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Por Sergio Goncalves
LISBOA, 6 Jun (Reuters) - A Euronext Lisbon está confiante que a TAP-Air Portugal avançará para um Initial Public Ofering (IPO) dentro de "não muito tempo", estando a companhia de bandeira nacional a dar os passos necessários para tal, disse Filipa Franco, 'Head of Listings' daquela bolsa.
Adiantou que a TAP "já está a fazer um trabalho preparatório para o IPO através de comunicar mais ao mercado, apresentação de resultados, que é pouco habitual numa empresa de capital privado, e o empréstimo obrigacionista em curso" de 50 ME a 4 anos para investidores de retalho e será cotado na Euronext a 24 de Junho.
Explicou que "um empréstimo obrigacionista pode ser uma forma das empresas iniciarem o seu percurso em mercado pois é menos exigente em termos de comunicação, reporting e requisitos".
"Espero que este (empréstimo obrigacionista) seja o ensaio da TAP para que daqui a algum tempo, não muito, possa concretizar o IPO", disse à Reuters Filipa Franco, que tem tido "contacto regular com a TAP".
"A empresa está a fazer esse caminho efectivamente, para além de já ter anunciado a vontade de se preparar para o IPO", adiantou.
A TAP, que foi privatizada em Junho de 2015, é detida em 50% pelo Estado português, 45% pelo consórcio privado Atlantic Gateway - liderado pelos empresários brasileiro David Neeleman e português Humberto Pedrosa - e 5% pelos trabalhadores.
Os dirigentes da TAP têm dito que um IPO é uma possibilidade.
MERCADO GLOBAL
Filipa Franco lembrou que, durante a crise recente, as empresas portuguesas que tinham as suas vendas viradas para o mercado doméstico, que colapsou, "tiveram, de repente, de ir para os mercados internacionais".
"Esta tem de ser a perspectiva das empresas também quanto ao capital: buscar novos mercados".
Afirmou que "a base da economia é pequena e isso faz com que as empresas tenham dificuldade em gerar um cash flow suficiente para investirem e crescerem verdadeiramente no mercado mundial pois o país tem pouca capacidade de investimento doméstico".
"A única forma das nossas empresas continuarem portuguesas e conseguirem crescer a nível mundial é ir buscar o capital internacional mas em Bolsa. Se forem buscar o capital internacional numa transacção privada, deixam de ser portuguesas", disse.
"Estou convencida que este é o caminho para que as nossas empresas e a nossa economia possam crescer, e para que tenhamos mais empresas com estatura e estatuto verdadeiramente mundial", concluiu.
FOCA NAS TECH
Filipa Franco realçou que um dos focos da Euronext Lisbon são "as empresas tecnológicas porque há boas empresas de base tecnológica portuguesas, que precisam de capital para crescer" e que, através da cotação em bolsa, poderão "chegar a uma base muito diversificada de investidores internacionais".
"Temos de reconhecer que há cada vez mais capital, quer privado, quer nos mercados, mas as empresas devem vir para a Bolsa e vir mais cedo para se manterem independentes e portuguesas", disse.
"Quanto mais tarde (a empresa) entrar no mercado, significa que vai entrar mais dinheiro privado que vai ter uma interferência e intervenção na gestão", afirmou.
Lembrou o programa pré-IPO 'TechShare' da Euronext globalmente, lançado em 2015, onde participam empresas de oito países, incluíndo Portugal, que visa motivar e preparar as empresas para entrarem no mercado de capitais.
Tal passa por preparar estas empresas do ponto de vista de gestão, através da integração de pessoas externas aos accionistas, a comunicarem com o mercado e a fazerem reporting.
Nas quatro edições da TechShare, em Portugal já participaram cerca de 25 empresas, sendo que na última edição participaram nove, frisando que a quinta começará em Setembro.
"Algumas empresas portuguesas acham que esse caminho só está disponível numa fase mais avançada do seu crescimento", disse.
"Mas, se passarem por sucessivas rondas de capital antes de virem para o mercado, os fundadores vão perdendo influência e controlo, e depois muitas vezes a decisão já não é sua e a intervenção na gestão pode ser mais reduzida", concluiu.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)