Por Sergio Goncalves
ALCACER DO SAL, 4 Jun (Reuters) - O Grupo Pestana, maior cadeia de hotéis de Portugal, está pronto para receber turistas após implementar as novas regras de segurança, mas só tem confiança no mercado para reabrir agora 10% das 76 unidades no país dado o colapso da procura externa, disse o Chief Executive Officer (CEO) José Teothónio.
O turismo, que já pesa 15% do PIB do país, foi duramente atingido pela pandemia de coronavírus e lockdowns em Portugal e no exterior, que ditou o fim de quase todos os vôos aéreos e fechou a fronteira terrestre com Espanha.
O Governo e os hoteleiros estão a tentar salvar pelo menos parte da crucial época alta de Verão. Mas antes tem de haver alguma normalização das ligações aéreas e terrestres para o regresso dos visitantes estrangeiros, que em 2019 ascenderam a 19 milhões e representaram 70% das 69,8 milhões de dormidas.
"Estamos muito preocupados, mas não estamos desesperados. A nossa máxima agora é ganhar flexibilidade. Por isso, vamos fazer uma experiência, já a partir de amanhã, quando abrirmos 8 unidades - 4 pousadas e 4 hotéis", disse Teothónio à Reuters.
Uma das primeiras a abrir é a luxuosa Pousada D.Afonso II dentro das muralhas do castelo medieval da cidade de Alcácer do Sal, a 90 Km a sul de Lisboa, que recebeu o nome do Rei português que o conquistou aos mouros em 1217.
"Estes são hotéis muito virados para o mercado doméstico e o objectivo é testar o mercado, ver se existe mercado dados os receios da pandemia", disse Teothónio.
Em 1 de julho, o grupo quer ter abertos 20 hotéis ou 25% da capacidade e 2.700 quartos, visando entre Agosto e Setembro abrir mais 1.400 quartos e alcançar metade da sua capacidade.
"Ao longo do Verão, se houver procura, temos capacidade para abrir mais unidades com grande rapidez dada a flexibilidade que temos", disse o CEO do grupo, que tem 8.200 quartos em Portugal.
Mas, "não tem grandes expectativas para este ano" pois os mercados britânico, alemão e espanhol, que juntos garantem 30% das dormidas, são "imprescíndiveis para rentabilizar o turismo em Portugal".
Adiantou que, "se o grupo fechar este ano com um EBITDA - Earnings before Interests, Taxes, Depreciation, Amortization - de zero (euros) é um grande resultado".
"É um resultado mais difícil de alcançar dos que os 180 milhões de euros de EBITDA, que fizemos o ano passado", afirmou.
ANO PERDIDO
Cristina Siza Vieira, presidente executiva da Associação da Hotelaria (AHP) de Portugal, disse à Reuters que "o ano está basicamente perdido". A AHP estima que a taxa de ocupação dos hotéis seja apenas de 30% e que as receitas possam caiam entre 60% e 89%, "que é uma descida gigante, dramática, para muito hotéis".
"O Verão vai ser sobretudo suportado pelo mercado interno, mas este só representa 30% das dormidas em Portugal. Precisamos por os aviões no ar para ter turistas em terra", adiantou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português confirmou ontem à radio britânica BBC a notícia da Reuters que Portugal e o Reino Unido estão a conversar para tentar garantir um corredor aéreo para turistas que permita aos visitantes britânicos evitar uma quarentena de COVID-19 ao voltarem a casa. falta de voos obriga a cadeia Hotéis Real a manter fechado o icónico Grande Villa Itália Hotel em Cascais que, nesta altura, costuma ter uma ocupação de 90% com os estrangeiros a pesarem mais de 93%.
A Hotéis Real fechou 9 dos seus 10 hotéis e vai reabrir dois hotéis no Algarve em meados do mês.
"Estou pessimista relativamente ao Verão e este hotel (Grande Villa Itália Hotel) em particular não vai abrir", disse à Reuters Eurico Almeida, CEO da Hotéis Real.
"Os nossos principais países emissores são Inglaterra, os EUA e o Brasil e não vão ter voos suficientes para conseguirmos uma taxa de ocupação que compense os custos", disse Almeida.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)