Por Sergio Goncalves
LISBOA, 8 Dez (Reuters) - O Governo minoritário socialista tem de ter "coragem" e exigir aos credores internacionais uma renegociação da elevada dívida pública portuguesa, se quiser que a retoma económica seja sustentável, disse a líder do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins.
A coordenadora do BE recordou que actualmente "todas as instituições internacionais reconhecem que Portugal, por ter feito um caminho diferente daquele que elas impuseram, conseguiu bons resultados".
"Portugal tem que usar isso a seu favor e exigir que essas instituições assumam as suas responsabilidades e façam a renegociação da dívida pública", disse a líder do BE, numa acção do seu partido televisionada pela SIC Notícias.
"A 'troika' tem que tirar as consequências do que fez e o Governo português, para defender uma recuperação económica sustentável do país, tem que ter a coragem de colocar a renegociação da dívida pública em cima da mesa e este é o momento político para o fazer", acrescentou Catarina Martins.
O Governo minoritário socialista é suportado no Parlamento pelo BE, pelo Partido Comunista Português (PCP) e pelo partido Os Verdes, que são 'euro-cépticos'.
O Executivo liderado pelo primeiro-ministro António Costa tem recusado qualquer reestruturação unilateral da dívida e realçado que Portugal tem aproveitado as historicamente baixas taxas de juro para trocar dívida, alongando a sua maturidade e reduzindo os custos de financiamento do país.
O Governo estima terminar 2017 com o rácio de dívida pública a descer 4 pontos percentuais para 126 pct do PIB, visando os 123,5 pct em 2018 e menos de 120 pct em 2019.
Hoje, a 'yield' das Obrigações do Tesouro de Portugal a 10 anos PT10YT=TWEB deslizou um basis point (bp) para 1,82 pct, após o Fundo Monetário Internacional (FMI) se mostrar mais optimista quanto à economia portuguesa, apesar das taxas dos 'bonds' europeus estarem a subir com os progressos no Brexit.
Esta 'yield' a 10 anos compara com 4,25 pct em Fevereiro de 2017.
Catarina Martins referiu que, apesar do BE defender uma renegociação mais ambiciosa, que passaria por cortes nos montantes de dívida, durante muito tempo, trabalhou numa proposta mais tímida com o Partido Socialista (PS).
Afirmou que esta proposta permitia, mexendo em prazos e nos juros, descer a divida pública para 90 pct do PIB e com isso aliviar o país para investir no que faz falta - na Educação, na Saúde, no interior do país, na criação de emprego, na recuperação da economia.
Ontem, o FMI reviu em alta as previsões para o crescimento da economia portuguesa e disse que as metas do Governo para o défice orçamental serão alcançadas "confortavelmente".
Os técnicos do FMI alinharam as suas previsões de crescimento do PIB com as do Governo, esperando agora que a economia acelere 2,6 pct em 2017, face à estimativa anterior de 2,5 pct, e que cresça 2,2 pct em 2018, quando antes previa 2 pct.
O FMI agora concorda com o Governo e vê o défice público a fixar-se em 1,1 pct do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 e a cair para 1,1 pct em 2018.
(Por Sérgio Gonçalves)