 vezes.
Quanto aos objectivos 2016-2020, o CEO lembrou que no primeiro ano o EBITDA sem extraordinários cresceu seis pct, versus o guidance de 3 pct CAGR médio até aquele ano, tendo o rácio dívida líquida/EBITDA ajustado fixado em 4,0 vezes e a meta é convergir para cerca de 3 vezes.
"A nossa projecção é que a dívida continuará a cair, não damos um número para já (em 2017)", disse o Chief Financial Officer (CFO) Nuno Alves.
A subsidiária EDPR já tinha divulgado que o seu lucro líquido tinha caído 66 pct para 56 ME em 2016, pior do que o previsto pelos analistas, penalizado pelo aumento dos custos financeiros e efeitos não-recorrentes como recursos eólicos abaixo da média e um encaixe no período comparável.
A EDP-Energias do Brasil ENBR3.SA fechou 2016 com um lucro líquido de 666,6 milhões de reais (MR) ou 204 ME, uma queda de 47 pct comparando com 2015, após fortes ganhos 'one off' no ano anterior, enquanto a depreciação do real no ano também penalizou a apropriação de resultados em euros.
E NATURGAS?
António Mexia frisou que, "neste momento, quanto à Naturgas, não há nenhuma operação" de alienação a decorrer, mas frisou: "agora, do ponto de vista de considerar activos - mais, menos, comprar vender - estamos permanentemente a fazer esse exercício".
"Quem não fizer esse exercício, perde. A Portgás (em Portugal) foi classificada como activo para venda no relatório e contas e estamos num processo competitivo", disse.
"No que se refere à Naturgas, não há processo nenhum e não tenho nada a acrescentar. Não há nada previsto na Naturgas, não há nada a decorrer na Naturgas", disse.
No passado dia 17, fontes conhecedoras do assunto disseram à Reuters que, 'no calor' do processo de venda da Redexis, a EDP EDP.LS considera vender a rede de gás da sua unidade espanhola Naturgas se conseguisse um preço atraente, o que a acontecer permitiria reduzir o fardo da dívida.
Uma fonte disse que a EDP já tinha contratado bancos de investimento para analisar e avaliar a Naturgas, que é o segundo operador do mercado de gás de Espanha, com 7.715 quilómetros de rede no País Basco, Astúrias e Cantábria, e quase um milhão de pontos de abastecimento.
A Macquarie Research tem uma avaliação de 1.800 milhões de euros (ME) de Entreprise Value da Naturgas. O HSBC referiu, numa nota de research há mês e meio, que tem uma avaliação EV de 1.400 ME para a Naturgas, referindo que a venda "de activos regulados só tem racional estratégico se o 'preço de saída' é elevado".
Alguma imprensa espanhola avançou com um potencial preço de venda de 2.000 ME.
Em 2015, a Morgan Stanley (NYSE:MS) vendeu a Madrileña Red de Gas a um fundo de pensões holandês com múltiplos de 13 vezes o EBITDA, e agora Goldman Sachs espera ofertas vinculativas para Redexis, numa operação que, de acordo com a imprensa espanhola, poderia chegar a 2.500 milhões de euros (ME). (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)