Por Sergio Goncalves
LISBOA, 29 Nov (Reuters) - Os bancos portugueses têm uma exposição muito concentrada em activos como dívida pública, imobiliário e algumas economias em desenvolvimento, que é uma vulnerabilidade que tem de ser endereçada pois gera desconfiança e dificulta futuros aumentos de capital, disse o governador do Banco de Portugal (BP).
O também membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu realçou que houve uma "redução significativa" do elevado stock de activos não produtivos, que, contudo, têm de continuar a ser reduzidos pois "são ainda elevados tanto em termos absolutos como em termos relativos face a outras jurisdições".
"O sector bancário em Portugal apresenta ainda algumas vulnerabilidades: a concentração de exposições a algumas classes de activos, designadamente a dívida pública, ao mercado imobiliário e a algumas economias em desenvolvimento", disse Carlos Costa, numa conferência do Jornal Económico.
"Temos um problema de diversificação de classes de activos (...) Não vale a pena ter ilusões a verdade é que o mercado no contexto post-crise tem tendência a olhar para estes activos com desconfiança", avisou.
Explicou que "estas vulnerabilidades penalizam a rendibilidade e tendem a gerar desconfiança sobre a robustez dos balanços dos bancos, não obstante o facto da valorimetria adoptada respeitar as regras contabilísticas e prudenciais aplicáveis numa lógica de 'going concern'".
"Este risco de desconfiança tende a traduzir-se num menor 'price-to-book-value', numa maior dificuldade para proceder a aumentos de capital e num maior custo de colocação de instrumentos de dívida, nomeadamente os passíveis de absorver perdas", explicou o governador.
Esta situação dificulta o cumprimento dos requisitos mínimos de fundos próprios e passivos elegíveis (MREL) e limita a capacidade para conceder crédito, disse Carlos Costa.
"Por isso, é crucial que os bancos portugueses continuem a cumprir os planos de redução de activos não produtivos que oportunamente submeteram às autoridades de supervisão".
"Em particular, é também crucial que adquiram capacidade para acomodar um eventual agravamento das exigências prudenciais", adiantou o governador.
Assim, "a redução dos ativos não produtivos gerará maior confiança sobre a robustez dos balanços, sobre a rendibilidade e sobre a sustentabilidade das instituições, contribuindo para uma melhoria da sua valorização pelos mercados".
Anteontem, a vice-Governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, disse à Reuters que a banca estava 'on track' para resolver o problema dos 'non performing loans' (NPL) pois está a conseguir reduzi-los sustentadamente a um ritmo significativo de 4 a 5 mil milhões de euros (ME), ou 15 pct do total actual, por semestre. NPLs brutos - o 'calcanhar de Aquiles' da banca portuguesa - em Junho de 2018 caíram para 32,4 mil ME, contra 37 mil ME em Dezembro de 2017 e face ao máximo histórico de 50,5 mil ME em Junho de 2016.
Em Junho de 2018, os NPLs representavam 11,7 pct do total do crédito da totalidade do sistema financeiro português, o que compara com 13,3 pct no final do ano passado e com o pico de 17,9 pct em meados de 2016.
Contudo, em Junho de 2018, o peso dos NPLs no crédito em Portugal ainda se situava muito acima da média de 4,4 pct dos cerca de 120 bancos significativos supervisionados pelo SSM, sendo apenas superado pelos 44,8 pct da Grécia e pelos 29,2 pct de Chipre, embora esteja próximo dos 9,7 pct de Itália
Os maiores bancos portugueses têm operações em países africanos que são ex-colónias como Angola e Moçambique.
(Editado por Patrícia Vicente Rua)