LISBOA, 27 Jan (Reuters) - Um 'hacker' português assumiu a responsabilidade pela divulgação de centenas de milhares de documentos, revelando como a multi-milionária angolana e ex-primeira filha Isabel dos Santos construiu o seu vasto império de negócios, disseram os seus advogados esta segunda-feira.
O 'hacker', Rui Pinto, já é conhecido por ter afirmado estar por detrás dos 'Football Leaks' - 70 milhões de documentos expondo transacções de vários clubes de futebol.
Agora, os advogados de Pinto, William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota, revelaram que o seu cliente também está por detrás dos documentos chamados 'Luanda Leaks', obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e divulgados por várias organizações de notícias na semana passada.
Pinto, de 31 anos, já está acusado de 93 crimes por procuradores portugueses, relacionados principalmente a supostos acessos não autorizados a dados, tentativa de extorsão e violação de correspondência. Actualmente, ele aguarda julgamento numa prisão de Lisboa. Os seus advogados disseram que ele agiu apenas no interesse público.
Resta saber se a última revelação irá afectar o caso em andamento contra Pinto. Os seus advogados defenderam-o repetidamente como "denunciante".
Num comunicado enviado à Reuters, os advogados disseram que Pinto entregou um disco rígido "contendo todos os dados relacionados às revelações recentes sobre a fortuna de Isabel dos Santos, a sua família e todos os actores que possam estar envolvidos" à Plataforma de Protecção de Denúncias em África (PPLAAF) no final de 2018.
Os advogados disseram que Pinto permitiu que a PPLAAF, co-fundado pelo próprio Bourdon, usasse os dados "como quisessem". A PPLAAF partilhou depois a informação com o ICIJ.
"Sem as imensas revelações do 'Luanda Leaks', possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais não teriam feito nada", disseram os advogados. "Graças e apenas graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção."
Dos Santos negou repetidamente qualquer irregularidade. "Sempre trabalhei dentro da lei e todas as minhas transacções comerciais foram aprovadas por advogados, bancos, auditores e reguladores", afirmou ela em comunicado na quinta-feira.
Vários dias após as primeiras reportagens dos meios de comunicação sobre os 'Luanda Leaks', os procuradores angolanos nomearam Santos e quatro portugueses suspeitos formais de acusações de má gestão e apropriação indevida de fundos durante o tempo de Santos como presidente da empresa estatal de petróleo Sonangol.
O procurador de justiça de Angola divulgou um documento judicial, a 31 de Dezembro do ano passado, declarando um congelamento dos activos de dos Santos, do seu marido Sindika Dokolo e os bens de Mário Leite da Silva, em Angola.
O documento afirmava que o governo reuniu elementos suficientes para provar que o trio desviou 1,1 mil milhões de dólares em fundos estatais para empresas privadas nas quais eles mantinham participações.
O procurador-geral de Angola, Helder Pitta Groz, disse à emissora portuguesa RTP na sexta-feira que os documentos dos 'Luanda Leaks' revelaram "algumas operações e ligações que não tínhamos a certeza de que estavam a acontecer, e uma ou outra que não conhecíamos".
Texto original em inglês: (Reportagem de Catarina Demony e Victoria Waldersee, Traduzido para português por João Manuel Maurício, Gdansk Newsroom; Editado por Patrícia Vicente Rua em Lisboa)