Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Set (Reuters) - A empresária angolana Isabel dos Santos disse que há consenso entre os accionistas do BPI BBPI.LS e saudou a solução gizada, que fortalecerá o banco português e o Banco de Fomento Angola (BFA), sinalizando que aceitará a proposta para a telecom angolana Unitel comprar dois pct do BFA e assumir o controlo.
Ontem, a Assembleia Geral (AG) do BPI aprovou o fim do limite de 20 pct aos direitos de voto, abrindo a porta ao sucesso do 'bid' do espanhol Caixabank CABK.MC , com a angolana Isabel dos Santos a enterrar o 'machado de guerra' e a abster-se. à noite o 'board' do BPI propôs vender 2 pct do rentável BFA à telecom angolana Unitel, que passaria a controlar 51 pct do BFA, mas em troca a Santoro de Isabel dos Santos tinha de viabilizar o fim do limite de votos no banco português, que era condição 'sine qua non' daquele 'bid'.
"Saúdo a solução encontrada para resolver a situação no BPI, que reflecte o consenso entre os accionistas e mostra o sentido de compromisso e responsabilidade que sempre orientou a atuação da Santoro", referiu Isabel dos Santos, em declarações enviadas por email à Reuters.
A proposta do 'board' visa cumprir a exigência do Banco Central Europeu (BCE) que o BPI reduza a sua exposição excessiva ao BFA, através da redução da posição do BPI para 49 pct, mas também de um novo acordo parassocial em que deixa de dominar o banco angolano.
"Estão reunidas as condições para que ambas as instituições, o BPI e o BFA, consolidem a sua posição nos mercados português e angolano, contribuindo para o crescimento das economias de ambos os países", acrescentou a empresária, que é filha do Presidente da Angola.
Isabel dos Santos, que tem 18,6 pct do BPI, mantinha desde há muito tempo um 'braço de ferro' com o Caixabank - maior accionista com cerca de 45 pct - e travou sempre as investidas passadas do banco espanhol para controlar o banco português.
Em Junho de 2015, Isabel dos Santos já tinha beneficiado do limite dos votos para bloquear uma proposta de desblindagem e derrotar um 'bid' do Caixabank, tendo depois, em Fevereiro de 2016, travado uma proposta de cisão dos activos africanos.
"Desde o início, conduzimos este processo com idoneidade e transparência, de forma a responder aos interesses de todas as partes envolvidas", disse a empresária angolana.
Ontem, o 'chairman' do BPI, Artur Santos Silva, referiu que "houve indicações claríssimas do BCE, no final da semana passada, para que este assunto - da desblindagem - fosse resolvido nesta AG porque, se isso não acontecesse, havia consequências gravísssimas".
O Banco Central Europeu (BCE), desde Dezembro de 2014, vem exigindo ao BPI que reduza a sobre-exposição do banco português aos riscos de Angola, país que as autoridades europeias deixaram de considerar ter a mesma equivalência de supervisão.
O BCE tinha dado inicialmente ao BPI até 10 de Abril para reduzir a exposição, sob pena de ter de pagar uma pesada multa de 162 mil euros diários.
Mas, em finais de Junho, alargou aquele prazo em quatro meses, que será contado sobre a data de conclusão da aquisição do BPI, no pressuposto de que tal conclusão ocorrerá, o mais tardar, no final de Outubro de 2016.
Acerca da proposta que o 'board' do BPI à Unitel, Artur Santos Silva disse ontem que, face à posição do BCE, o banco português "não tinha nenhuma alternativa que não fosse desconsolidar o BFA: reduzir a sua participação no capital e alterar o acordo entre accionistas".
"Estou confiante que a proposta (do board feita à Unitel) seja aceite", disse ontem o 'chairman'.
As acções do BPI sobem 3,39 pct para 1,128 euros, ajustando à subida de preço da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank para 1,134 euros.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)